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Várias gerações cantam e dançam no Rancho do Bairro de Santarém

Várias gerações cantam e dançam no Rancho do Bairro de Santarém

Grupo etnográfico fundado por Celestino Graça encerrou comemorações dos 60 anos com um espectáculo no Teatro Sá da Bandeira

É a paixão pelo folclore que os une. Gente de todas as idades, muitos deles familiares, dão vida a uma colectividade sediada nos arredores de Santarém que faz da preservação das tradições populares o seu objectivo primordial.

Todas as sextas-feiras, pela hora de jantar, já António Perdiz, 16 anos, está vestido e a contar os minutos para o ensaio semanal do Rancho Folclórico do Bairro de Santarém, Grainho e Fontainhas, que começa às 22h00. O jovem anda no rancho desde os cinco anos depois de ter visto os ensaios da sua irmã mais velha. António faz parte de uma família de dançarinos. O seu avô integrou o Rancho do Bairro, assim como os seus pais e a sua irmã. António Perdiz foi um dos participantes do espectáculo de encerramento das comemorações dos 60 anos do grupo que decorreu na noite de sexta-feira, 4 de Dezembro, no Teatro Sá da Bandeira, em Santarém.O estudante tem dois sonhos. Ser engenheiro informático e ensaiador, se possível, do Rancho do Bairro. “Não quero tirar o lugar a ninguém mas um dia mais tarde gostava de ensaiar o meu rancho. Desde que ouço música de rancho fico logo diferente. Mexe muito comigo, de uma maneira que não consigo explicar”, confessa a O MIRANTE. Os amigos estranham quando diz que anda no rancho mas ele responde-lhes para irem assistir a um espectáculo ou a um ensaio para perceberem o que é música e o que é dançar. “Eles pensam que o rancho é coisa de velhos mas não é. O rancho é a nossa tradição e a nossa cultura e são coisas que têm que ser preservadas”, afirma.O entusiasmo é tão grande que António tenta convencer os amigos para integrarem o rancho. Foi o que aconteceu com Maria João Graça, 15 anos. Andava com o jovem na escola e ele sempre insistiu para que fosse a um ensaio. Como uma das suas grandes paixões é a dança, Maria João aceitou o convite e agora pretende continuar a dançar e conciliar com a sua profissão no futuro, que pretende que seja na área da arquitectura.O Rancho do Bairro comemora este ano 60 anos de actividade. Não tem um dia fixo para celebrar uma vez que começou durante a altura da apanha da azeitona em 1955. Foi fundado por Celestino Graça, que nasceu no Grainho, sendo este o primeiro rancho de Santarém. A primeira actuação foi em Junho de 1956 durante a Feira do Ribatejo, onde actuaram durante 15 anos consecutivos. O grupo teve um interregno entre 1970 e 1979 retomando a sua actividade em 1980. Actualmente conta com 45 elementos, entre os 15 e os 66 anos. Para assinalar as seis décadas de actividade realizaram uma série de iniciativas. Actuaram na Feira da Agricultura, em Junho, e organizaram uma exposição intitulada “60 Anos 60 Imagens” que esteve patente no Convento de São Francisco, entre outras actividades.No Rancho do Bairro há várias gerações da mesma família, desde os avós aos netos. Além disso também os seus elementos são das mais variadas profissões, incluindo licenciados. Odete Cotrim, 66 anos, é o elemento mais velho do rancho. Começou com seis anos porque os seus pais e irmãos também pertenciam ao grupo. Como o Rancho do Bairro não tinha grupo infantil foi para o Grupo Infantil de Santarém. No entanto, quando já tinha idade suficiente regressou ao rancho do Bairro. “É o rancho da minha terra, nunca quis ir para outro. Foi aqui que nasci e cresci. O rancho está-me no sangue desde criança. Adoro este grupo porque somos como uma família e esta é a forma que temos de preservar a cultura do nosso povo e as suas tradições”, afirma.Foi dançarina mas há uns anos trocou a dança pela música. Agora é instrumentista e toca o pífaro de nove buracos, um instrumento raro e que Odete sabe tocar desde os seis anos quando aprendeu com um familiar.Rancho mantém forte ligação à comunidade escolarDesde que a crise se instalou em Portugal que os ranchos têm cada vez menos apoios. Para conseguirem “sobreviver” o Rancho do Bairro organiza algumas iniciativas para angariar fundos. Recentemente, organizaram a Festa do Magusto, onde o dinheiro obtido reverteu para as despesas que o grupo tem durante o ano. A Câmara de Santarém apoia cedendo o autocarro municipal para fazerem duas viagens por ano. Têm também o apoio da junta de freguesia e do Inatel.A maioria dos trajes dos elementos é comprada pelos próprios e esses trajes podem custar entre 400 e 800 euros. Há cinco anos que não fazem deslocações ao estrangeiro porque não têm dinheiro para suportar as despesas. A última foi às Astúrias (Espanha). “Não fazemos todas as viagens para as quais somos convidados. Recebemos muitos convites mas já decidimos que não vamos pagar do nosso bolso para dançar. Existem grupos que se endividam sem necessidade para fazerem essas deslocações”, explica o presidente da assembleia geral do Rancho do Bairro, Jorge Luís Oliveira.O Rancho do Bairro mantém uma grande ligação à comunidade escolar para, dessa forma, ‘recrutar’ novos elementos. De vez em quando vão às escolas explicar o que eram as tradições e como se vivia nos tempos dos nossos avós. Ensinam algumas cantigas e danças do rancho. No final do ano lectivo faz-se uma festa onde os alunos dançar e cantam. “Alguns acabam por ficar com o bichinho e vêm para o rancho e isso é o mais importante. A nossa missão é passar a mensagem que estamos a representar as tradições dos nossos avós”, conclui Jorge Oliveira.
Várias gerações cantam e dançam no Rancho do Bairro de Santarém

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