Casal de Frade Baixo mudou de casa mas continua a viver na miséria
João e Deolinda são protagonistas de uma história triste. Vai valendo o apoio de algumas entidades para a situação não ser ainda pior.
O casal de Frade de Baixo, Alpiarça, que vivia numa casa sem portas nem janelas, e onde chovia por falta de algumas telhas, já mudou de casa, porque o telhado da anterior habitação acabou por ruir, mas o cenário não melhorou, conforme O MIRANTE testemunhou.
A habitação onde João Correia, 52 anos, e Deolinda Roque, de 59 anos, vivem agora não tem portas, apenas uns panos, o telhado é feito de chapas de zinco com plástico por cima para que a água não se infiltre. Por cima do telhado, algumas telhas e sacas com areia seguram o plástico. A única protecção para a rua é uma marquise feita de canas, plástico e uns ramos de eucalipto que servem de telhado.
O único dinheiro que entra em casa são 270 euros da reforma de invalidez de Deolinda a quem lhe foi retirado um peito há cerca de seis anos devido a um cancro na mama descoberto em 2010. O marido, João, recebe 9 euros mensais do Rendimento Social de Inserção.
A alimentação é fornecida pela cantina social do Lar da Fundação José Relvas. “Vamos buscar o almoço que é esticado para o jantar. Quando não chega vou apanhar folhas de laranjeira para fazer um chá, para enganar o estômago”, conta a mulher em lágrimas. O açúcar vai “pedir a vizinhos”.
O casal tinha uma pequena horta onde cultivava algumas hortaliças para sua subsistência, mas este ano só plantou “umas couvezitas” porque ainda está a pagar uma dívida de cerca de 200 euros de água à empresa Águas do Ribatejo e “agora não convém gastar muito”, explica João Correia.
Mas nem tudo é mau. O casal não paga o pão há um ano. “A dona da padaria leu a reportagem em O MIRANTE e disse-nos para guardarmos o dinheiro”, conta João. O estado de saúde de Deolinda, depois de retirado o peito, tem vindo a melhorar “mas ainda toma alguns medicamentos” que lhe levam parte do parco orçamento. A Misericórdia de Almeirim, através do seu projecto “Piquete Solidário”, com fundos próprios da instituição, já garantiu o material necessário para alguns pequenos arranjos, nomeadamente o telhado.
A directora geral da Misericórdia de Almeirim, Helena Duarte, em declarações a
O MIRANTE, explica que “foi pedido um orçamento e estamos disponíveis para oferecer esse material. Não podemos ajudar na mão de obra porque os nossos funcionários não estão disponíveis e porque o senhor João Correia disse que ele próprio montava. Ficámos sensibilizados, porque realmente aquele casal vive na miséria”, diz.
O casal solicitou ainda uma casa, propriedade da Santa Casa de Almeirim, onde o pai de Deolinda, agora internado numa casa de acolhimento, habitava. Não vai ser possível porque “existe um regulamento que define prioridades e a lista de espera é muito grande, há outros casos urgentes e este casal tem habitação própria”, explica a directora geral da Misericórdia.
A Câmara de Alpiarça também já ajudou este casal, no ano passado, com diversos materiais de construção para pequenos arranjos na habitação, pagou a instalação de água canalizada e continua a acompanhar a situação no âmbito das suas competências.