Deixemo-nos de coisas tenebrosas e falemos de salpicão com pão centeio
Na edição da semana passada um patusco, que assina José do Carmo Francisco, arrasa uma senhora que escreveu uma carta para O MIRANTE dos leitores a dizer que no tempo do Salazar não havia tantos incêndios florestais como agora e para provar o que diz menciona um ocorrido a 7 de Setembro de 1966, no tempo daquele a quem ele chama “o monstro de Santa Comba”, em que morreram vinte e cinco militares.
Termina, dizendo à senhora que devia ter vergonha de dizer tais coisas e acrescenta que ele próprio tem vergonha em ver o espaço do jornal ocupado com coisas tenebrosas como aquela.
Eu alegro-me com pândegos como este José do Carmo Francisco e acredito que
O MIRANTE seria um jornal bem melhor com cartitas como a dele. Eu também me lembro de há cinquenta e tal anos haver tantos ou mais incêndios do que agora mas corria o boato que a Pide proibia-nos de os ver. Acho até que se dizia que quem se atrevesse a abrir um cantinho de um olho para espreitar era logo infectado com um treçolho, que era para aprender.
Além disso, como andava muita gente à giesta para fazer a cama para os animais a fim de produzir estrume, dado que os adubos químicos ainda não estavam generalizados e eram caros, e como essa gente não respeitava as indicações da Protecção Civil fascista ao fazer fogueiras para aquecer o caldo, ficava tudo torrado e nem sequer vinha nos jornais como agora. Era uma censura do escafandro. Eu até acho que aqueles “esbirros” fascistas tinham aspiradores dos fumos para não se ver nada ao longe.
Eu também tenho vergonha, como o José do Carmo Francisco. Ele é por ver o jornal adubado com cartas tenebrosas que falam do monstro de Santa Comba. Eu é por ter que mostrar a minha barriga na praia quando andam por lá umas jeitosas. Enfim...cada um com as suas...vergonhas!
Rui Ricardo