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Farfalhudo Serafim das Neves

Uma nova barbearia de Tomar apresentou-se no Facebook com uma foto em que aparecem umas meninas em lingerie sexy, a fazer pose à frente dos clientes que estão a ser tosquiados. Se a ideia é conseguir que até os carecas passem a ir cortar o cabelo não acredito que vá resultar. Afinal, quem já perdeu o cabelo é do tempo em que os barbeiros disponibilizavam revistas pornográficas para consulta durante o tempo de espera e o imaginário dos clientes era estimulado com a famosa anedota do ingénuo que só descobriu que os amigos que lhe falavam de uma promoção de “barba e mama por vinte e cinco tostões” estavam a brincar, quando perguntou pelo complemento mamário da esposa do barbeiro e ia sendo decapitado com a navalha da barba.Além disso a barbearia tomarense arrisca-se a ter que arranjar meninas como as da foto para se abanarem à frente da clientela, sob pena de enfrentar queixas por publicidade enganosa. E para ter material daquele em permanência na loja os preços vão crescer muitos mais do que outras coisas que também costumam crescer com adubos daquele quilate. Um médico do hospital de Abrantes anunciou que esteve a fazer greve de fome durante uma carrada de dias mas que nunca parou de tratar dos doentes. A greve de fome não foi por motivos políticos mas por algo muito mais meritório. Com aquela iniciativa o doutor acreditava que iria convencer uma empresa que lhe ficou a dever dinheiro a pagar-lhe. Foi ingénuo, eu sei, mas foi bem intencionado. E tem que ser louvado pelo esforço. Como não devia ter dias de férias para gozar fez a greve de fome no local de trabalho mas como ali lhe pagam a tempo e horas não quis causar transtornos e continuou a atender os pacientes. Eu se fosse doente dele tinha-lhe levado uma sandocha de presunto e uma mini para atenuar a fomeca mas calculo que ele iria rejeitar. Seja como for aguentou-se bem, tanto mais que teve que fazer horas extraordinárias a dar entrevistas a jornais e televisões. Continuou a arder com o dinheiro mas pelo menos teve os seus minutinhos de fama. E os doentes que ele viu, mesmo que não tenham ficado curados pelo menos podem dizer que já foram atendidos por um médico que já não comia há uma semana. E ter isso mencionado numa ficha médica conta muito. Pelo menos eu acho que conta muito. Tal como tu, também ouvi falar da tal conversa que o presidente da Fundação José Relvas de Alpiarça, teve com o defunto lavrador José Relvas a propósito da interpretação a dar a certas cláusulas do testamento do mesmo. A necessidade que houve de incomodar o homem que declarou implantada a República e que faleceu em 1929, vem mostrar os males que a imposição do novo acordo ortográfico pode vir a provocar. O testamento é de uma época em que farmácia ainda se escrevia com ph em vez do éfe. Dentro de anos, quando toda a gente escrever coisas como “eu não me pelo pelo pelo de quem para para desistir” ou o “cato o gato perto do cato e tenho um espetador”, como irá ser possível perceber o que eu ou tu deixámos escrito nos nossos testamentos? Será que também iremos ser incomodados lá no Além, como foi o José Relvas?Estive a fazer as contas e já andamos a trocar estes e-mails há precisamente dezassete anos. Já me disseram que os e-mails são coisa do passado e que era melhor comunicarmos através de métodos mais modernos. Não sei qual a tua opinião mas a mim não me agradam grandes mudanças. Acho que até ao fim da vida vou continuar a gostar de mulheres roliças e sorridentes, de sandes de coirato, de vinho tinto velho, de literatura satírica, de dizer mal dos políticos e de cuecas à Tarzan.Um bacalhau à maneiraManuel Serra d’Aire

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