Um destes dias dei por mim assarapantado de todo a olhar para um jornal de uma aldeia próxima que tinha na primeira página a notícia de um helicóptero atingido por um raio laser em Abrantes. E logo em Abrantes, pensei eu. Que raio de sítio para um helicóptero ser atingido por um raio laser?!! Ainda se fosse em Olho de Boi, Gato Preto, Caveira ou mesmo em Casais da Bufinha, agora numa respeitável cidade como Abrantes?! Destrambelhei-me de todo.A minha mulher estava descansadinha de todo a dormitar no sofá. O periquito cantava alegremente na gaiola e o presidente da Câmara de Santarém tinha acabado de ameaçar meter em tribunal um espanhol de Talavera da La Reina que insiste em dizer que as duas terras estão geminadas. Acho que disse fosca-se!!! alto de mais porque o periquito se calou e a minha mulher abriu os olhos espantada. Digo-te já que naquele dia não me estava a apetecer nada viver num país onde há helicópteros a serem atingidos por raios laser. Cuspi nos dedos e fui à página da notícia. Os pilotos diziam que o raio laser era verde e que iam ficando ceguinhos de todo...ou quase. Seriam coisas da malta do Sporting de Abrantes?, pensei eu. Iria o Benfica lá da terra retaliar com raios laser vermelhos para não se ficar atrás?Felizmente não houve vítimas. A tragédia não passou do título e, vistas bem as coisas, aquilo era mais comédia que tragédia. Li e reli. Metia uns putos quaisquer, uma caneta laser da loja do chinês e uma grande vontade de satisfazer o leitor mais exigente sem recorrer ao habitual par de mamas da menina que sonha entrar na galeria das famosas e apresentar um programa de televisão. Esta minha reflexão vem a propósito da tua sobre os boletins e jornais municipais que, como bem dizes, nos projectam para universos idílicos, repletos de obras, projectos e realizações de toda a espécie, onde não há lugar para mulheres mortas pelos maridos, treinadores de futebol broncos, políticos corruptos, crianças com fome ou queixumes da oposição. Felizmente essa corrente editorial está a transbordar dos boletins para os meios de comunicação social em geral. Só espero que não transborde tanto a ponto de tornar desnecessários os periódicos autárquicos pois isso seria uma perda irreparável para a humanidade local.Os problemas do Tejo também estão a transbordar para as margens e já vai havendo fartura de debates, reflexões, propostas, indignações, denúncias, sugestões. O povo está unido e não há meio de os responsáveis escaparem ao cerco. Este fim-de-semana orou-se em Vila Franca de Xira, pela mão da câmara socialista e orou-se em Salvaterra de Magos pela mão do Bloco de Esquerda. Eram oradores nas duas margens a clamar por medidas. Metros e metros de medidas que foram reclamadas. O secretário de Estado do Ambiente dispôs-se a ouvir das boas no Fórum Ibérico. Catarina Martins, a quem o homem deve o cargo porque sem o BE não havia Governo, optou por um passeio de barco. Ninguém me tira da cabeça que a viagem foi para tentar perceber se, com tanta mortandade de peixe adulto, há adopções de peixinhos que justifiquem a aprovação de uma lei fracturante, ou coisa que o valha. E não digas que eu estou sempre a gozar com a política e com os políticos porque se o fizeres estás a repetir-te. Afinal é o que mais fazemos neste cantinho da rambóia. Saudações bombardeirasManuel Serra d’Aire