Sapiente Manuel Serra d’Aire
Nestes últimos dias abandonei de vez o meu sonho em viver um dia num país tropical, recheado de morenas beldades, de frutas exóticas e bebidas refrescantes. Ser assado em lume brando não é propriamente o destino que idealizo para o meu futuro e foi isso que senti com o braseiro que se instalou nestes meados de Junho no nosso Ribatejo. De repente acordámos em pleno equador sem precisarmos de viajar nem de andar com a mochila às costas.
Além disso, as nossas semelhanças com muitos países tropicais não se ficam apenas pelo clima. Por exemplo, em matéria de corrupção (matéria em que são considerados especialistas) acho que estamos no bom caminho para os vir a superar. Bem podem vir com a história que têm um longo historial de ditadores chanfrados e/ou sanguinários que, com as suas famílias e cúmplices, se abotoaram à conta do poder que, para nós, isso é brincadeira de meninos. Na banca, nas empresas públicas, no futebol ou na política, o que não falta por cá é cromos para a troca.
E nem sequer escapamos às catástrofes naturais, tão usuais nesses destinos paradisíacos, como infelizmente tivemos oportunidade de comprovar no fim-de-semana passado. Acrescente-se que, tal como acontece com a esmagadora maioria dos outros países tropicais, ainda não entrámos na lista de destinos do terrorismo internacional. Valha-nos isso! Por todas estas tazões, não faz sentido mudar de poiso. Trópicos por trópicos, o melhor mesmo é ficar por cá e rezar para que a temperatura baixe.
A Feira Nacional de Agricultura esteve aí em Santarém mais uma vez com um vasto programa de animação onde não faltaram vistosas e bem regadas sessões de pancadaria abrilhantadas por musculada intervenção policial. Para além dos animais, das máquinas, dos espectáculos musicais, das largadas de toiros, dos comes e bebes e dos imprescindíveis campinos não há feira que se preze que não tenha o seu arraial de porrada. Esta feira e muitas outras porque o Ribatejo também já começa a ser conhecido por Ribatexas.
É uma coisa que nos está no sangue e uma tradição que continua bem preservada, ao contrário de outra que este ano não foi cumprida. Ao que li, este ano os campinos não estiveram a fazer guarda de honra na inauguração da feira, pelos vistos porque o ministro da Agricultura chegou antes da hora e os cavaleiros da lezíria ainda deviam estar descansados a acabar de almoçar. O que aliás se compreende. Quem é que, num país em que a pontualidade é coisa tão rara como notas de 500 euros, ia adivinhar que um ministro chegaria antes da hora marcada para uma cerimónia?! Nem a bruxa do Pego se atreveria a tanto, digo eu que até sou um espírito aberto...
E depois, meu caro, parece que andou lá pela feira uma jovem modelo pintada de toureira, só com uma tanguinha e muita tinta por cima do corpo, que deixou os mancebos a escorrer baba pelos cantos da boca, elevando-lhes os níveis da testosterona para valores bastante perigosos. E como a malta tem que gastar as energias de alguma maneira, à falta de melhor alternativa recorre-se à chapada, ao pontapé e à canelada para desanuviar... Afinal de contas, é fácil, é barato e dá escoriações!
Um bacalhau na brasa do
Serafim das Neves