Jovens ginastas do Ateneu Cartaxense vão mostrar o que valem no campeonato do mundo
André, Isabel e Martim são exemplos de afinco e dedicação à modalidade. A sua vida é em grande parte passada entre a escola, os treinos e a competição, ficando pouco tempo livre para outras actividades e passatempos. Não é fácil a vida de quem quer singrar nesse mundo.
De pequenino é que se torce o pepino, diz a voz popular, e André, Isabel e Martim são prova disso. Os atletas do Ateneu Artístico Cartaxense, residentes no Cartaxo e em Aveiras de Baixo (Azambuja), começaram muito cedo na ginástica e têm vindo a colher os frutos da sua dedicação. “Eu vesti o meu primeiro maiô aos seis anos e munca mais o larguei”, confessa André Pareike, terceiro classificado no campeonato nacional e um dos atletas que irá participar no Campeonato do Mundo de Ginástica por Grupo de Idades que decorrerá entre 15 e 19 de Novembro em Sófia, capital da Bulgária.
André, 16 anos, conta que o tumbling (disciplina da ginástica) passou a fazer parte da sua vida aos seis anos. “Vim ao Ateneu Artístico Cartaxense pela primeira vez porque a minha mãe, literalmente, obrigou-me, já que eu era um rapaz muito mexido que nunca parava. Entretanto experimentei e gostei”, revela. E é fácil conciliar a prática da modalidade com a escola e as namoradas? O atleta residente no Cartaxo admite que quanto à escola, até agora, tem sido fácil também porque os horários escolares ajudam, agora quanto às namoradas a história é outra. “Isto está complicado para esses lados. Passo tanto tempo aqui na ginástica que não dá para mais nada”, ri-se.
A participar pela segunda vez no Campeonato do Mundo no escalão 11-21 anos, o jovem, que frequenta o 12.º ano, confessa que só durante estas provas é que costuma ter mais cuidados com a alimentação e com a quantidade ingerida nas refeições. “Ninguém nos obriga, somos nós que temos essa atenção já que ajuda que tudo corra ainda melhor na pista”, explica.
E se André não é novo nestas andanças, também Isabel faz piruetas e saltos mortais desde tenra idade. Foi aos quatro anos que começou no tumbling e nunca mais parou. “A minha mãe já tinha praticado ginástica artística e a minha irmã mais velha está a praticar aqui no Ateneu, por isso segui as suas pisadas e começei a praticar tumbling”, conta, dizendo que a irmã mais nova, entretanto, também já se inscreveu na sua modalidade.
Isabel Barbas explica que em relação às outras disciplinas da ginástica, no tumbling o que muda é a velocidade. “O que se pretende é fazer numa série oito elementos, como piruetas e mortais, tudo num tempo de três a quatro segundos e numa distância de dez metros”, refere. A jovem, a residir em Aveiras de Baixo e a frequentar o 12.º ano em Azambuja, confessa já está tão habituada que não sente dificuldades em conciliar a escola com os treinos.
“A organização do estudo é o meu segredo para conseguir conciliar isto tudo. Basicamente, quando estou em casa estudo e quando venho para os treinos aproveito também para me divertir”, revela. A participar pela quinta vez no Campeonato do Mundo e a estrear-se no escalão sénior, a atleta de 17 anos, que é campeã nacional, confessa que este ano as expectativas são mais reduzidas por ser a mais inexperiente, mas vai dar o seu melhor já que o objectivo é continuar para chegar a um nível ainda mais alto.
Atleta de primeira viagem
A estrear-se no Campeonato do Mundo na disciplina de trampolins está o vice-campeão nacional Martim Botelho, 12 anos, que apesar da tenra idade salta como gente grande. Começou a praticar a modalidade com seis anos por causa do professor de actividade física que tinha no 1.º ano e nunca mais deixou. “O meu professor foi o culpado. Na altura, foi ele que me convidou porque viu que eu tinha jeito e, desde logo, adorei”, admite.
Se antes era fácil conciliar com a escola, o jovem acredita que agora que está no 7.º ano “é que vai ser a doer, mas vou conseguir”. A treinar de segunda a quinta-feira cerca de duas horas por dia, com escola, estudo e provas quase todos os fins-de-semana, tempo livre é o que o atleta do Cartaxo menos tem na sua vida. Ainda assim, Martim não não se importa pois, como diz, “quando se faz por gosto tudo se ultrapassa”. “Para mim, só o facto de ter sido apurado já foi um feito, agora é só aproveitar e dar o meu melhor”, conclui.
Falta de apoio aos atletas
“Os ginastas das colectividades deviam ser olhados com outros olhos”, defende o vice-presidente do Ateneu Artistico Cartaxense, Luís Major, referindo que são os pais dos vários atletas que são apurados todos os anos para o Campeonato do Mundo de Ginástica que pagam todas as despesas, desde deslocação, estadia, alimentação a fatos de treino, maiôs e sabrinas de ginástica.
Segundo Luís Major, o que vale à colectividade é a solidariedade de várias empresas do concelho que têm apoiado com quantias monetárias, para além da boa-vontade dos pais que comportam praticamente todos os custos dos atletas, porque da parte do município “não vem nenhuma ajuda”. Só no ano passado, o Ateneu Artístico Cartaxense contou com 590 praticantes em 14 modalidades.