Testes de ADN dão como praticamente certo que Salgueiro Maia tem um filho
O MIRANTE revelou há três anos a possibilidade do capitão de Abril ter um descendente
Os testes de ADN deixam uma ínfima margem de 0,1 por cento de dúvida de o herói da revolução do 25 de Abril, Salgueiro Maia, não ser pai de um luso-americano, que pediu a investigação da paternidade no Tribunal de Santarém, em 2013, conforme O MIRANTE noticiou na altura em primeira mão. Até agora nunca tinha sido colocada a possibilidade do militar da Escola Prática de Cavalaria de Santarém ter deixado descendência mas o resultado dos testes do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses leva à confirmação, em 99,99 por cento, de Andrew Philip, a residir nos Estados Unidos da América, ser filho do capitão de Abril.
Apesar dos testes, a Secção de Família e Menores do Tribunal da Comarca de Santarém decidiu não reconhecer ainda a paternidade por questões meramente processuais. Entendeu o tribunal que primeiro o luso-descendente devia ter impugnado a paternidade do homem que o registou como filho, e que na altura era o companheiro da mãe, e só depois avançar com o pedido de investigação da paternidade em relação ao militar de Abril. O jovem, actualmente com 31 anos, vai continuar com a sua situação indefinida juridicamente por mais algum tempo, talvez anos, até que os tribunais superiores reconheçam a paternidade, já que o caso pode chegar ao Supremo Tribunal de Justiça.
Recorde-se que no final de 2015 os restos mortais de Salgueiro Maia foram exumados para recolha de ADN. Os peritos chamados pelo tribunal recolheram as amostras em Castelo de Vide, onde o militar nasceu e está sepultado desde 1992, quando morreu de doença oncológica aos 47 anos de idade. O luso-americano, que tem parecenças físicas muito acentuadas com o capitão de Abril, é identificado no processo com os apelidos Salgueiro Maia, uma vez que na América fez uma alteração ao seu registo incluindo os apelidos Salgueiro Maia a seguir aos dois nomes próprios.
A história terá começado nos Açores, onde o herói da revolução, que saiu com uma coluna militar da Escola Prática de Cavalaria de Santarém para ajudar a derrubar o regime ditatorial em Lisboa, esteve colocado após o 25 de Abril de 1974. Foi no arquipélago que conheceu a mãe do rapaz, pertencente a uma conhecida família açoriana. Os dois terão tido contacto também em Lisboa, onde familiares da açoriana tinham residência. Atendendo à idade do jovem, o seu nascimento, fruto da relação extraconjugal, ocorreu numa altura em que Salgueiro Maia se encontrava em funções em Santarém, depois de ter saído dos Açores em 1979. Segundo uma pessoa próxima da família do jovem, este nem sequer fala português fluente.
Caso não deve servir para denegrir imagem do militar
Na altura em que O MIRANTE revelou em primeira mão a possibilidade de Salgueiro Maia ter deixado um descendente biológico (recorde-se que este e a esposa adoptaram duas crianças), o capitão de Abril Garcia Correia disse esperar que não venham a existir más interpretações. Garcia Correia, actualmente coronel reformado e amigo do capitão Maia, em declarações a O MIRANTE em 2013, disse esperar que não “aconteçam situações de má-fé em que se aproveitem deste facto, a confirmar-se, para denegrirem a imagem do Salgueiro Maia”. Garcia Correia, que no 25 de Abril era o capitão mais antigo na Escola Prática de Cavalaria (EPC) de Santarém, realçava também que a situação “não altera em nada” a imagem que tem do companheiro de armas, sublinhando que, fosse qual fosse o desfecho, ficaria “com a mesma consideração e admiração” por Salgueiro Maia.