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Ouriquense em risco de acabar por causa de dívida a banco

Ouriquense em risco de acabar por causa de dívida a banco

Sócios reuniram em assembleia geral e apelaram à união

Solução pode passar pela extinção do clube de Vila Chã de Ourique e pela criação de um novo. Em causa está um empréstimo bancário que deixou de ser pago em 2010 e em que faltam liquidar 380 mil euros.

O fim do Estrela Futebol Clube Ouriquense é uma das hipóteses equacionadas pelos sócios e direcção do clube de Vila Chã de Ourique, concelho do Cartaxo. Em assembleia geral realizada no dia 16 de Março, foram discutidos e esclarecidos durante mais de três horas vários problemas do clube, com especial atenção para o empréstimo de 440 mil euros contraído ao BES (agora Novo Banco) em 2007. Deste valor apenas foi amortizada uma pequena parte, faltando pagar mais de 380 mil euros. Os sócios presentes manifestaram o seu desagrado pelos poucos esclarecimentos feitos na assembleia sobre este caso, em que nada foi resolvido. O sentimento de apreensão quanto à continuidade do clube é geral, não estando fora de questão a extinção do clube e a mudança de nome do clube para começar do zero. Uma medida que já foi adoptada noutros clubes da região, como em Coruche, Entroncamento ou Abrantes. Contudo, as responsabilidades referentes ao processo do empréstimo deverão ser averiguadas.Um dos treinadores do clube, Bruno Aranha, afirmou que todos os técnicos dos diversos escalões da formação do clube trabalham a custo zero. E deixou o apelo, como “apaixonado pelo Estrela” desde que foi jogador nas camadas jovens, para que não deixem morrer o emblema da terra. Uma mensagem partilhada por todos os presentes que apelaram à união. Na audiência estiveram presentes o presidente da Câmara do Cartaxo, Pedro Ribeiro, e o ex-presidente do clube, Carlos Albuquerque.Empréstimo “apagado” das contas do clubeO empréstimo foi contraído por uma direcção liderada por Carlos Albuquerque após a Câmara do Cartaxo, então presidida por Paulo Caldas, ter passado uma “carta de conforto” que o clube apresentou ao banco como uma espécie de garantia. Nesse documento, assinado por Paulo Caldas, referia-se que era propósito da autarquia continuar a protocolar anualmente com o Estrela Ouriquense a atribuição de verbas mediante o regulamento de apoio ao Desenvolvimento Desportivo do Concelho do Cartaxo. Um protocolo anual que só foi cumprido até 2010, altura em que o município deixou de transferir verbas para os clubes e associações do concelho devido à má situação financeira.O actual presidente da câmara e sócio do clube, Pedro Ribeiro, referiu que apenas tem um documento do ex-presidente do Cartaxo, Paulo Caldas: sem data e com um conteúdo vago e inócuo. Neste é referido que era propósito da câmara continuar a protocolar o clube, sem quantificar valores nem mencionar a duração do mesmo. Porém, nada vincula a câmara como fiadora e avalista do empréstimo, segundo o autarca, que confirma isso pelo facto de até à data não ter recebido qualquer notificação do Novo Banco. “Se a câmara estivesse vinculada a este empréstimo os bens do município seriam penhorados devido a um valor tão avultado”, afirmou.Para o ex-presidente do clube, Carlos Albuquerque, este empréstimo só foi possível com o ofício da câmara. Carlos Albuquerque comparou este empréstimo do BES a outros feitos anteriormente pelo clube, nomeadamente ao BPI e à Caixa de Crédito Agrícola. Estes exigiram esse ofício da Câmara do Cartaxo, assim como as actas das assembleia aos sócios que suportavam as decisões de acesso ao crédito. Albuquerque não acredita que fosse concedida uma linha de crédito de meio milhão a um clube que não tem património - as infraestruturas pertencem à Junta de Freguesia de Vila Chã de Ourique. O ex-presidente do Ouriquense diz que nunca lhe chegaram cartas a pedir comissões relativas a este empréstimo, um “facto estranho”, que o leva a afirmar ainda que “deve ser a câmara a chegar-se à frente com os compromissos que fez”.Pedro Ribeiro acusou ainda Carlos Albuquerque de não ter colocado esta dívida nas contas do clube, na passagem de documentos para a actual direcção do Estrela Ouriquense, classificando essa situação como “um apagão”. “380 mil euros não são 380 euros, não podem desaparecer da contabilidade”, disse o autarca. “Este é um crédito sem garantias e que não é sério”, reforçou o presidente da Câmara do Cartaxo que suspeita que “só com a divisão do BES é que esta dívida pode ter surgido”, não acreditando que “o banco perdoe um valor tão avultado quando todos sabemos o estado em que se encontra o Novo Banco”, concluiu.Documentos roubados por falsa procuradoraA actual direcção do clube está a averiguar a situação estando à espera de respostas por parte do banco, pois não tem papéis que justifiquem esta dívida. A documentação possível foi toda reunida embora estejam em falta as actas das assembleias e alguns documentos não identificados de 2010 até à primeira tomada de posse da actual direcção, há três anos. Carlos Martins referiu que as mesmas foram roubadas por uma mulher que se fez passar por procuradora poucos dias após a entrada na presidência. Uma burla que aconteceu noutras associações no concelho e que foi participada à Polícia Judiciária. O processo chegou a tribunal mas nunca saiu das instâncias judiciárias.Para já a dívida de 380 mil euros ainda não está em andamento. Está apenas na fase de notificação pelo Novo Banco, numa carta que o Estrela recebeu em Janeiro, com data de 17 de Dezembro. “Já fui aos balcões do Novo Banco, já liguei ao banco, passei por sete departamentos do banco e ninguém me soube dizer nada sobre esta dívida”, disse Carlos Martins.Eleições no dia 31 de MarçoO presidente da Junta de Freguesia de Vila Chã de Ourique, Vasco Casimiro, levantou na assembleia geral a questão da dívida à EDP, que anda entre os dois mil e os três mil euros. Este é um assunto que está controlado pela direcção que tem como prioridade a gestão do dia-a-dia do clube. E, para além de afirmar que nada tem a esconder, o presidente Carlos Martins disse que está a ser feito um plano de pagamentos quando à dívida da EDP para que tudo fique em dia.A falta do pagamento de quotas e a dívida ao Novo Banco travaram alguns patrocínios ao clube, nas palavras de Carlos Martins, que solicitou a todos a ajuda para ultrapassar mais um obstáculo. “Os pais têm sido incansáveis. Os sócios estão a reviver o clube. Os jogadores e os treinadores têm sido muito importantes para este trabalho”, declarou Carlos Martins, que também espera pelos resultados dos iniciados para conseguir algum retorno do trabalho de três anos da actual direcção. A equipa está actualmente em primeiro lugar na segunda série da segunda divisão do campeonato distrital.Na assembleia geral foram ainda marcadas as eleições dos órgãos sociais para dia 31 de Março, embora o sentimento compartilhado por todos os presentes é de que nenhuma lista se apresentará. E no caso de não aparecer ninguém que queira liderar o clube, a direcção de Carlos Martins confirma apenas que ficará até Julho e que depois “logo se verá”. As contas do Estrela Futebol Clube Ouriquense serão apresentadas dentro de uma ou duas semanas.
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