Vereadora com mobilidade reduzida despertou consciências em Vila Franca de Xira
Autarca Manuela Ralha admite que a preocupação com o tema é hoje maior do que no passado. Algumas medidas já foram tomadas desde o início do mandato.
Nos últimos meses a questão das acessibilidades esteve na ordem do dia no concelho de Vila Franca de Xira, com a construção de novas rampas de acesso para cadeiras de rodas um pouco por todas as freguesias, criação de uma comissão municipal para a deficiência e adaptação de espaços públicos para terem maior mobilidade.
O novo executivo camarário tem a sua primeira vereadora com mobilidade reduzida e isso acarreta desafios que, até aqui, não estavam sempre na agenda. Como o facto de ter de se realizar reuniões e cerimónias em espaços que sejam acessíveis, por exemplo. A vereadora Manuela Ralha, que continua também a ser a presidente da Mithós – Histórias Exemplares, já admitiu a sua vontade de, nos próximos quatro anos, virar o concelho do avesso no que diz respeito às acessibilidades e fazer cumprir o decreto lei que exigia que, até Fevereiro de 2017, todos os edifícios estivessem munidos de acessibilidades para todos.
“Já era tempo da inclusão ser um motivo de preocupação e estar na agenda diária. Obviamente que agora é mais notória essa preocupação, sendo eu uma pessoa com deficiência e aparecendo em iniciativas dessa área. É verdade que havia uma área de políticas sociais na deficiência que não era muito trabalhada até agora. Porque temos imensas áreas de intervenção. Mas neste momento é uma preocupação”, explica Manuela Ralha a O MIRANTE.
A autarca diz que quando foi desafiada para integrar as listas socialistas à câmara foi já “com a preocupação” do presidente Alberto Mesquita em fazer trabalho na área da deficiência e mobilidade. “Passou a ser um assunto que está sempre na agenda diária da câmara”, assegura.
Manuela Ralha não se mostra incomodada por só agora se começar a ver mais trabalho feito em prol das acessibilidades. Afinal de contas, mais vale tarde do que nunca. E a sua ambição é deixar um concelho com maior mobilidade até ao fim do mandato. Apoio financeiro à adaptação de residências de pessoas com deficiência, adaptação de manuais e guias nos espaços expositivos e culturais do concelho para as diferentes necessidades e a criação da Comissão Municipal para a Deficiência (CMD) são algumas das suas conquistas.
Espaços públicos acessíveis até final deste ano
Até final deste ano a maioria dos espaços públicos municipais estarão acessíveis, garante Manuela Ralha. Da primeira reunião da CMD já saíram as prioridades de intervenção para o futuro: emprego e formação profissional, direitos, respostas sociais e infoinclusão.
A autarca defende que o Estado deve realizar uma fiscalização mais apertada ao cumprimento da lei das acessibilidades nos espaços privados abertos ao público. “Ainda há muito a fazer para mudar mentalidades. Nos prédios urbanos, por exemplo, ainda persiste grande intolerância por parte dos habitantes e dos condomínios, que não permitem que sejam feitas adaptações. É mais frequente do que se pensa a tentativa de impedimento de colocação de rampas, plataformas elevatórias e cadeiras elevatórias nos prédios por parte dos restantes moradores”, lamenta Manuela Ralha.
Passeios continuam por melhorar
Há dois anos a Mithós promoveu uma acção de alerta nas ruas de Vila Franca de Xira para as dificuldades de mobilidade nos passeios e acessibilidade a edifícios públicos. Manuela Ralha diz que algumas coisas foram melhoradas mas que outras continuam a ser uma preocupação.
“Obviamente que neste cargo vou continuar a reivindicar pelas melhorias que já na altura reivindicava. As preocupações são rigorosamente as mesmas. Tanto o anterior executivo da junta como o actual estão profundamente empenhados em fazer alterações e rebaixar os passeios. Mas este é um trabalho que não fica apenas por aí. Às vezes as passadeiras são rebaixadas mas depois o passeio está em más condições”, diz a autarca.
Manuela Ralha diz que há um levantamento feito dos constrangimentos existentes na cidade. “A primeira iniciativa será o trabalho em parceria com as juntas de freguesia para que o trabalho comece a ser feito”, explica a O MIRANTE. A falta de acesso ao tribunal e às finanças continua a ser uma forte preocupação.