A dolorosa luta de Ramiro Antunes contra o cancro
Carpinteiro residente em Santarém teve cancro de mama e conta as dificuldades por que passou devido à agressividade dos tratamentos. Houve momentos em que pensou em desistir de lutar contra a doença mas a fé e o apoio da mulher e dos médicos ajudaram-no a resistir.
Ramiro Antunes é um exemplo de superação. Depois de ter descoberto que tinha cancro de mama e de ter extraído o tumor passou o último ano em tratamentos, naquele que considera ter sido um ano muito complicado da sua vida. “Houve momentos em que pensei que não iria sobreviver à doença, os tratamentos foram muito dolorosos, pensei em desistir mas isso seria entregar-me à doença”, recorda a O MIRANTE.
O paciente, de 54 anos, fez seis sessões de quimioterapia mas foi a quarta sessão que o deitou abaixo. Perdeu a capacidade de andar durante várias semanas e achou que não se salvava. “Entre Outubro e Dezembro foi tudo muito difícil. Apesar de ser uma pessoa muito positiva e com muita fé vi a morte mesmo de perto, achei que não conseguiria recuperar”, conta.
Todos os anos, no dia 1 de Novembro, faz questão de regressar à sua terra natal, Santa Comba Dão (distrito de Viseu), para visitar a campa dos seus pais que estão lá enterrados. Este ano chorou por estar preso à cama e não poder cumprir esse ritual. “Não desejo ao meu maior inimigo aquilo que passei com os tratamentos. A radioterapia não custou mas a quimioterapia deitou-me completamente abaixo”, confessa.
Acredita que a sua fé “inabalável” em Nossa Senhora de Fátima ajudou “muito” na sua recuperação. Em Maio deste ano já foi a pé a Fátima agradecer por ter conseguido ultrapassar os tratamentos mais complicados. Diz também que o apoio “fundamental” da sua mulher, que foi o seu “braço direito”, e a equipa médica que o acompanhou no Hospital de Santarém foram o mais importante nesta jornada.
O carpinteiro de profissão descobriu que tinha um tumor maligno no peito esquerdo em Junho de 2015. Andava a trabalhar quando detectou um caroço pequeno, do tamanho de uma azeitona. “Quando mexia notava-se e doía-me mas pensava que era um caroço normal e, no início, desvalorizei. Nunca pensei que fosse cancro”, contou a O MIRANTE em Outubro de 2015. Depois de uma série de exames a notícia foi a pior possível: tinha um cancro maligno na mama.
“Nesse momento o chão fugiu-me dos pés. Foi uma informação muito difícil de ouvir”, confessa. Fez um exame onde lhe detectaram que o cancro, muito agressivo, tinha alastrado, em apenas oito dias, à axila. Foi operado e seguiu um ano difícil de tratamentos.
Vício do álcool quase lhe destruiu a vida
A história de vida de Ramiro Antunes não é fácil mas ele conta-a sem vergonha do seu passado. Aos 22 anos, perde a sua mãe e a forma que encontrou de lidar com essa fatalidade foi refugiar-se no álcool. Devido ao vício largou o emprego que tinha e deixou a sua terra natal. Veio trabalhar para o Cartaxo para a construção da auto-estrada. Também trabalhou na construção da ponte Salgueiro Maia, que liga Santarém a Almeirim.
“Andei a vaguear. O dinheiro que ganhava com o trabalho gastava-o no álcool. Dormi na rua e cheguei a lavar roupa no rio Tejo para não andar sujo. Cheguei a dormir com ratos e outros bichos. Foram anos muito complicados na minha vida”, recorda.
Aos 36 anos decidiu que tinha que acabar com aquela vida que o estava a encaminhar para uma morte prematura. Antes de chegar ao Hospital de Santarém, onde pediu ajuda para terminar com o vício do álcool, parou em todos os locais onde costumava beber e pediu um último copo em cada estabelecimento.
“Cheguei ao hospital horas depois de ter saído do barracão onde estava a viver. Estava completamente bêbedo e comecei a chorar quando pedi ajuda ao segurança. A médica que me atendeu ajudou-me no tratamento para largar o vício. Foram três semanas muito difíceis mas nunca mais toquei em álcool. Já lá vão 18 anos”, refere.
Com a ajuda dos médicos e da Santa Casa da Misericórdia de Santarém, arranjou um local para morar e a sua vida começou a mudar para melhor. Encontrou novo emprego e conheceu a sua esposa. Há três anos largou o vício do tabaco. O ano passado surgiu-lhe um novo obstáculo na sua vida que Ramiro Antunes acredita que também vai conseguir ultrapassar.