Em Salvaterra de Magos há um santo que é lavado com vinho branco
Este ano o arraial em honra de São Baco pôs populares e paróquia de candeias às avessas. Festa realiza-se todas os anos em Quinta-Feira de Ascensão em Salvaterra de Magos. Este ano a igreja não concedeu apoio mas a festa popular fez-se na mesma, tal como se continua a cumprir a tradição de lavar, semanalmente, o santo com vinho.
São muitos os devotos que todas as quartas-feiras se deslocam ao Convento de Jericó, em Salvaterra de Magos, para rezar a São Baco. É tradição neste templo religioso lavar-se a imagem do santo com vinho. Um costume que os populares e os responsáveis da paróquia não sabem como nem quando começou mas que continua a ser cumprida. “Todas as semanas um senhor de Benavente vem cá trazer um garrafão de vinho branco e continuamos a cumprir a tradição de lavar o São Baco com vinho”, garante Octávio Correia, funcionário da paróquia e responsável por zelar pelo espaço religioso.
Tradição, com mais de quatro décadas, é também a de todos os anos na Quinta-Feira de Ascensão se realizar uma festa no Convento de Jericó, em honra de São Baco. O santo está na capela - que é privada mas que o dono cedeu e está aberta ao público todas as quartas-feiras - e há sempre duas festas: uma no interior do convento e outra no largo à porta do templo. Este ano a festa provocou descontentamento em algumas pessoas que organizam o arraial no largo.
Ivone Fonseca, uma das pessoas que costuma organizar o arraial todos os anos, conta a O MIRANTE que, como é habitual, pediu ajuda monetária ao padre da paróquia de Benavente para comprar o porco que depois é assado para a festa. “O senhor padre disse-me para falar com a pessoa da paróquia que está responsável pelo Convento de Jericó. Foi o que fiz mas o senhor disse que este ano não havia dinheiro para a festa no exterior, só para a festa no interior do convento”, diz.
O funcionário da paróquia, Octávio Correia, explicou a O MIRANTE que a paróquia não tem qualquer apoio financeiro para realizar esta festa. “Os tempos que vivemos não estão fáceis e a festa não é subsidiada por ninguém, nem pela câmara municipal. Todo o dinheiro que arranjamos é com as ajudas que as pessoas deixam a São Baco, por isso este ano não houve condições para comprar o porco”, afirmou.
Ivone Fonseca não baixou os braços e foi pedir ajuda ao presidente da Câmara de Salvaterra de Magos que deu 20 quilos de carne. Também o presidente da União de Freguesias de Salvaterra de Magos e Foros de Salvaterra deu mais 20 quilos de carne e uma centena de pães. “Uma pessoa, que não se quis identificar, acabou por dar os 60 euros que o senhor padre costumava dar e uma caixa com seis garrafas de vinho e conseguimos fazer a festa. Foi mais fraca que nos outros anos mas não queremos deixar a tradição morrer”, garante Ivone Fonseca.
A festa do povo já viveu melhores dias
Emídio Faustino vive em Salvaterra de Magos há mais de 40 anos e recorda os tempos em que o largo se enchia de gente e que os populares arranjavam todo o material necessário para a festa. “Falavamos com as Câmaras de Salvaterra e Benavente e arranjávamos o palco, mesas, cadeiras, casas-de-banho portáteis e fazíamos a festa que sempre foi uma festa do povo. Era uma coisa linda de se ver, ficávamos aqui a noite toda. É uma pena que aos poucos a tradição esteja a morrer”, recorda Emídio Faustino à porta do Convento de Jericó.
A mesma opinião é partilhada por Rui Ferreira que também participava todos os anos na festa e arranjava sempre o material que lhe pediam para ajudar no arraial. “É importante que as pessoas se unam e que esta festa, que é nossa, do povo, volte a ter a força que tinha antigamente”, reforça.
Octávio Correia, que abdica das suas folgas profissionais, para todas as quartas-feiras estar no Convento de Jericó quando este está aberto ao público, afirma que a paróquia dá o melhor de si para ter o espaço religioso arranjado e cuidado, como
O MIRANTE comprovou. “Queremos que a festa se continue a fazer e vamos ajudar sempre que pudermos, naquilo que são as possibilidades da paróquia”, referiu o responsável.