Fleumático Manuel Serra d’Aire
Um pedreiro de Glória do Ribatejo foi condenado pelo tribunal a quatro meses de inibição de conduzir veículos com motor porque foi apanhado a circular de bicicleta com uma taxa de alcoolemia elevada. O mais curioso, no meio disto tudo, é que não consigo vislumbrar a eficácia da sentença, já que o homem não tem nem nunca teve carta de condução, segundo foi noticiado. Parece ser o mesmo, por exemplo, que proibir um invisual (não se deve dizer cego, pois é politicamente incorrecto) de ir espreitar as miúdas nas praias de nudismo.
Mas há mais: o homem, que não sabia que não se podia andar de bicicleta com o grão na asa e que tinha sido absolvido do crime no primeiro julgamento, acusou uma taxa de álcool no sangue de 2,70, mais do que cinco vezes o limite máximo permitido. Pelo que, em teoria, não devia estar em condições de se conseguir aguentar em cima do velocípede. Uma dose dessas é capaz de pôr um elefante a dormir. Ora acontece que, segundo a sentença, o trolha da Glória não só conseguia pedalar como ia a guiar sem mãos, ocupadas a segurar um papel que ia a ler, quando a GNR lhe deitou a unha. Ou seja, o homem devia ser contratado pelo Cirque du Soleil, porque quem consegue fazer essas habilidades todas ao mesmo tempo com a carraspana que levava em cima merece uma oportunidade no mundo do espectáculo.
Outro caso que mete ciclismo foi o que ocorreu em Santarém durante a passagem da Volta a Portugal. Reza a história que um alegado diplomata ferrou uma bofetada num jovem que se foi intrometer num bate-papo entre o suposto diplomata e um polícia. Tudo por causa do carro do diplomata estar mal estacionado na zona onde ia passar o pelotão.
Ora, toda a gente sabe o que é a imunidade diplomática e que a mesma dá para tudo e mais um par de botas, quanto mais para uma trivial infracção de trânsito. Pelo que, obviamente, o homem fez finca-pé, se é que estes termos se podem usar com tão ilustre personalidade. Além disso, o estatuto do suposto infractor sairia maculado se fosse comparado com um daqueles reles plebeus que estacionam em segunda fila e deixam os quatro piscas ligados. Um diplomata é um diplomata, porra! E quem não tem consciência disso merece umas galhetas, e sem luva branca, porque essa coisa da diplomacia é uma treta quando um gajo se passa dos carretos. E um diplomata também tem imunidade para se passar dos carretos. Conclusão: o diplomata foi à vida dele e o jovem ficou com uns ardores faciais causados pelo autógrafo dado por mão fina e diplomática.
Meu caro, acabas o teu último email questionando se o antigo presidente da Câmara de Torres Novas, António Rodrigues, terá alguma relação de parentesco com a falecida Santa da Meia Via, dada a propensão do homem para as visões, nomeadamente de fundos comunitários que nunca por aqui passaram nos últimos anos mas que ele garante ter visto aterrar noutros concelhos que não no seu e por culpa do seu sucessor. Confesso que não sei. Mas começo a suspeitar que o conceito de “factos alternativos”, tornado famoso há uns meses por uma assessora da Casa Branca, já é praticado por cá há muito tempo. É tudo uma questão de fé e de não deixar que a realidade estrague uma boa história!
Um bacalhau na brasa do
Serafim das Neves