Uma papelaria com história que já vai na segunda geração de clientes
Chama-se Papelaria As Cortes porque as suas primeiras instalações eram na Rua do Paço, uma zona da cidade onde decorreram as Cortes de 1580 em que se discutiu quem sucederia ao Cardeal-Rei D. Henrique, que não tinha descendentes e estava já bastante velho e doente, acabando mesmo por falecer durante a realização das mesmas.
A papelaria abriu há 30 anos. A proprietária, Ana Oliveira, que foi uma das fundadoras, conta que os meninos que antes entravam pela mão dos pais para irem buscar as encomendas de livros e comprar material escolar, continuam a ser clientes e são eles que agora acompanham os filhos pequenos. Acrescenta que algumas pessoas que por razões pessoais ou profissionais saíram da cidade, quando ali voltam e entram na papelaria, confessam sentir ainda o mesmo cheiro agradável a livros e cadernos.
Segundo ela, há clientes que compram todas as semanas O MIRANTE e há outros que procuram o jornal por terem ouvido falar numa ou outra notícias que lhes interessa ou porque a capa lhes chamou a atenção.
A mudança da Rua do Paço para as actuais instalações no nº 107 da Rua 5 de Outubro, outra rua com nome ligado à história de Portugal, aconteceu há 28 anos. A maioria dos actuais clientes pensa que a papelaria As Cortes sempre funcionou no local actual.
“Temos livros escolares, material escolar e de escritório e somos representantes de algumas marcas como a Nicki. Temos também o serviço de PayShop onde os nossos clientes podem efectuar pagamentos e temos muitas estantes com bons livros de todos os géneros”, explica Ana Oliveira, que confessa ser uma leitora compulsiva.
“Leio tudo. Sou muito abrangente nas minhas leituras e até já dei por mim a ler os livros da escola da minha filha”. Devido à sua paixão pelos livros está à vontade para responder aos pedidos de sugestões de livros que lhe costumam fazer, sejam para a pessoa que os vai comprar ou para oferecer. “Neste aspecto marcamos a diferença porque nas grandes superfícies não há um atendimento personalizado”.
A Papelaria As Cortes já não tem tantos clientes como na altura da sua abertura. As grandes superfícies e até as chamadas “lojas do chinês” são os maiores concorrentes. Por outro lado as novas tecnologias também fizeram desaparecer alguns produtos. Deixaram de se escrever cartas à mão, desapareceram os postais de Boas Festas ou de Aniversário, as máquinas de escrever foram substituídas por computadores.
“Curiosamente não sinto grande quebra na venda de jornais, mas livros vendem-se menos, isto apesar de se editarem cada vez mais. As pessoas em vez de ler escrevem livros. Não as critico mas acho que quem decide lançar um livro devia ter algo para dizer e devia primeiro aprender a escrever”, refere Ana Oliveira.