As duas funcionárias mais antigas do Centro de Saúde de Alcanena conhecem toda a gente
Há quase quarenta anos que Conceição e Lídia trabalham num serviço por onde passa praticamente toda a população do concelho, da infância até à velhice. Acompanharam várias gerações de utentes e têm notado os efeitos da quebra da natalidade e do envelhecimento da população. Um sintoma evidente disso é que hoje são muito menos os bebés que ali vão à vacina.
Conceição Alegre tem 55 anos e desde os 18 anos que trabalha como assistente técnica no Centro de Saúde de Alcanena. Lídia Antunes tem 67 anos, é natural de São Brás de Alportel, e por amor aportou em Alcanena com 18 anos. Em 1979 começou a trabalhar no laboratório do Centro de Saúde de Alcanena e continua em funções nessa unidade de saúde. São as duas funcionárias mais antigas do Centro de Saúde e conhecem praticamente toda a gente do concelho e todos as conhecem.
“Não são raras as vezes que no supermercado, na rua, ou noutro qualquer lugar, as pessoas se cruzam comigo e aproveitam para saber de alguma coisa que precisam do Centro de Saúde”, diz Conceição. A funcionária promove a empatia e acredita que se todos se respeitarem as relações entre utentes, médicos, enfermeiros e outros funcionários pode contribuir para que tudo corra bem.
Lídia Antunes partilha a opinião da colega de trabalho e acrescenta que ao longo de 39 de serviço não se lembra de grandes constrangimentos no Centro de Saúde de Alcanena ou nas extensões onde faz serviço vários dias por semana.
Conceição e Lídia dizem que antigamente as pessoas eram muito humildes e educadas e muitas vezes iam ao Centro de Saúde para, a pretexto de marcar uma consulta, ficarem à conversa com vizinhos e conhecidos. “Era um ponto de encontro e uma forma de saberem as novidades das terras”, lembram.
As funcionárias reconhecem que antigamente havia dias em que o Centro de Saúde estava cheio. Agora, com a marcação de consultas online e a população cada vez mais envelhecida, vê-se muito menos gente nessa unidade. “Os velhotes vão para as instituições e deixam de vir e os mais novos aparecem à hora da consulta ou munidos do telemóvel para passar alguns minutos”, dizem.
São cada vez menos as crianças para a vacina
Lídia Antunes e Conceição Alegre referem que o grande problema da comunidade é o envelhecimento e a não renovação de gerações. “Noutros tempos era frequente ver o Centro de Saúde cheio de crianças, para as vacinas, consultas, enfim, agora são cada vez menos e isso assusta-nos”, dizem.
As mais antigas funcionárias do Centro de Saúde de Alcanena gostariam que os políticos tivessem em conta apoios à natalidade. “Em Alcanena a câmara oferece um cabaz aos bebés nascidos no concelho, fazem o que podem, mas o poder central devia pensar nisto”, referem.
Lídia Antunes reforça que o serviço que prestam é público por isso estão sempre disponíveis para ajudar quando as abordam na rua, por alguma necessidade do momento. As funcionárias sublinham a O MIRANTE que o Centro de Saúde de Alcanena tem 14 mil pessoas inscritas, não tem falta de médicos de família, há sempre atendimento de enfermagem e a urgência funciona bem, o que resulta num bom ambiente de trabalho e numa relação próxima e descomplicada com os utentes.
Em 2001, o Centro de Saúde de Alcanena ganhou novas instalações. De um velho edifício alugado passou para um moderno complexo que permitiu acrescentar novas valências, como RX, electrocardiogramas, fisioterapia e serviço de assistência social. Tudo isto, garantem Conceição e Lídia, resultou numa maior satisfação da população e num ganho qualitativo para os cuidados de saúde no concelho de Alcanena.