Autarcas em extremos da região que têm em comum o Tejo e o prazer de comer
Presidente de Vila Franca de Xira, Alberto Mesquita (PS), e presidente de Mação, Vasco Estrela (PSD). Os dois presidentes convidados para a conversa informal da iniciativa “Duetos improvisados entre pessoas que tocam sempre a mesma música” são de dois concelhos muito diferentes e nos extremos da região de influência de O MIRANTE, distanciados por perto de 140 quilómetros.
Alberto Mesquita, de Vila Franca de Xira, e Vasco Estrela, de Mação, já se cruzaram umas três vezes e apesar de não se conhecerem muito bem descobriram que afinal têm muita coisa em comum, a começar por um dos pratos preferidos, que é atum com feijão-frade.
O presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Alberto Mesquita (PS), entra na sala da entrevista de gravata mas ao ver que o seu colega de Mação, Vasco Estrela (PSD) não tem o adereço, retira a gravata e coloca em cima da cadeira. Mesquita, bem-disposto, começa a conversa por dizer que tem receio de adormecer no conforto da cadeira reclinada e avança para o tema do Tejo, comum aos dois concelhos bem diferentes, nos extremos da região, para dizer que o rio merece mais atenção.
“O Tejo é um património belíssimo e ajuda a chamar turistas”, refere Mesquita que quer chamar para Vila Franca de Xira quem visita Lisboa. “O Tejo é uma mais-valia mas não está suficientemente aproveitado, explorado, não só pelas pessoas do concelho como da região e do país. O Tejo tem muito mais para dar”, sublinha o autarca de Mação, reconhecendo que o seu concelho tem vivido de costas para o rio. Em Vila Franca de Xira a autarquia tem vindo a recuperar as zonas ribeirinhas. Ambos conhecem bem o rio. Estrela já tomou banho no Tejo e Mesquita não foi a banhos mas já levou “umas chapadas de água valentes” quando é convidado para actividades náuticas.
A partir do rio os dois concelhos com características completamente díspares, um às portas de Lisboa e de cariz urbano e o outro no interior de cariz rural, têm pontos comuns como a gastronomia à base de peixe do rio, como é o caso do sável ou da fataça. Os dois autarcas são bons garfos, preferem carne mas têm vindo a comer mais peixe por indicação médica. Apesar de distantes e de só se terem encontrado umas duas ou três vezes, têm um prato que adoram: atum com feijão-frade. Recentemente Alberto Mesquita experimentou uma fataça grelhada naquele que é o seu reduto para descansar, a tasca do Senhor Elias, e onde vai algumas vezes para estar à vontade, porque o estabelecimento fica numa zona mais rural do concelho e só vai abrindo mais por tradição do que por quantidade de clientes.
Vasco Estrela tem vindo a disciplinar-se mais na alimentação e não bebe álcool por indicação médica. Alberto Mesquita tenta ser comedido mas gosta de comer bem e aprecia um bom vinho tinto ou uma aguardente velha. O autarca de Vila Franca de Xira, 67 anos, quando vai ao médico promete emagrecer mas na consulta seguinte muitas vezes tem uns quilos a mais. Mesquita diz que não liga muito à idade que tem mas se ligasse “teria mais juízo”.
Vila Franca de Xira é quem tem vindo a investir mais no aproveitamento do Tejo e tem a ambição, num projecto a 20 anos, de fazer a ligação, através de um passeio público, ao Parque das Nações, a partir da Póvoa de Santa Iria. “Quando esta ligação estiver feita vai verificar-se que Vila Franca de Xira é já ali”. O novo passeio vai permitir fazer caminhadas e andar de bicicleta. Mesquita admite fazer umas caminhadas. Ambos os autarcas já foram desportistas federados. Mesquita foi praticante de Râguebi até aos 34 anos, que lhe deixou várias lesões e dores nas articulações, e Estrela praticou andebol e futebol “sem um jeito extraordinário”. Mas agora o pouco exercício que fazem é quando têm de andar nas visitas e nas inaugurações.
A família para os dois autarcas são o grande apoio. O presidente de Vila Franca de Xira tem na mulher a confidente e a apoiante. O facto de esta, após se aposentar, se ter dedicado a dirigente de uma instituição, a Casa de S. Pedro, fez com que compreendesse melhor as ausências do marido, que gosta de chegar a casa e ter a esposa à espera, o que nem sempre é fácil. O presidente de Mação tem o grande apoio da mãe e dos sogros para cuidar dos três filhos, dois rapazes e uma menina, porque a esposa é professora e chega a estar colocada a muitos quilómetros de casa. Os filhos de ambos dão palpites. Os de Mesquita, mais velhos, costumam falar de política com o pai. Os de Estrela, ainda crianças, já vão dando uns palpites e levam alguns recados dos colegas e dos professores. “A minha filha tem oito anos, é mais atrevida, e já tem a mania de dar opiniões”, conta Vasco Estrela.
Comum aos autarcas é o stress, que Alberto Mesquita alivia com uma gargalhada. Mas o que faz mesmo aliviar a pressão é brincar com os netos e com eles faz tudo. “Se for preciso rebolar eu rebolo”. Vasco Estrela sente maior pressão quando tem várias coisas para decidir. Nessas alturas faz um ponto de ordem e tenta começar por despachar uma coisa de cada vez. Para ambos a melhor maneira de por vezes descomprimir ou resolver uma questão que está a empatar uma reunião ou uma decisão é dizer uma piada.
Na condução os dois autarcas também estão articulados e nenhum tem motorista em permanência. Gostam de conduzir e fazem grande parte das deslocações em serviço a conduzirem os carros da câmara, excepto se forem para algum ministério ou algum local onde é difícil estacionar. “Em três anos de presidente se usei uma pessoa para motorista foram umas seis vezes”, diz o autarca de Mação. E não é para se livrarem das multas. Mesquita já foi multado no seu concelho. Em Mação o presidente não foi ainda multado. “Não fui porque eu cumpro, pelo menos nunca me disseram que não cumpria (risos)”. Mas já foi apanhado em excesso de velocidade na A25.
Com a conhecida falta de tempo dos autarcas quem é que lhe compra a roupa? O presidente de Mação é quem faz as compras de vestuário e não gosta de ir às compras com a esposa porque “as mulheres são muito indecisas”. O de Vila Franca de Xira diz que compra os fatos, a que chama “farda”, em promoção e sempre no mesmo local. Ao contrário de Vasco Estrela gosta de ir às compras com a mulher para ela lhe dar opinião e porque é um momento em que podem estar juntos. As compras de roupa são uma obrigação porque “não posso ir para a câmara como às vezes me apetecia, tipo de calções, porque senão diziam: Olha este pirou de vez”. O autarca de Mação não tem grandes dificuldades em escolher o vestuário porque “como tenho este corpinho tudo me assenta bem”.
As corridas de panelas e tachos
A mãe e a avó do presidente da Câmara de Mação tinham um “grande problema” em cozinhar quando Vasco Estrela era criança. Não porque não soubessem cozinhar ou porque lhe faltassem os ingredientes mas por culpa do agora autarca que desaparecia com os utensílios de cozinha que havia lá por casa.
“Tinha uma brincadeira de quem na altura não tinha mais nada com que brincar. Não havia vários canais de televisão, não havia consolas de jogos, como hoje, e por isso tinha por hábito roubar os tachos e as panelas da cozinha”, lembra Vasco Estrela.
Vasco Estrela não andava a aprender a cozinhar e os tachos e panelas eram usados para fazer corridas. “Eram os meus carros. A minha brincadeira era andar com eles no corredor da casa a conduzir vários carros, com a mania que era piloto ou condutor. O tacho maior era o camião e o mais pequeno o carro ligeiro de passageiros. Cheguei a levar alguns tabefes para devolver os tachos que às tantas já não sabia onde estavam”.
As termas na Curia e o médico compreensivo
O presidente da Câmara de Vila Franca de Xira é um homem que gosta de ir para sítios calmos mas por pouco tempo, porque depois falta-lhe a agitação. Há uns anos para descansar costumava fazer termas, na Curia. Confessa que lhe fazia bem, que nos primeiros dias se sentia muito bem mas depois começava a sentir falta do movimento quotidiano.
Alberto Mesquita confessa que os tratamentos até lhe faziam bem mas o problema era a proximidade com a Mealhada, conhecida pelo leitão assado à moda da Bairrada, que “depois estragava tudo”. As férias na Curia eram também a altura em que o autarca menos problemas tinha com a medicina, já que o médico das termas era mais compreensivo.
O médico da Curia “era um daqueles à antiga, tipo João Semana”, conta Alberto Mesquita. “Quando ele me perguntava como é que era com as bebidas (alcoólicas) respondia que procurava não beber, que gostava muito de uma aguardente velha mas que me fazia muito mal”, conta. O autarca ficou surpreendido quando o médico lhe disse: “tenha calma que isso de vez em quando até faz bem”.