Arrebatador Manuel Serra d’Aire
Que Joaquim Rosa do Céu é homem de múltiplos talentos já muita gente sabia. As suas passagens pela Câmara Municipal de Alpiarça e pela região de turismo ficarão, por certo, gravadas na memória de todos os que tiveram o privilégio de com ele viver esses tempos áureos e respirar o mesmo ar que esse já lendário ribatejano respirou. E com toda a justiça, diga-se, porque Rosa do Céu podia estar retirado a viver de glórias e rendimentos, e quiçá a escrever as suas memórias, mas não é homem para isso. Apesar de reformado já há alguns anos, foi há meses eleito presidente da poderosa Fundação José Relvas, em Alpiarça. E as más línguas logo entraram em cena dizendo que Rosa do Céu tinha sido eleito ilegalmente, porque os estatutos dessa instituição são claros quando referem que quem anteriormente obteve remuneração da Câmara de Alpiarça (como é o caso do antigo autarca) não pode integrar os corpos sociais da Fundação. Foi nessa altura, comprovando que os homens de rija têmpera não se deixam vencer por contratempos nem detalhes comezinhos, que Rosa do Céu revelou ao mundo a sua faceta de médium, dizendo que o que está consagrado nos estatutos a esse respeito não traduz fielmente aquilo que seria a vontade de José Relvas, falecido em 1929. Como José Relvas, um dos pais da nossa República, já cá não está para se defender, retorquir ou esclarecer, resta-nos crer que Rosa do Céu teve acesso a informação privilegiada junto do patrono da Fundação, o que, como é óbvio, só é possível comunicando com o “Além”. É de facto extraordinário!!!Há dias li que um cidadão morador em Santarém arremessou um exemplar do código civil contra agentes da PSP, numa insólita manifestação de resistência à autoridade. Classificar os livros como agentes subversivos e agitadores da tranquilidade pública é um conceito que faz parte da história da humanidade e que está nos livros. Mas que os mesmos virem arma de arremesso é que não é trivial. Em todo o caso, percebo agora por que razão há tanta gente a enfeitar as estantes com volumosos calhamaços que nunca são desfolhados. Aquilo são autênticos arsenais bélicos que podem dar um jeitão quando menos se espera. Levar com um exemplar do “Ulisses”, do James Joyce, na pinha deixa qualquer meliante fora de combate. Na Barrosa, pacata localidade do concelho de Benavente, os jogadores de futebol locais ficam com o Diabo no corpo quando vêem um árbitro fardado a rigor e, em vez de se preocuparem com a bola, optam pelo boxe, luta livre e modalidades afins. Cenas pouco cristãs como a que se viveu há poucas semanas remetem-me para os tempos em que a malta ia aos jogos do distrital para emborcar minis e sandes de courato e chamar nomes aos árbitros. Aquilo era melhor que ir ao psicanalista. Não havia árbitro ou fiscal de linha que não levasse para casa um número incontável de palavrões e considerações menos abonatórias para as suas mães, irmãs e restante família. E já na altura me questionava o que fazia correr aqueles homens de apito na boca e pau na mão para se sujeitarem a tamanhos enxovalhos físicos e verbais. Esse é para mim um dos grandes enigmas da Humanidade, a par da existência de vida em Marte e da morte de Elvis Presley. Saberás tu elucidar-me?Saudações primaveris do Serafim das Neves
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