Alverca não deve ficar esquecida e o concelho merece compensações
Joaquim Leonardo Robalo foi presidente da Assembleia de Freguesia de Alverca durante 12 anos. Foi homenageado com a medalha de mérito autárquico este ano no dia da cidade de Alverca pelos serviços prestados como autarca, eleito como independente pelas listas do PS.
Nesta conversa com O MIRANTE, Joaquim Leonardo Robalo admite que houve erros na elevada pressão urbanística que o concelho sofreu e defende a navegabilidade do rio até Lisboa para acolher, por exemplo, barcos de transporte de passageiros.
Vive em Alverca desde os 18 anos. Gosta do que vê? Há sempre coisas a melhorar mas no geral estou satisfeito. A junta faz os possíveis com os meios que tem. Estamos a falar de uma freguesia muito grande, que tem mais moradores que muitos concelhos do país. É difícil fazer um trabalho em profundidade com os recursos que há. Houve uma pressão urbanística muito grande no concelho e na cidade nos últimos anos. Algumas coisas não foram bem conseguidas, houve erros, mas foi o que era possível fazer. Quando fui autarca tínhamos muitas solicitações e não conseguíamos chegar a todo o lado. Uma das decepções que trouxe da minha passagem pelo cargo foi ver a grande pressão urbanística que sofremos. Gostava de ter criado uma comissão de trânsito que regulasse o fluxo de tráfego. Alverca cresceu muito e não acautelou as acessibilidades.
Perde a cabeça quando ouve a população nos cafés a chamar mentirosos aos políticos? Tenho a noção que o meu tempo já passou mas admito ter dificuldade em encaixar essas coisas que ouço. Não digo que não os haja, mas quando se é autarca não se pensa em proveito próprio. Eu fui autarca por acidente numa altura em que ser autarca era difícil. Custa-me ver as generalizações. A maioria dos políticos não é assim e no concelho há uma grande entrega de todos pela causa pública.
A cidade de Alverca tem o protagonismo que merece no plano concelhio? Alverca não merece ser esquecida. Os autarcas estão muito pressionados pela população e a câmara faz o que é possível. Vila Franca de Xira está muito afastada do poder mas eles não nos podem ignorar porque somos um concelho importante. Veja-se as servidões que aqui passam: comboio, auto-estrada, gás, electricidade e água. Abastecemos Lisboa e isto é um problema grande, conseguir fazer a gestão de tudo isto. Merecíamos ser mais recompensados por sermos prejudicados desta maneira. E devíamos ser mais reivindicativos, apesar de eu não saber se a câmara tem peso político para o fazer. A Maria da Luz Rosinha era uma pessoa bastante altruísta e o Alberto Mesquita é um homem ponderado. Essas diferenças notam-se. O Mesquita, por exemplo, esteve muito bem na gestão da crise do surto de legionella.
A Força Aérea está a fazer tudo o que devia para permitir o acesso da população ao rio Tejo? Claramente que não. Esse é um dos maiores problemas da cidade. Esta zona militar é uma chatice. Não estamos em guerra com ninguém, poderia haver uma maior flexibilidade, criação de algumas excepções, que permitissem a fruição do rio. Bastava um bocadinho de boa vontade da Força Aérea. Uma das minhas tristezas é não ter acesso ao rio, ficamos aqui quase num dormitório.
Se houvesse acesso ao rio a prioridade seria… Assegurar uma boa navegabilidade do rio, permitir o embarque diário de passageiros para Lisboa e de volta. Era importante ter meios de transporte alternativos aos autocarros e comboios. Estamos a passar ao lado de uma grande oportunidade de fazer a viagem sem obstáculos.
O concelho e a cidade de Alverca têm perdido indústria nos últimos anos. É possível ter futuro sem empresas que criem empregos? Só com novas tecnologias conseguiremos ter futuro. Acredito que o concelho tem futuro e há áreas em que nos distinguimos, como na educação e ensino, que poderíamos aproveitar e potenciar. Temos de dar oportunidade às novas gerações, admitir sem vergonhas nem estigmas que eles sabem mais e têm novos conhecimentos. Podem não ter comido o pão que o diabo amassou como eu mas têm outras virtudes e custa-me ver a malta nova ir para o estrangeiro. Quando vi para Alverca o que tinha à espera era uma farda verde e um sobretudo de madeira. Mas apesar de tudo estamos muito melhor hoje que antigamente.
Um apaixonado por livros
Joaquim Leonardo Robalo, 68 anos, é natural de Estremoz mas desde os 18 anos que vive em Alverca e já se considera um alverquense. Tem também casa em Santa Cruz, Torres Vedras, onde gosta de ir ver o mar e caminhar junto à praia. Foi eleito como independente pelas listas do Partido Socialista como presidente da Assembleia de Freguesia de Alverca em três mandatos, entre 1993 e 2005. Entrou na Mague como desenhador e continuou a estudar tendo entrado na câmara municipal como chefe de divisão e equipamentos, onde se aposentou.
Nos tempos livres gosta de ler e visitar livrarias é um dos seus prazeres. Na mesa de cabeceira está a ler “A Guerra dos Mundos” de H. G. Wells. Gosta de música tradicional portuguesa e quando era novo chegou a jogar futebol. Considera que Luís Filipe Vieira, actual presidente do Benfica, poderia ter feito mais pelo Futebol Clube de Alverca e antes de morrer gostava de viajar. Países como a Turquia, Grécia e Jordânia são algumas das suas referências. “Não gosto dos países nórdicos, são como um aviário”, ironiza.
Museu do Ar na rua da estação
Joaquim Robalo é um apaixonado pela aviação e uma das suas grandes tristezas foi ver o Museu do Ar levantar voo para a base área de Sintra. Diz que os poderes políticos não souberam agarrar o museu com unhas e dentes e defende que uma das possibilidades teria sido a construção de um edifício de raiz no terreno situado na rua da estação, para onde está previsto o centro de estágios do Futebol Clube de Alverca. “A junta até tem feito um esforço por associar Alverca ao berço da aeronáutica mas alguns poderes não têm permitido que isso aconteça. Talvez se a câmara tivesse pressionado mais a Força Aérea tivéssemos conseguido manter cá o museu”, defende.
“Sentíamos que o desmantelamento da Mague era evidente”
Joaquim Leonardo Robalo foi funcionário da metalúrgica Mague de Alverca durante 14 anos e guarda boas memórias daquela unidade fabril. Diz que mais que uma empresa a Mague era como uma família. E que as novas tecnologias e a concorrência externa arrumaram o futuro da empresa. “Foi o monopólio da energia que matou a Mague e a entrada do know-how que as congéneres estrangeiras trouxeram. Deixámo-nos ultrapassar. Sentia-se que o desmantelar daquilo era evidente”, recorda.