Uma paixão vivida entre tachos e panelas
Lúcia Carvalho é a cozinheira do Clube União Artística Benaventense e responsável pela coordenação da equipa da Festa das Sopas e do Arroz Doce. É a cozinhar que se sente bem e nem quer pensar no dia em que a idade a obrigue a parar. Jerónimo de Sousa é um dos apreciadores da sua arte.
Assim que entramos no Auditório da Nossa Senhora da Paz, em Benavente, na sexta-feira, 3 de Novembro, ao cair da noite, vemos Lúcia Carvalho de touca na cabeça, com um avental florido por cima do oficial da Festa das Sopas e do Arroz Doce – para não o sujar, como nos explica – e a gesticular para a equipa que coordena se despachar nos últimos preparativos antes do início da festa. É a cozinhar para a família e amigos que se sente feliz e confessa: “Quanto mais gente vier e maiores forem os eventos melhor. Quando não estou a cozinhar até me sinto doente!”
E entre os eventos em que aplicar a sua arte entre tachos e panelas estão os almoços promovidos pelo PCP. Comunista ferrenha, é Lúcia que cozinha nos eventos que o partido e a CDU organizam em Benavente e é ela quem prepara os pratos que Jerónimo de Sousa prova de cada vez que vai ao concelho. “Faço-lhe sempre pratos diferentes e ele elogia-me todos!”, afirma com orgulho.
Lúcia Carvalho, 57 anos, nasceu na Ilha Terceira, nos Açores, e há 27 anos, quando trabalhava para a companhia SATA no aeroporto, conheceu aquele que viria a ser o seu marido, Manuel Carvalho, que a trouxe para Benavente. No princípio custou-lhe a adaptação: “Chorei muito. Só conhecia o meu marido e a minha sogra, não tinha mais ninguém”. Agora já se sente integrada na comunidade e gosta tanto da gastronomia ribatejana como da açoriana.
“As pessoas sabem que eu faço sempre a minha sopa da pedra para a Festa das Sopas e nestes últimos dias passavam por mim na rua e perguntavam-me se a ia fazer. Eu dizia-lhes para estarem descansadas que nunca havia de faltar!”, conta. Mas a sua especialidade culinária é também o seu prato preferido: alcatra à moda dos Açores.
Além de cozinheira do CUAB e da Festa das Sopas e do Arroz Doce, Lúcia também cozinha na Festa da Nossa Senhora da Paz e já cozinhou na Festa da Amizade e da Sardinha Assada. No resto do tempo trabalha numa empresa de catering em eventos privados, área em que deu os primeiros passos na profissão, aos 12 anos. “A minha mãe não tinha tempo para me ensinar e aos meus irmãos, éramos nove, por isso foi em casamentos e festas que comecei a untar formas, a descascar e picar cebolas e a fazer outras tarefas mais leves”. Tirou um curso de cozinha e até hoje só falhou uma edição da Festa das Sopas, a primeira. O marido também participa e em casa divide as tarefas domésticas com ela “porque gosta tanto de cozinhar como eu!”, diz Lúcia.