Inabalável Manuel Serra d’Aire
Os portugueses são um povo de extremos e contrastes. Desancam-se sem dó nem piedade nas redes sociais, usando termos de fazer corar as antigas varinas e fustigando-se com uma ferocidade lupina, para logo a seguir revelarem o seu lado altruísta e solidário, seja nas campanhas dos bancos alimentares contra a fome, seja na entrega de água e comida aos bombeiros, como se verificou neste Verão.
O cenário, aliás, ganhou tais proporções que foram os próprios bombeiros a terem de desmistificar a coisa e a garantir que ali ninguém passava fome nem andava subnutrido, não fosse o povo pensar que os quartéis dos soldados da paz eram uma espécie de réplicas do Sudão ou da Somália com sirenes e carros vermelhos com luzinhas azuis.
A certa altura, depois de ver 17 segundos da emissão da CM TV, cheguei a temer que, face às lancinantes notícias, fosse aparecer gente com tachadas de feijoada e garrafões de carrascão em pleno teatro de operações (adoro este termo) para matar o bicho aos bombeiros, não lhes fosse faltar as forças para agarrar nas mangueiras. Este país é realmente um colosso...
Li na última edição de
O MIRANTE que a Igreja Católica desistiu de proibir a colocação de notas nos andores dos santos durante as procissões, como forma de pagamento de promessas. Nada que cause grande espanto, já que é uma medida que embora vistosa não tem qualquer efeito prático. Na verdade, os crentes portugueses já há muito que estão “proibidos” de pregar com o carcanhol nos andores e até nas caixas das esmolas das igrejas. E não foi porque a Igreja não deixasse mas porque, pura e simplesmente, aquilo com que se compram os melões é um bem escasso. E o pouco que há é para o feijão e para o arroz, como diriam os nossos irmãos brasileiros.
Porque se a salvação da alma pode ser uma questão de grande importância (sobretudo depois de se morrer), a verdade é que, nesta vida, sem a pança devidamente atestada ninguém tem grande pachorra para pensar nessas questões transcendentais.
Soube que no Centro Social e Paroquial de Azambuja vai haver um seminário sobre a “Sexualidade e afectos na infância e adolescência”. Quanto ao interesse da temática não me vou pronunciar, pois não é a minha especialidade. Mas não pude deixar de registar que um dos workshops (lá estão eles com a treta dos anglicismos porque dá um sainete do caraças...) tem o sugestivo título de “Massagem nas Escolas - toque positivo para relaxamento e prevenção do bullying”.
Confesso que assim de repente deu-me vontade de voltar à infância e à escola só de pensar na possibilidade de um dia ser massajado e relaxar graças às mãos sábias de uma profissional daquelas que põem anúncios nos jornais a anunciar os seus serviços. Seria uma forma de compensar as massagens que nos tempos em que ninguém sabia o que era um workshop eram proporcionadas gratuitamente aos alunos nas nossas escolas, não com as mãos mas sim com a cana-da-Índia ou com a mais prosaica régua. Uma tradição que entretanto se foi e que, para a maioria, não terá deixado grandes saudades.
Um adeus português do
Serafim das Neves