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Apimentado Serafim das Neves

O desaparecimento e posterior aparecimento de uma rena natalícia em Rio Maior e a foto que me mandaste com um Pai Natal que tem ao colo uma jeitosa de nádegas reboludas a saírem de uma cueca vermelha tipo fio dental, para além de outros pormenores, levam-me a concluir que está na hora de passarmos a ter dois natais por ano. O Natal católico com o Menino Jesus em palhinhas deitado entre o burro e a vaca e o olhar embevecido da mãe e do padrasto e um Natal mais ao gosto da rapaziada com Pais Natal lascivos com marmanjonas semi-nuas ao colo ou a andar de mota e a beber cerveja da lata.Penso que a altura é propícia à concretização da minha proposta uma vez que temos um governo de gente que percebe o que eu proponho e que tem gosto em criar tantos feriados quantos forem necessários para ver o povo feliz. Acho que também concordarás com esta ideia de um Natal do Presépio e do Jesus e outro Natal da árvore de plástico da loja do chinês com Pai Natal, Mãe Natal e renas com e sem guizos. Um Natal republicano e laico, digamos assim, para onde seriam canalizadas as prendas entre adultos, nomeadamente as que envolvem lingerie ousada, objectos das sex-shops, bebidas espirituosas e outros produtos gourmet, plasmas e iphones. No Natal do Presépio podem ficar as prendinhas para as crianças, nomeadamente livros didácticos para colorir, comboios eléctricos e caixas de Lego. Pela minha conversa já percebeste que tive dificuldades em conciliar o Natal do Presépio e o Natal do Pai Natal, tanto em termos de prendas como de comida e bebida, para não falar do resto. Como podemos continuar a aceitar esta violência de termos de oferecer uma prenda à sogra e de recebermos em troca peúgas ao xadrez e cuecas à Tarzan iguais à do ano passado, ao mesmo tempo que temos que acorrer ao mais novo para que ele não dê cabo do smartphone que a mãe nos convenceu a oferecer-lhe ou ir à missa do galo acompanhar a tia que veio da terra e sairmos da igreja à socapa para fumarmos uma cigarrada e bebermos uns uísques pelo gargalo da garrafa com os cunhados, enquanto contamos anedotas picantes ao som do gingombél e comentamos o tamanho do busto e do rabo de algumas paroquianas?Um homem ou concentra-se no simbolismo do nascimento de Cristo e reflecte sobre os seus pecados ou, no calor dos tintos da ceia mete as mãos pelas pernas acima da mulher que está altamente apetecível por se ter aperaltado e esmerado na maquilhagem e nas unhas de gel. As duas coisas ao mesmo tempo é que não! Já basta os instintos assassinos que desenvolvemos na altura das compras quando há um camelo que nos rouba o único lugar livre do estacionamento ou quando multidões desaustinadas nos pisam e repisam os calos para chegar às prateleiras dos brinquedos ou dos bombons.Pelo menos na passagem do ano não há misturas. Quando vamos festejar já sabemos bem o que nos pode acontecer. No mínimo uma bezana de caixão à cova. No máximo acordarmos com duas pessoas desconhecidas na cama sem sabermos muito bem como foram lá parar, nem se ambas são do sexo feminino. Espumante achampanhado, danças selvagens, calores de apetecer tirar a roupa toda, promessas de malandrice nos olhinhos do mulherio, comidas afrodisíacas e sogras e tias com as crianças a mais de cinquenta quilómetros de distância. Claro que também se podem ouvir algumas expressões como “Oh meu Deus...oh meu Deus!” mas já sabemos que ali as divindades são todas pagãs. E agora termino porque tenho que ir tomar mais uma aspirina e fazer um curativo da mocada que levei na cabeça com a frigideira que a minha mulher estava a usar para fritar o camarão tigre quando me viu a ajudar uma amiga dela a apertar o sutiã.Saudações báquicasManuel Serra d’Aire

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