“Gosto de ajudar e ser um ombro nas horas mais complicadas”
José Rego, 64 anos, é sócio-gerente da funerária Senhora da Paz em Samora Correia. Teve várias profissões e nunca o assustou o trabalho. Foi pára-quedista, futebolista e forcado, esteve no Canadá a lavar pratos até aprender a falar inglês e trabalhou numa tipografia.
José Rego é um rosto conhecido da cidade de Samora Correia, concelho de Benavente, onde nasceu há 64 anos. Diz que os seus principais lemas de vida, tal como nos negócios, é pautar a sua actuação pela humildade e honestidade. Não é pessoa de gostar de aparecer em público mas abre uma rara excepção a O MIRANTE para nos contar alguns episódios da sua vida profissional.
É um dos sócios-gerentes da funerária Senhora da Paz, em Samora Correia, e a forma humilde como aborda o negócio é reveladora do que sente pela profissão: “Não fazemos um funeral, fazemos uma homenagem na hora da partida da pessoa. Isso é o mais importante. E damos todo o apoio a quem fica, porque os que cá ficam, ficam num sofrimento muito grande”.
José estava emigrado no Canadá quando se apercebeu da forma como eram feitos os funerais por lá e pensou importar algumas ideias e conceitos daquele país para Samora Correia. A qualidade do serviço prestado pela funerária tem sido reconhecido pela comunidade, porque as solicitações não pararam de crescer desde 2014. “Se prestarmos um mau serviço isso torna qualquer profissão mais difícil. Como em qualquer trabalho, se formos humildes no que fazemos acabamos por conseguir que o trabalho corra com relativa facilidade”, conta.
José Rego estudou em Samora Correia, terra que na altura era tranquila, calma e com poucos habitantes. “Hoje somos uma cidade”, reflecte. Quando era jovem chegou a ser jogador de futebol no Vilafranquense e depois no clube da sua terra, o Samora Correia. Começou a trabalhar cedo, como todos os jovens da sua geração, aos 12 anos, nas obras. Com a guerra do Ultramar a estalar e os jovens a serem chamados ao serviço militar, inscreveu-se nos pára-quedistas em Tancos e ainda hoje confessa que tem saudades de saltar. “Era aquele medo que se controlava e era um prazer imenso sentir a sensação de liberdade quando descíamos”, recorda.
A adrenalina só era comparável a pegar um toiro nos forcados de Vila Franca de Xira, onde o seu sócio, João Rocha, também fazia parte da festa brava. “Ambas imprimiam respeito e medo. Só gostava de voltar a novo para poder pegar toiros outra vez. Sou muito aficionado e tenho saudades desse tempo”, recorda com um sorriso.
Na guerra serviu na Guiné, um dos cenários mais complicados do conflito, e daí não ficam grandes memórias. Emigrou para o Canadá onde esteve 28 anos. Começou a lavar pratos num hotel enquanto aprendia inglês e mais tarde passou para vendedor de roupas e por fim entrou numa tipografia, um trabalho de que diz ter gostado bastante. Quando se reformou voltou à sua terra, Samora Correia, onde ainda foi presidente da Sociedade Filarmónica União Samorense.
Em 2014 abriu a funerária. “Nunca tive um emprego de sonho mas gostei muito de ter trabalhado na tipografia”, conta. Actualmente a trabalhar na funerária gosta de saber que está a servir a comunidade e ajudar as pessoas no momento difícil da partida. “Gosto de ajudar e sinto-me útil, ser um ombro nas horas mais complicadas”, conclui. Enquanto lhe restarem forças no corpo garante que essa é a sua missão.