“Desde criança que aprendi a respeitar os outros independentemente dos cargos que ocupam”
Fernando Ferreira da Fonseca, vice-presidente da direcção dos Bombeiros Voluntários de Vialonga
Fernando Ferreira da Fonseca nasceu na Ribeira das Fráguas, concelho de Rio Maior. Foi sozinho para São João da Talha, concelho de Loures, aos 14 anos, para trabalhar como mecânico de motas. Também trabalhou como serralheiro na construção civil, numa oficina de bicicletas e até como manobrador de betoneiras. Foi um dos sócios fundadores dos Bombeiros Voluntários de Vialonga e desde o princípio esteve ligado à direcção. Ainda hoje é vice-presidente e o membro mais reconhecido por toda a corporação. Foi um dos elementos que mais lutou pelo novo quartel, que vai nascer no próximo ano.
Produzo vinho e não bebo uma gota. Quando era muito novo e trabalhava com o meu pai, que era lenhador, costumava beber mas depois sentia a cabeça zonza. É preciso dizer que eu era criança e que deixei de beber aos 12 anos. Agora bebo uma cerveja ao almoço, de preferência Sagres.
Tenho uma quinta na Arruda onde planto legumes. Às quartas-feiras e sábados vou sempre para lá. Também lá tenho árvores de fruto. É onde me entretenho. Também tenho uma casa na Praia da Consolação, em Peniche, num parque de campismo. Fui eu que a construí.
Os meus amigos estão acima de quase tudo. Acima deles só os meus filhos e a minha mulher. Fiz muitos amigos e mantenho-os. E eles gostam da minha companhia. Orgulho-me desta situação porque hoje em dia cada vez há menos amizade entre as pessoas.
Eu e a minha mulher estamos casados há 47 anos e nunca tivemos uma zanga. Ela foi muitas vezes pai e mãe dos nossos dois filhos porque eu saía de casa cedo e entrava tarde e já só os via a dormir. Mas ela sempre me apoiou. Temos um casamento sólido numa altura em que as pessoas se divorciam por tudo e por nada.
Passo a maior parte do meu tempo nos bombeiros. Já fui comandante, presidente da direcção e agora sou vice-presidente. No início, aos fins-de-semana, fazíamos peditórios para conseguirmos dinheiro. Foi assim que comprámos a primeira ambulância. Fui eu que fiz a encomenda e fui eu que a fui buscar, já em 1975, a Benfica.
Gostava de ainda pertencer à direcção quando for inaugurado o novo quartel. Digo isto mas devo acrescentar que ainda nem sei se me vou recandidatar. Só falo na questão do quartel porque foi uma coisa pela qual batalhei durante muito tempo. Seja como for vou ficar sempre satisfeito com a conclusão do novo quartel, seja dirigente ou não.
Sinto-me bem a trabalhar para as pessoas que mereçam que se trabalhe para elas. Posso não agradar a todos mas inconscientemente todos se lembram de mim. Ainda hoje sempre que é preciso alguma coisa é comigo que vêm ter. Respeito toda a gente da mesma forma, independentemente do cargo delas. Foi assim que fui educado e é isso que transmito aos meus filhos.
Enquanto fui comandante aprendi que gerir pessoas é muito complicado. Temos de agradar a gregos e a troianos e nem sempre conseguimos. Procurei sempre mostrar que quem mandava era eu porque quem sabia o que tinha de ser feito e como devia ser feito era eu.
Quando fiz o exame para ter o diploma de bombeiro, chumbaram-me por erro. Convenci-me que tinha chumbado, abdiquei dos direitos que tinha conquistado até aí no meu percurso nos Bombeiros. Depois vim a descobrir que tinha havido um erro na correcção do exame e eu só pensava: “Se entrei na casa a arder para ir salvar os bonecos que lá estava a fazer de pessoas, e chumbei, então o que terá sido dos outros que nem sequer lá entraram?”.
Gosto de todos os pratos de bacalhau e de sardinhas assadas. Cheguei a ir ver as Marchas a Lisboa e gosto muito de fado, da Amália, Camané e Carlos do Carmo.
Se não tivesse deixado as Fráguas (Ribeira das Fráguas, Rio Maior) em novo, teria aprendido a tocar saxofone de certeza. Já estava encaminhado para aí mas tive de ir para Lisboa. Mas tenho saudades das Fráguas. Ainda lá tenho a casa dos meus pais, que divido com os meus três irmãos porque ainda não fizemos as partilhas e de vez em quando ainda lá vou dormir.
Gosto de filmes de acção com o Chuck Norris, o Bruce Willis e o Nicolas Cage. Quando era novo chegava a ir a duas sessões de cinema por dia e mesmo depois de casado ia à sessão da noite e depois à da meia-noite com a minha mulher.
Sou do Benfica mas já vi mais jogos do Sporting em Alvalade que do Benfica na Luz. A culpa é dos meus amigos sportinguistas. Eles convidam-me e eu aceito. E quando alguma equipa portuguesa joga lá fora, torço sempre por ela. Os meus jogadores preferidos são o Jonas e o Pizzi, e embora o Ronaldo seja o melhor do mundo, nenhum jogador agora chega ao nível do Eusébio. Cheguei a vê-lo ao vivo no antigo estádio da Luz, duas ou três vezes. Ele era, sem dúvida, o melhor.
Não gosto de ver touradas ao vivo, só na televisão. Uma vez fui a uma largada em Santarém e houve dois homens que se envolveram num conflito ao meu lado e houve tiros e tudo. Depois disso nunca mais fui ver espectáculos taurinos. A minha mulher vai às touradas aqui em Vila Franca de Xira e eu vou lá pô-la e vou buscá-la.