Atravessar o Estreito de Gibraltar a nadar é o próximo objectivo de João Baeta
O jovem de Santarém já ligou Ataúro a Díli, em Timor-Leste, e as Berlengas a Peniche a nadar. Actualmente na Marinha portuguesa, pretende recuperar a forma para se atirar a novos desafios, pois é no mar que se sente bem.
Foi de lágrima no olho a rever na televisão a sua grande proeza que
O MIRANTE encontrou o “herói do mar” que em, em Maio de 2012, atravessou a nado os 28 quilómetros que separam a ilha de Ataúro de Díli, capital de Timor-Leste. O escalabitano, na altura com 18 anos, foi o primeiro a concretizar esse feito e hoje, quase seis anos passados, continua ligado ao mar mas como efectivo da Marinha portuguesa.
Se na altura os objectivos eram continuar na natação de águas abertas, entrar na selecção nacional e estar presente nos Jogos Olímpicos, hoje João Baeta desdobra-se apenas entre o seu trabalho como marinheiro e a sua família. Ausente de casa durante vários meses em navios de busca e salvamento marítimo, o escalabitano teve de deixar há cerca de quatro anos a natação. “Era difícil conciliar com a Marinha. Entretanto, como a minha equipa, a Scalabiswim, também acabou nessa altura decidi deixar a natação”, explica.
Com o desejo de regressar brevemente à natação de águas abertas João Baeta já sonha com a sua nova travessia, desta vez ao Estreito de Gibraltar. Até lá, diz, terá de recuperar fisicamente até chegar à sua plena forma como quando fazia treinos bidiários. “Tem de ser aos poucos. Vontade não falta mas a Marinha está em primeiro lugar”, adianta o jovem que, em Agosto de 2011, já tinha feito a travessia entre as Berlengas e Peniche a nadar.
Ideia partiu do pai
Sentados junto a João estão a namorada, que assiste atenta à conversa, e os pais que deliram com os feitos do filho, como naquele grande dia no longínquo Timor-Leste. “Essa prova foi só e apenas do meu filho porque a nível de apoios da Câmara de Santarém não tivemos nenhum”, admite o pai do nadador.
João, hoje com 24 anos, conta que foi o seu pai, militar da Guarda Nacional Republicana que estava em missão em Timor, que lhe deu a ideia de fazer aquela travessia e que conseguiu incluí-la no programa das comemorações da independência, sendo patrocinada pela Presidência da República de Timor Leste.
“Depois de ter feito a travessia entre as Berlengas e Peniche, queria fazer outra a nível internacional e o meu pai falou-me nesta travessia”, conta João Baeta, agarrando com orgulho a medalha oferecida pelo presidente de Timor de então, Ramos Horta. Foi aí que decidiu fazê-la. Para o jovem era algo totalmente diferente do que já tinha feito, já que estava habituado a águas frias. João Baeta conta que a única protecção que utilizou foi o protector solar e a vaselina porque esteve várias horas na água.
À medida que ia chegando a hora da partida o nervoso miudinho ia-se apoderando de si, mas nunca temeu afogar-se nem que os tubarões ou as baleias o atormentassem. “Sei bem que o meu pai e as pessoas que o estavam a apoiar nunca me iriam pôr em perigo”, conta, dizendo que o pior que lhe aconteceu foi quando a meio do percurso as correntes muito fortes e irregulares obrigaram-no a fazer muitos quilómetros a mais. “Fiquei duas horas a nadar no mesmo sítio, mas estava focado em terminar e nunca parei”, confessa. No final, foram cerca de seis meses a recuperar das mazelas causadas pelo esforço extremo feito naquela aventura mas que para João Baeta valeu a pena.
Aficionado pela festa brava
Conhecido como “um herói do mar”, João Baeta herdou do pai o gosto pela aventura. Já a natação é da responsabilidade da mãe que o obrigou a frequentar a modalidade depois de o pediatra lhe ter dito que estava obeso e precisava de praticar desporto. Mas não só de braçadas percebe o jovem escalabitano. Aficionado por toiros, em pequeno costumava ir com o pai às festas da cidade de Santarém. Na altura, diz, vontade não lhe faltava de saltar lá para dentro e enfrentar o toiro mas o receio de ficar lesionado e não poder praticar natação acabava por o demover.