Ajudantes da praça lidam com os toiros longe da vista dos espectadores
Não recebem aplausos nem vestem trajes vistosos mas também correm riscos. Os ajudantes de praça são uma parte fundamental das corridas de toiros mas raramente são reconhecidos por isso. Muitos trabalham sem praticamente ganhar nada. O que os move é a paixão pela festa brava.
Duas horas e meia antes do arranque da Corrida do Emigrante e de O MIRANTE, em Tomar, já Alfredo Albuquerque, Manuel Esperança e Francisco Cachola estão reunidos próximo de uma porta de serviço. Fernando Pereira é o “capitão” da equipa de assistentes da tourada que começou por embolar os toiros que vão ser lidados e que depois disso faz um compasso de espera antes de os colocar nos curros onde permanecerão, isolados uns dos outros, antes de entrarem em praça.
Para ser ajudante numa praça de toiros é preciso coragem, dedicação, firmeza e capacidade para apanhar vários sustos durante uma corrida. É um trabalho que não é visível para os espectadores mas essencial para o espectáculo.
“Quem não gostar de apanhar sustos não deve vir para este trabalho, é preciso gostar muito disto”, explica Alfredo Albuquerque, 45 anos, de Tomar, que é ajudante das pessoas que trabalham nos curros quando é necessário levantar e baixar as portas de madeira dos mesmos.
Conta que faz aquelas tarefas há 30 anos mas que não consegue explicar a sua paixão pelos toiros. “Isto é algo tão natural como respirar. Todas as festas de Tomar me agradam mas esta é especial. Há partes da corrida que consigo ver mas em algumas estou tão ocupado que não consigo ver nada”, refere.
Os mais complicados são os toiros teimosos. “Temos de tentar que eles avancem sem aleijar os colegas e por vezes só com trabalho em equipa”, explica. Há sete anos apanhou o maior susto da sua vida. Um colega que se distraiu ao telemóvel esqueceu-se de fechar a porta e Alfredo deu consigo frente a frente com um toiro. “Nunca mais me esqueci do que passei”, recorda. “Foi o sangue frio que me livrou de ser colhido”.
Na praça encontrámos também Francisco Cachola, 54 anos, do Entroncamento. É um aficionado desde criança e até passou pelos forcados da Chamusca, quando era novo. Trabalha em Vila Nova da Barquinha e sempre que pode vai à praça de Tomar ajudar.
“Já apanhei alguns sustos, o maior até foi aqui nesta praça. O toiro não queria entrar e quando o fui buscar ele virou-se a mim. Fugi e por pouco ele não me apanhou”, recorda. Felizmente nada aconteceu e apesar do perigo Francisco Cachola continuou a dar a sua ajuda. “Para mim isto é um passatempo de que gosto muito”, desabafa.
O sénior do grupo é Manuel Esperança, 74 anos, natural de Vila Nova da Barquinha. Diz que já não abre as portas dos toiros como antigamente, sendo agora responsável pela porta de entrada da praça.
E quem pense que a tarefa é fácil desengane-se. “Um dia estava a abrir a porta e o toiro ao passar mandou-me pelo ar. Fiquei entre a porta e a parede, muito quietinho e o toiro passou. Fiquei muito maltratado e houve até quem pensasse que eu tinha morrido”, recorda.
Manuel Esperança sente-se parte de um colectivo que ajuda a concretizar uma tourada. Não recebe aplausos do público nem veste trajes vistosos como os artistas que no final dão a volta à arena mas sente-se recompensado com o companheirismo e vibra com a emoção do espectáculo.