Um poeta com quatro mil poemas e alguns outros com livros editados
Câmara de Vila Franca de Xira organizou IX encontro de poesia do concelho
Maria de Lurdes Duarte começou a declamar um dos seus poemas. “Poeta de palavra intensa / Às vezes fico a pensar / Onde é que está a diferença / Que tem da gente vulgar”. Na sala da biblioteca da Póvoa de Santa Iria as muitas pessoas presentes estavam concentradas como haveriam de estar concentradas ao longo da tarde de dia 19 de Março, data escolhida para lembrar que o Dia Mundial da Poesia se celebrava dois dias depois.No IX Encontro de Poesia do Concelho de Vila Franca de Xira, ouviram-se poemas e histórias de vida de poetas populares. Os poetas e poetisas convidados foram Alexandre Carvalho, Maria Carvalho, Maria de Lurdes Duarte (ver caixa) e Paulo Gomes. Tiveram que ser seleccionados entre dezenas e dezenas de outros, alguns dos quais já participaram em edições anteriores e em iniciativas similares. A coordenação pertenceu à responsável pela Divisão de Bibliotecas da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Conceição Matos e a iniciativa despertou o interesse de muita gente. O evento contou com a participação do Grupo Dramático Povoense e com um apontamento musical do Grupo Coral Ares Novos, de Alverca.Alexandre Carvalho, 64 anos, nasceu em Lisboa mas vive há muitos anos em Vila Franca onde fez parte do seu percurso profissional. Começou a escrever nos anos setenta e tem dois livros publicados: “Cavalete de Poesia” e Aguarela de Poesia”. Também tem poemas espalhados por doze antologias de poesia popular. Gostava que houvesse maior facilidade de publicar. “Neste mundo ou se paga ou não se edita”, uma forma de dizer que a economia não rima com poesia.Tal como Sophia de Mello Breyner, Maria Carvalho, 45 anos, natural de Vila Franca de Xira, também não gosta da palavra poetisa para feminino da palavra poeta e não se auto-intitula poeta porque, como escreveu Florbela Espanca, “Ser poeta é ser mais alto, é ser maior/ Ser poeta é ser mais alto, é ser maior/ Do que os homens! (...)”. Contou que a primeira vez que leu um poema seu em público foi há dez anos, nas comemorações do 25 de Abril. O poema chamava-se “Liberdade”. Entretanto, em Dezembro de 2015 publicou o seu primeiro livro”, “Um pouco do nada que me faz feliz”. Paulo Gomes participou num concurso de contos mas nem sabe em que lugar ficou porque para ele só existe o primeiro lugar. Em 2014 escreveu um livro com 360 poemas mas como pensou que vender um livro com 360 poemas por 18 euros para um poeta que não era conhecido era um pouco difícil, dividiu-o em seis. Já participou em vinte e duas colectâneas e diz ter cerca de quatro mil poemas.A alegria de escrever e declamar Maria de Lurdes Duarte trabalhou vinte anos em Vialonga e participou em muitas tertúlias. Às vezes era desafiada para fazer poemas um pouco mais picantes. Nada que a atrapalhasse. Afinal tinha-se estreado na escrita a escrever textos para cegadas, pequenas peças de teatro brincalhão interpretadas por mascarados por altura do Carnaval.“Só tenho a antiga quarta classe. Fazia os trabalhos da escola à luz de um candeeiro de petróleo. Não sei se gosto mais de escrever poemas ou de declamá-los. Escrevo para declamar, posso dizer”, apresentou-se.Com cinco anos assistia aos ensaios das cegadas em que o pai participava com os amigos. Mais tarde, já com quinze anos, como o poeta que escrevia os textos tinha morrido, acedeu ao convite do pai e escreveu a sua primeira Cegada. Escreveu dez no total. Diz que tem muitos poemas mas que tem muitos que “não interessam”“Que estranha forma de gente” foi o primeiro poema que leu no encontro, dedicado a todos os poetas que estavam na sala. O MIRANTE escolheu um daqueles com mais picante, que ela diz ter escrito “para a paródia”, para publicar nesta edição.Toca a gaita tocadorToca a gaita tocador Toca uma coisa mexidaFaz-me esquecer por favorAs mágoas da minha vida A gaita com que tu tocas é uma gaita danadaQuer vestido ou em pelotaTens sempre a gaita afinada Queria na gaita tocar Mas por mais que tente e façaNão consigo pô-la a vibrar E a gaita fica sem graça Toca a gaita sem parar Mesmo que te sintas triste Porque enquanto a gaita tocar Nada mais no mundo existe Se a gaita abaixo se for Não chores, não faças fitaEsfrega-a com todo o vigor E verás que ela arrebita Eu cá também queria ter uma gaita assim para mimMas ninguém ma quis fazer Quando a este mundo vim Toca a gaita com vaidade Para seres um grande artista Que quando tiveres mais idade Perdes a gaita de vista
Mais Notícias
A carregar...