Professor, um privilégio
O mundo é a forma como o olhamos. A escolha é totalmente nossa. Esta falta de consenso é, segundo a cultura da ciência geográfica, o maior consenso da geografia.
Apesar de o polémico “vídeo-árbitro” já estar nas escolas e universidades há muito tempo, ser professor continua a ser um privilégio. Todos os anos nos rejuvenescemos, os alunos a isso nos “obrigam”. A “matéria prima” todos os anos se renova. O desafio é permanente. Este ano fui brindado com um bónus, uma nova disciplina e uma matéria completamente nova. Se vos disser que se trata de geografia humana a coisa roça a bênção. Na verdade, por em cima do meio físico, por onde sempre andei, a Humanidade é uma enorme motivação.
As primeiras aulas comprovam-no totalmente. Alunos do 1º ano da licenciatura em Geografia oriundos das mais diversas origens, que bem caraterizam o nosso país, são o garante de entusiasmo e emoção, assim o professor esteja à altura. Esta diversidade que tanto nos define, como país, é, provavelmente, a nossa maior riqueza. A leitura breve dos primeiros trabalhos práticos, onde se apelou à reflexão livre sobre o meio (cidade) que os acolheu, comprova isso mesmo. Para quem vem de vilas, Évora é grande e agitada e, imagine-se, uma cidade jovem. Para um seixalense, a calma da província “é um choque”, mas “não ouvir o trânsito ao acordar é muito bom”. Os contrastes continuam quando se aborda o contacto humano. Évora é uma cidade afetiva ou humanamente fria? E que cidade, o centro e as ruas que eles percorrem e vivem, os bairros periféricos onde vivem os eborenses, ou a cintura rural? Estes mundos tocam-se numa rede harmoniosa e aprazível ou são ilhas? E por aí fora.
Em boa verdade o mundo é a forma como o olhamos. A escolha é totalmente nossa. Esta falta de consenso é, segundo a cultura da ciência geográfica, o maior consenso da geografia. Digam lá que não é um privilégio estudar e trabalhar estes temas com outras 15 ou 20 pessoas?
Entretanto, a aula terminou e na rua comprovo o que os alunos também escreveram, turistas e mais turistas. Para eles isto é uma cidade viva, o que lhes agrada, mesmo que aqui não vivam eborenses. À porta de um restaurante um casal escolhe a refeição pela fotografia dos pratos; este é o mundo a que chegamos e onde todos temos o dever de ser felizes. Escolha isso.
Carlos A. Cupeto
Universidade de Évora