Cego por falta de assistência no Hospital de Santarém fica com reforma de 277 euros
Processo contra o hospital e queixa na Ordem dos Médicos ainda sem respostas
O tractorista de Fazendas de Almeirim que ficou sem poder trabalhar por ter ficado cego, na sequência de alegada falta de assistência no Hospital Distrital de Santarém, vai receber 277 euros de reforma por invalidez. Manuel João Rebelo, 36 anos, casado e com um filho pequeno, tem vindo a sobreviver desde o final de 2015, quando ocorreu a situação, tendo sido já submetido a várias cirurgias para evitar que o olho que está cego lhe seja retirado e substituído por uma prótese. O doente, que tem a decorrer um processo contra o hospital, no qual pede uma indemnização de cerca de 750 mil euros, não acredita que o caso se resolva nos próximos cinco anos.
Neste caso em que Manuel João Rebelo se queixa de falta de assistência, de especialistas e por não ter sido transferido atempadamente, o Hospital Distrital de Santarém chegou a atirar culpas para o doente, por entender que este é que devia chamar a atenção do médico para a gravidade da situação. Manuel apresentou também queixa na Ordem dos Médicos, em Julho de 2016, tendo agora, passado um ano, recebido uma resposta a dizer que o processo transitou para o Conselho Disciplinar Regional Sul da Ordem. Também nesta situação, o doente não acredita que venha ter respostas a curto prazo.
Recorde-se que o doente do concelho de Almeirim recorreu às urgências com dores numa vista, depois de ter sentido uma pancada de um objecto quando andava a cavar na horta. A situação ocorreu no dia 29 de Dezembro de 2015 e na altura não havia médico especialista em oftalmologia no hospital. O médico das urgências limitou-se a prescrever a lavagem da vista e colocação de um penso. Manuel voltou às urgências 32 horas depois com fortes dores e perda de visão. Mais uma vez não havia especialista de serviço e nessa altura foi de imediato enviado para o Hospital de S. José (Lisboa).
O relatório do S. José indica que o doente apresentava um corpo estranho metálico e “catarata traumática”. A administração do Hospital de Santarém, numa resposta à reclamação que o doente fez na altura, refere que este apresentava uma ligeira hemorragia do olho sem presença de qualquer corpo estranho. O administrador do Hospital de Santarém, José Josué, admitiu a O MIRANTE, quando o caso foi noticiado, em Março, que o número de oftalmologistas é insuficiente e que não há assistência nesta área após as horas de expediente nem ao fim-de-semana, sendo os doentes enviados para Lisboa. Mas, na perspectiva do administrador, o doente tinha sido bem atendido e alegava que na altura, perante as indicações do doente, o caso não parecia grave.