Quem desafia os toiros nas largadas está por sua conta e risco
Seguros de festas com actividades taurinas não cobrem danos causados pelos animais dentro das tronqueiras, como aconteceu recentemente na Feira de Maio em Azambuja, onde um octogenário foi colhido mortalmente.
As largadas de toiros, presentes em muitas festas ribatejanas, não têm seguro que cubra danos causados pelos animais aos que se arriscam a desafiá-los. Nas largadas as colhidas são frequentes e por vezes causam mortes, como aconteceu na última Feira de Maio, em Azambuja (ver texto abaixo). Luís de Sousa, presidente da Câmara de Azambuja, entidade que organiza a festa, disse a O MIRANTE que o seguro cobre apenas situações que ocorram fora das tronqueiras (vedação em madeira do recinto onde são largados os toiros). “Dentro das tronqueiras, tudo o que acontecer é da responsabilidade de cada um”, diz o autarca, sublinhando que seria tarefa “impossível” ter um militar da GNR “em cada ponta a dizer às pessoas para não entrarem no recinto”.
“Não nos responsabilizamos por quem vai para a manga”
Em Benavente, na última edição da Festa da Amizade, não se registaram mortes, mas segundo o comandante dos Bombeiros Voluntários de Benavente, José Nepomuceno, registaram-se 20 assistências a pessoas colhidas por toiros, das quais metade foram para o hospital. A próxima edição desta festa é de 28 a 30 de Junho e Sérgio Teles, elemento da organização, assegura que a segurança das pessoas é uma das principais preocupações.
Quem monta as tronqueiras são funcionários da Câmara de Benavente, mas a responsabilidade de assegurar que cumprem com os requisitos é da comissão que promove o evento. “Temos um seguro que cobre as largadas de toiros. Todas as falhas que possam existir, por exemplo, no caso de haver alguma tronqueira que se parta, ou de danos causados a pessoas e bens pelos toiros fora da manga, estão contempladas no seguro”, diz Sérgio Teles.
No entanto, no caso de as pessoas passarem as tronqueiras para “enfrentar” o toiro na arena improvisada, aí o seguro já não cobre. “Não nos responsabilizamos por quem vai de sua livre vontade para a manga”, afirma Sérgio Teles, acrescentando que “no caso de haver uma morte, os factos assumem trâmites legais mas, ainda assim, a organização não assume responsabilidades”.
Durante os três dias do evento estará montado um dispositivo de segurança formado por “nove corporações de bombeiros, INEM, CDOS de Santarém e militares da GNR”. Segundo o comandante da corporação de Benavente, “as largadas são sempre o evento que representa risco mais elevado e que causam maior número de feridos”. No entanto, “durante as largadas, ninguém é impedido de ir lá para dentro”, acrescenta o elemento da comissão organizadora.
Em Vila Franca de Xira “dentro do recinto não há seguro”
O Colete Encarnado e a Feira de Outubro, em Vila Franca de Xira, são dois grandes eventos muito ligados à festa brava, que incluem as tradicionais largadas. Também nestas festas “dentro do recinto não há seguro. As pessoas sabem que há condicionalismos mas, ainda assim, às vezes arriscam demais na sua espontaneidade tauromáquica e não tomam os cuidados necessários”, diz a O MIRANTE, Alberto Mesquita (PS), presidente da câmara.
Com o Colete Encarnado à porta, e para “evitar que surjam situações de risco”, Alberto Mesquita adiantou que a câmara vai investir cerca de 14 mil euros para adquirir novas tronqueiras e efectuar as substituições necessárias. “Temos adoptado, ao longo dos anos, melhorias relativamente à segurança” e “muito dificilmente uma tronqueira se partirá”.
Através do serviço municipal de protecção civil é estabelecido um protocolo com bombeiros (seis corporações), PSP, junta de freguesia, Protecção Civil e todos os serviços da câmara envolvidos. “No caso de alguém se aventurar na lide do toiro e a situação se descontrolar não há entidade ou protecção que lhe valha, a não ser a solidariedade de outras pessoas da assistência e dos campinos que “ajudam, com a sua experiência, em momentos de maior dificuldade”, esclarece o autarca.
Câmara de Azambuja não assume responsabilidade por morte na Feira de Maio
Álvaro Cardoso, de 82 anos, perdeu a vida no dia 25 de Maio, durante a Feira de Maio em Azambuja, depois de ter sido colhido por um toiro dentro do recinto. A Câmara Municipal de Azambuja, entidade promotora do evento, diz não assumir responsabilidades por esta morte. Segundo a GNR, o caso foi remetido para o Tribunal Judicial de Alenquer.
Luís de Sousa, presidente da Câmara de Azambuja, lamenta a morte e refere que não é da responsabilidade do município, pois a vítima encontrava-se no interior do recinto quando se deu a colhida. À família da vítima, segundo o autarca, não foi prestado apoio psicológico por parte dos serviços da câmara.
O idoso terá sido surpreendido por uma investida do animal, após ter passado as tábuas de protecção. Não resistiu aos ferimentos e o óbito foi declarado no local. No decorrer das largadas de toiros da Feira de Maio foram colhidas pelo menos mais 22 pessoas.
Mais segurança nas largadas de toiros
Na última Feira de Maio em Azambuja várias foram as tronqueiras que se partiram após investidas dos toiros em pontas, colocando em risco as pessoas que assistiam às largadas. Na última reunião de câmara os vereadores da oposição e vários munícipes alertaram para esta situação, referindo que é preciso melhorar as questões de segurança.
O vereador Rui Corça (PSD) sublinhou que “as largadas de toiros têm de ser seguras para todos” e que “é uma obrigação da câmara garantir a segurança e investir na reparação e substituição de tronqueiras velhas por novas”. Em resposta, Luís de Sousa concordou, dizendo que é preciso fazer um investimento nas tronqueiras e que “este ano houve mais situações de quebra das tronqueiras do que é habitual”.
O vereador Silvino Lúcio (PS) informou que a comissão de vistoria às tronqueiras é composta por ele próprio, pelo carpinteiro da autarquia, pelos dois maiorais da Feira de Maio e pelo comandante municipal da Protecção Civil.
O concelho de Azambuja vai ter este ano mais duas festas com largadas de toiros, uma em Vila Nova da Rainha (Junho) e outra em Azambuja (Setembro).