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Adolescência
João Protásio Fialho

Adolescência

O sucesso da espécie humana no planeta Terra, pelo menos nos últimos 10.000 anos, com o progressivo domínio, quer sobre as outras espécies vivas, quer sobre os recursos naturais do planeta, deveu-se não às armas de defesa e ataque naturais que a nossa espécie pudesse ter, como garras, dentes ou força e velocidade de deslocação, mas a uma qualidade, essa sim muito desenvolvida na espécie humana, que é a nossa inteligência.
Por sua vez esta só nos deu poder porque potenciou de uma forma extraordinária a nossa capacidade de adaptação. A capacidade de adaptação e de reacção a novos ambientes, recursos, dificuldade, fracassos e sucessos é que tem permitido ao longo da história da nossa espécie a sobrevivência primeiro, e depois o domínio sobre praticamente todo o planeta.
Numa perspectiva completamente diferente, (mais ontogenética, ou seja em termos de desenvolvimento individual de um ser humano em particular e já não numa perspectiva filogenética, de desenvolvimento da espécie como um todo), o bebé nasce e vai adquirindo, com uma lentidão quase única entre as espécies animais do planeta, uma autonomia e capacidade de sobrevivência cada vez maiores, com um desenvolvimento, quer corporal quer do sistema nervoso central, relativamente lentos e cada vez mais consistentes , ao longo de anos, encontrando-se por volta dos 11-13 anos então relativamente amadurecidos, quer a nível físico quer a nível das capacidades intelectuais, então já com uma diferenciação da capacidade de abstracção com o desenvolvimento de raciocínios e esquemas mentais de uma complexidade notável.
Começa então para o jovem uma fase de desenvolvimento intenso, agora já não somente das suas capacidades e faculdades mentais, mas das suas capacidades emocionais e de relacionamento consigo próprio e com o mundo procurando encontrar o seu padrão de relacionamento consigo próprio, com os pais , os familiares , os amigos de ambos os sexos, com a sociedade, com os sucessos e fracassos de um caminho que se vai revelando cada vez mais individual.
A partir de então o jovem vai descobrir, com maior ou menor capacidade de reflexão que entretanto vai adquirindo, que vai ser cada vez mais necessário aliar as capacidades racionais puras a faculdades e percepções emocionais e afectivas, aliança que a resultar de forma bem sucedida, vai potenciar extraordinariamente a sua capacidade de auto e heterorealização, com possibilidades de evolução por vezes surpreendentes. A não ser bem, ou menos bem, sucedida, pode também limitar muito a expressão das outras faculdades lógica e relacionais porventura menos complexas entretanto desenvolvidas no seu passado recente...
Assim se compreende facilmente a extraordinária capacidade plástica de um jovem adolescente capaz de fazer coisas extraordinárias tanto num bom como num mau sentido, com uma capacidade de pregnância, de aprendizagem fecunda e adaptativa, a um nível que posteriormente na sua vida dificilmente terá.
O jovem está naturalmente sedento de modelos e de padrões que lhe possam servir de orientação no meio de um universo de possibilidades. É assim que um mesmo jovem tanto é capaz de atitudes de extrema generosidade e abnegação desinteressadas, como de atitudes de egoísmo e indiferença. Tanto pode ser capaz de se empenhar e trabalhar com afinco, com uma capacidade de trabalho intelectual e físico únicas, que talvez não venha a ter mais na sua vida, como ficar em estado de inanição e indiferença … Daí ser tão importante para um jovem um apoio e seguimento estruturantes, exemplos e valores que lhe sirvam de alguma forma de bússola num mundo imenso de possibilidades...
É sobretudo fascinante como essa etapa da vida pode ser tão fecunda de possibilidades e oportunidades e como ela pode ser aproveitada para potenciar uma vida tão rica e plena de realização...
*Médico Psiquiatra - Doenças Nervosas

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