“Um dos principais problemas do nosso tempo é a crise dos valores morais”
Gil Teixeira, 51 anos, presidente da direcção do Centro de Bem-Estar Infantil de Vila Franca de Xira
Gil Teixeira é desde Janeiro do ano passado o novo presidente do Centro de Bem-Estar Infantil de Vila Franca de Xira, instituição que apoia 400 utentes e emprega perto de 120 pessoas. É natural de Vila Franca de Xira e desde novo que se sentiu atraído pelo associativismo. Gosta de servir a comunidade e espera deixar a instituição em melhor situação do que aquela em que a encontrou. É arquitecto de profissão e cuidar da horta, viajar e fazer caminhadas são alguns dos seus prazeres.
Nasci em Vila Franca de Xira e sou defensor de todos os nossos valores culturais e históricos. Tenho boas memórias da minha infância. Cresci na rua como os outros miúdos do bairro. Isto era uma vila pacata mas com muito movimento. Sou do tempo em que a terra fervilhava de gente de sol a sol. Havia sempre gente nas ruas e muita indústria e comércio. Aos 15 anos fui trabalhar na apanha do tomate para poder comprar um skate. Sempre trabalhei nas férias de Verão. Nunca fui de estar parado.
Sempre estive ligado ao associativismo. Move-me este sentido de servir ainda que ele às vezes prejudique a família por causa do tempo que me consome. Comecei por participar numa comissão jovem de moradores. Organizávamos as melhores festas de Santo António aqui da zona. Depois fui dirigente da associação dos amigos do Tejo e fui dos escuteiros de Vila Franca de Xira.
Conseguimos colocar o CBEI novamente com resultados positivos. Fui vice-presidente quando o presidente era Assunção Lopes e acabei por ficar como presidente. Não há pessoas insubstituíveis mas o dever de responsabilidade falou mais alto. Apesar de termos voltado aos resultados positivos esse valor não chega ainda para fazer face às dificuldades que temos, como a adaptação das instalações. Só com os nossos trabalhadores estamos a falar de vencimentos na casa de 1,16 milhões de euros por ano. É uma grande responsabilidade mas eu sou um optimista.
Um dos principais problemas do nosso tempo, por muito que nos custe, é a crise dos valores morais. Nós, enquanto ribatejanos e vilafranquenses, temos esses valores presentes mas ainda há caminho a percorrer. O meu sonho é deixar o CEBI melhor organizado e com uma série de respostas sociais para a comunidade. Também quero que seja um verdadeiro motor da economia social e que gere emprego.
Queremos ter uma clínica com respostas na área do neurodesenvolvimento, psicologia, terapias alternativas e tratamento de snoezelen a funcionar em Setembro. Vai ficar na loja que temos na Rua Sacadura Cabral. É para dar resposta à comunidade e a partir daí começar também a planear o apoio às famílias com familiares portadores de Alzheimer. Também iremos avançar com um centro de dia quando encontrarmos um espaço na cidade. E com uma unidade residencial para este tipo de situações.
Aborrece-me estar no sofá. Procuro ter sempre qualquer coisa para fazer, seja no jardim ou na horta. Tenho poucos tempos livres mas gosto de chegar a casa ao final do dia e dar uma volta pela horta. É uma forma de libertar o stress. Também gosto de fazer caminhadas com a família, nomeadamente pelos montes em A-dos-Bispos. Ou então andar de bicicleta, fazendo um BTT ligeiro quando sobra tempo. A minha maior extravagância é viajar. Tenho prazer em conhecer o mundo. As pessoas precisam de conhecer o mundo real em vez de lidarem apenas com as redes sociais.
Na Indonésia vi a felicidade de crianças quando recebiam um dólar pelos lápis que andavam a vender. Foi algo que não esqueço. Aquilo permite-nos perceber o consumismo. O que gastamos no dia-a-dia em coisas supérfluas. Uma das viagens que também me marcou foi à Venezuela antes desta crise. Um país com muitas realidades.
Quis ser arquitecto porque desde miúdo brincava a construir estradas, túneis e casinhas. Até mesmo em casa com restos de materiais das obras e lego brincava bastante. Sempre disse que queria ser arquitecto. Fascina-me nessa profissão poder melhorar a qualidade de vida urbana e das pessoas. Infelizmente nem sempre temos tido a melhor resposta, Basta ver o que se fez ao território ao longo dos anos sobretudo após o 25 de Abril.