Vila Franca de Xira não é um bom sítio para envelhecer
António Carvalho é o novo presidente da Comissão Unitária de Reformados, Pensionistas e Idosos de VFX. Dirigente concorda que a sede de concelho precisa de mais lares e elogia Alverca dizendo que tem mais condições para dar uma vida digna aos idosos.
A cidade de Vila Franca de Xira está muito carente de lares e estruturas de apoio residencial públicas para os mais velhos e o recente impasse em que está mergulhado o projecto de transformação do antigo hospital da cidade em Unidade de Cuidados Continuados (UCC) é motivo de preocupação.
O lamento é de António Carvalho, 63 anos, novo presidente da CURPI - Comissão Unitária de Reformados, Pensionistas e Idosos de Vila Franca de Xira. Do contacto diário que tem tido com os mais velhos, nenhuma problemática os preocupa tanto como a falta de um lar onde possam passar os seus últimos anos de vida. “Muita gente precisa e não tem dinheiro para pagar um lar privado. Há gente com pensões de 100 ou 200 euros e quem ganhar isso não tem lar em Vila Franca de Xira, tem de esperar imenso por uma vaga da Segurança Social. Eu nem chamaria ao que existe lares mas sim depósitos de velhos. São depósitos onde as pessoas são deixadas para morrer”, lamenta a O MIRANTE.
Para o dirigente a não concretização da UCC prevista para o antigo hospital é “uma surpresa” pela negativa, até porque os acordos já estavam celebrados entre a Misericórdia e a Segurança Social para 60 camas, mas as obras não avançam nem há previsão de que isso venha a acontecer tão cedo. “Precisamos de mais centros de dia, lares, locais de apoio à terceira idade. Fico surpreso com o impasse do antigo hospital, anda tudo no jogo do empurra, devem estar à espera que alguém roube aquilo tudo para depois avançarem”, critica.
A falta de médicos nos centros de saúde é também uma das maiores preocupações da comunidade sénior da cidade vilafranquense. “Quando apregoamos à boca cheia que somos os maiores e que as coisas estão a melhorar vemos que isso não é verdade. Vila Franca de Xira é uma terra velha com pessoas velhas, é o espelho deste país. E isso é um bocadinho assustador”, lamenta.
António Carvalho é nascido e criado em Vila Franca de Xira e um rosto conhecido nas ruas daquela cidade. Apesar de ter orgulho na terra onde vive, não esconde também alguma tristeza. “Tenho pena de não ver a cidade com mais pujança. Tenho uma filha que teve de montar a empresa em Alverca porque lá teve todas as facilidades, até lhe cederam dois lugares em frente à loja, aqui não. Vila Franca não é uma boa cidade para envelhecer, Alverca dá mais apoios. Têm várias valências para os mais velhos, a Casa de São Pedro e uma casa da terceira idade no bairro das OGMA. Vila Franca envelheceu, hoje é um dormitório como já foi Alverca. Mas Alverca ultrapassou-nos. Esta é a realidade”, confessa.
Saída de serviços do centro da cidade foi prejudicial
Para o dirigente da CURPI a saída de serviços do centro da cidade ao longo dos anos foi crucial para o actual estado de coisas. “Tiraram o hospital, a GNR, a Marinha. Tudo isso movimentava imensa gente. Até o Vila Franca Centro fechou e tornou-se num elefante branco. Se não fosse a CURPI muitos idosos desta cidade não tinham onde ficar. Talvez aí pelos cafés ou em casa”, lamenta.
A lista de António Carvalho foi eleita a 24 de Junho. Além da sala de convívio e bar que têm ao dispor dos sócios, a colectividade ajuda também os mais carenciados a encontrar os serviços sociais e a pedir ajuda. “Há gente que, por desconhecimento, está a passar muito mal, há imensos idosos com dificuldades, vemos isso todos os dias e é muito triste”, lamenta.
A colectividade está a crescer e os objectivos da nova direcção são sobretudo manter a casa a funcionar e ao serviço da comunidade, com uma gestão rigorosa e atenta. A ideia é no futuro a direcção pedir o estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) à Segurança Social, para a CURPI e os seus utentes beneficiarem de algumas regalias. O sonho era um dia poder oferecer a valência de lar ou centro de dia aos seus utentes. “Esta associação é muito importante para uma cidade como a nossa e devia ser vista com outros olhos por algumas pessoas. Temos um papel social importante e vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para continuar”, conclui.