Paixão pela dança uniu-os no amor e na vida
Já entrados na ternura dos quarenta e após alguns anos de inactividade, Helena e Pedro Machado foram campeões nacionais de dança desportiva e foram chamados à selecção nacional. E as filhas do casal seguem-lhes as pisadas.
Têm em comum a paixão pela dança e foi a dança que os uniu mas de início não se suportavam. Pedro era bailarino de dança desportiva (também conhecida como danças de salão) na Sociedade Filarmónica Artística Cartaxense e Helena dançava na Sociedade Recreativa Operária (Santarém), duas colectividades entre as quais havia rivalidade acentuada. Um dia, depois de uma aposta de rapazes, Helena e Pedro aproximaram-se e nunca mais se largaram. Até hoje.
“O Pedro e os amigos apostaram que iam conseguir namorar comigo e outras raparigas, cada um com uma, até ao final do Festival da Gastronomia. Eu saí na rifa ao Pedro. Ele ainda tentou trocar de papel mas já estava destinado a ficarmos juntos”, recorda Helena com uma sonora gargalhada enquanto olha para o marido.
Pedro Machado e Helena Machado competem pela Associação de Dança Desportiva de Tremês (concelho de Santarém) e, em 2016, venceram o Campeonato Nacional, Taça de Portugal, Circuito Nacional e Campeonato Regional. Todos na categoria Senior 2 Open Standard, tendo sido chamados à selecção nacional para representar Portugal no Campeonato do Mundo WDSF (World DanceSport Federation) que se realiza esta sexta-feira, 10 de Fevereiro, em Antuérpia, na Bélgica.
Daqui a uns meses vão ser chamados para a Taça da Europa, embora ainda não saibam onde se realiza. Pedro e Helena regressaram à competição há cerca de quatro anos depois das duas filhas, Beatriz e Sofia, terem começado a dançar. O resultado não podia ter sido melhor mas a falta de tempo para conciliar tudo é o mais difícil de gerir.
Pedro Machado, 45 anos, começou cedo no mundo da dança e aos 12 anos foi convidado por uma amiga para as danças de salão. “Eu já dançava e participava nos campeonatos de Dance Music em discotecas do país e aceitei o desafio das danças de salão. Naquela altura, nos anos 80, só havia danças de salão nos Alunos de Apolo, em Lisboa e no Porto. Tivemos uma grande adesão, com turmas de 30 e 40 alunos a aprender e a competir na Sociedade Filarmónica Artística Cartaxense”, recorda.
Helena Machado, 43 anos, queria dançar num rancho folclórico mas como a mãe não deixou aceitou um convite para experimentar as danças de salão e adorou. No entanto, a sua ligação à dança nunca foi tão forte como a de Pedro. Quando foram viver e trabalhar para Lisboa deixaram a dança, apesar de Pedro ainda ter dado aulas durante algum tempo. “É muito complicado viver só da dança em Portugal e houve uma altura em que tivemos que optar e fomos trabalhar para Lisboa, a dança teve que ficar de lado”, explica. Há 13 anos voltaram para Santarém e já tinham tirado a ideia de voltarem às danças de salão quando as filhas lhes seguiram os passos.
“A Sofia disse que queria experimentar e a Beatriz também foi. Nós começámos a acompanhá-las aos campeonatos e os nossos amigos começaram a desafiar-nos e lá nos convenceram. Recomeçámos há cerca de quatro, cinco anos e este ano a competição correu-nos muito bem. Somos o par mais antigo em pista”, explica Pedro. Helena confessa que, apesar do gosto pela dança só voltou à competição pelo marido. “Sei da paixão que o Pedro tem em dançar. Eu também gosto mas não gosto da parte da competição e o nosso tempo é gerido ao minuto. Temos sempre mil coisas para fazer”, diz.
Ser chamado à selecção nacional é, para ambos, o reconhecimento do trabalho árduo que têm ao longo do ano. Nem sempre é fácil conciliar a profissão de professores, com as aulas de zumba, danças de salão, dança social, show dance e kizomba que dão no pavilhão dos Bombeiros Voluntários de Santarém. Há semanas em que só conseguem treinar uma ou duas vezes. A profissão e as coreografias de zumba são prioridade na vida profissional assim como as filhas são a grande prioridade na vida pessoal.
Um desporto caro
Pedro e Helena concordam que é necessária uma grande paixão a esta modalidade para continuarem no activo e também algumas condições financeiras. Os vestidos podem custar entre 400 e 1600 euros, dependendo se têm jóias e brilhantes ou não. Todos os meses, só em deslocações para os campeonatos e refeições, não gastam menos de 400 euros. Para o campeonato que vão disputar na Bélgica, a federação apenas paga a viagem. A estadia e alimentação fica por conta do casal. “É mais o tempo e o dinheiro que se investe do que o que se ganha”, afirma Pedro Machado.
Filhas seguem pisadas dos pais
Beatriz (13 anos) e Sofia (10 anos) têm nos genes a paixão pela dança. Foi a mais nova que surpreendeu os pais aos dizer que queria experimentar danças de salão. “A Sofia joga futebol na Académica de Santarém e nem gosta de brincar com bonecos. Por isso quando nos disse que queria dançar ficamos espantados. ‘Tens a certeza? Vestidos com brilhantes?’, foi o que lhe perguntamos mas ela estava muito convicta da sua decisão”, contam os pais.
Beatriz seguiu os passos da irmã mais nova. A mais velha frequenta também a Associação de Dança Desportiva de Tremês. A mais nova é aluna do Clube Desportivo Salvaterrense, de Salvaterra de Magos.
Beatriz sagrou-se campeã regional em Danças Latinas e Standard. Sofia não competiu em 2016 porque optou por dedicar-se apenas ao futebol. O seu talento não passou despercebido tendo sido convidada para jogar no Sporting Clube de Portugal. Quando os pais achavam que a filha ia aceitar jogar com o leão ao peito, a menina quis voltar a dançar. “Pode ser que o Sporting me chame noutra altura e aí vou”, garante a pequena dançarina. Beatriz sonha ser dançarina quando for grande enquanto Sofia quer ser futebolista.