uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Centro Hospitalar do Médio Tejo serenou ânimos e está numa fase de crescimento

Centro Hospitalar do Médio Tejo serenou ânimos e está numa fase de crescimento

Instituição passou a ser a segunda em capacidade de diálise e ganhou estatuto para formar urologistas. O conselho de administração do Centro Hospitalar do Médio Tejo, presidido por Carlos Andrade, tem vindo a trabalhar para reduzir o ruído à volta da organização de um centro com três hospitais separados por quilómetros. C

onsidera que os autarcas e as pessoas percebem melhor a organização do centro porque vêem que se está a trabalhar em prol das populações. Um novo cenário depois de anos em que a instituição sofreu duras críticas e contestações a modelos organizativos. Carlos Andrade não é da região mas percebe a sua dinâmica e o facto de não ser político tem facilitado as coisas. Licenciado em Direito e com um curso de administração hospitalar, é um gestor com experiência na saúde, tendo passado pelo Instituto Português de Oncologia e Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. Também administrou todos os equipamentos de cariz hospitalar da Misericórdia de Lisboa. Foi o único civil a gerir hospitais militares.

O que justificou a mudança da cardiologia de Torres Novas para Tomar? O objectivo é conseguir reduzir os tempos médios de espera para uma primeira consulta. Quisemos também, com os profissionais, aproximar a cardiologia da urgência médico-cirúrgica. O apoio que dávamos a esta urgência era através de telefone, de consultadoria. Assim evita-se que os doentes tenham que se deslocar de ambulância a Torres Novas para serem observados pelos cardiologistas. Era um processo pouco funcional. Uma coisa é ter um apoio efectivo e outra é ter à distância, em áreas tão sensíveis como a cardiologia.
Esta era a altura ideal para mudar? Muitas vezes estes acertos, ao contrário da ideia que se tem, podem e devem fazer-se no Verão, porque há menos actividade e estamos fora dos períodos de contingência da gripe.
Cada vez que há mexidas as pessoas vêm dizer que vai tudo parar a Abrantes. Torres Novas tem vindo a ganhar protagonismo e novas funcionalidades. Recuperou em Fevereiro a medicina interna. Teve em Setembro do ano passado o aumento da unidade de diálise, que passou de 11 para 22 postos, o que faz dela a segunda maior unidade do Serviço Nacional de Saúde. São apostas muito claras em Torres Novas, tal como apostamos de forma muito clara em Abrantes e em Tomar.
É necessário andar frequentemente a fazer mudanças? Estamos sempre a procurar aperfeiçoar o centro hospitalar de forma a reforçar as competências que tem e adquirir novas vertentes dessas competências, de forma a aproximarmo-nos das populações. É uma forma de ganhar maior capacidade para responder às solicitações, às listas de espera e às necessidades de prestação de cuidados de saúde.
O facto de haver três hospitais em três cidades não ajuda muito a essa capacidade… Uma coisa é ter um único edifício hospitalar, outra é ter três edifícios que obriga a uma logística de transportes, movimentações de doentes e profissionais. Tudo isso onera e dificulta mas não inviabiliza o crescimento da instituição e a sua modernização. É com esta realidade que temos de viver e temos de explicar por que é preciso fazer ajustamentos.
E qual é a explicação para tanto ajustamento? As organizações hospitalares não são estáticas e se forem isso significa a médio prazo uma perda de vitalidade da organização. Temos de procurar ciclicamente a melhor forma de nos redesenharmos, porque as técnicas evoluem, o número de profissionais evolui.
O modelo de unidades locais de saúde, em que os centros de saúde estão interligados em termos de gestão com os hospitais, era importante para o Médio Tejo? Temos de estar preparados para trabalhar em qualquer cenário e estratégia do Serviço Nacional de Saúde. Neste momento não sei se seria oportuno evoluir para uma unidade local de saúde, porque precisamos de nos fortalecer enquanto instituição e os centros de saúde também precisam de se fortalecer. Estamos numa fase de crescimento e este caminho deve fazer-se ainda durante mais algum tempo.
Tem vindo a ser falada a hipótese de Ourém passar para área de saúde de Leiria. Que complicações pode isso trazer ao centro hospitalar? Também recebemos população dos distritos de Portalegre e Castelo Branco. Esta porosidade do sistema sempre aconteceu. Hoje temos uma nova realidade que é a livre escolha do cidadão, que não nos deve meter medo. Pelo contrário, é mais um estímulo. Quero que a população de Ourém escolha o centro hospitalar e para isso temos de trabalhar para merecer essa escolha.
Como está a actividade do centro hospitalar? Não temos sentido diminuição na actividade. Temos estado a fazer mais actividade cirúrgica, mais consultas externas, mais hospital de dia… O que significa que as populações não nos estão a fugir mas sim a procurar-nos cada vez mais.
Como se consegue fazer mais actividade com falta de recursos? Com um esforço brutal dos nossos profissionais. As pessoas estão a trabalhar muito porque sentem que do seu trabalho resulta o aumento da capacidade de prestação de cuidados à população.
Esse esforço tem levado a um aumento dos níveis de absentismo por baixas médicas. As pessoas não são à prova de tudo. Procuramos organizar o trabalho de forma a minimizar o esforço que as pessoas fazem. Os esforços físicos e psicológicos são muito grandes mas os nossos profissionais têm conseguido conciliar a sua capacidade anímica com as necessidades.
Os enfermeiros têm sido os mais sacrificados e o sindicato até chegou a marcar uma greve. Porque não se contratam mais? Temos vindo a aumentar o quadro de enfermeiros nos últimos dois anos. Temos planos para continuar a integrar enfermeiros, tal como outros profissionais.
Há outros objectivos? Os hospitais não podem estar parados senão morrem. É ponto assente continuar a apostar na renovação dos equipamentos hospitalares de diagnóstico e tratamento. Queremos continuar a apostar no aumento do número de médicos. 2015 foi o primeiro ano em que entraram mais médicos do que saíram. Nas várias áreas aumentámos o número de funcionários, entre saídas e entradas, para cerca de 80 e gastámos menos dinheiro em salários.
Como é que há mais profissionais e se gasta menos? É uma questão de gerir os recursos e aproveitar melhor as pessoas. Os serviços fazem distribuir a carga de trabalho de uma forma mais uniforme e isso tem impacto no consumo de horas extraordinárias. A gestão destas casas faz-se do conjunto de pequenas medidas.
Mas há uma grande dificuldade em captar médicos para fora dos grandes centros. Quem vem para o Médio Tejo, muitas vezes percebe que fez a escolha certa. A diferença é ser mais um num hospital de Lisboa ou Coimbra, ou ser um no Médio Tejo. Procuramos passar esta ideia de que nenhum médico é apenas mais um. Procuramos criar as condições para que tenham acesso a boas condições de trabalho.
A oftalmologia, com o início das cirurgias laser, veio dar uma melhor imagem ao hospital? É um serviço com óptimas condições físicas, bem apetrechado e com uma equipa de jovens médicos com muita dinâmica. Mas há outros exemplos. A urologia é o único serviço fora dos grandes centros urbanos que ganhou idoneidade formativa para formar futuros médicos especialistas. Estamos a fazer o caminho de ganhar capacidade formativa.
Qual é a relação do centro hospitalar com os autarcas da região? Penso que nenhuma câmara municipal se pode queixar do centro hospitalar nem o centro se queixa das autarquias. Não há guerras políticas. Sou um técnico e os funcionários públicos não são políticos. Este conselho de administração é constituído apenas por técnicos, que têm uma visão de desenvolvimento e obrigação de desenvolver uma estratégia de crescimento da sua organização, não olhando a 20 mil utentes mas a cerca de 230 ou 250 mil, tendo em conta o espectro populacional do Médio Tejo. Julgo que o poder político reconhece o esforço que este conselho de administração tem feito e que os seus munícipes estão a ter mais resposta.

Centro Hospitalar do Médio Tejo serenou ânimos e está numa fase de crescimento

Mais Notícias

    A carregar...