Ministério Público investiga desaparecimento de 220 mil euros no Vilafranquense
O União Desportiva Vilafranquense está a viver um dos momentos mais complicados da sua história. Autoridades vão investigar desaparecimento de 220 mil euros. Comissão administrativa está de saída e promete entregar chaves do clube na câmara.
O Ministério Público (MP) abriu uma investigação para apurar o que aconteceu aos quase 220 mil euros de um cheque dado pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira ao União Desportiva Vilafranquense (UDV), para pagar parte da obra da marina da cidade que acabaram por desaparecer. Dinheiro público que, até hoje, ninguém sabe onde foi parar. O MP já pediu a colaboração da Polícia Judiciária.
As autoridades querem perceber o rasto do dinheiro, onde e quando foi levantado, gasto e apurar responsabilidades na gestão. Os inspectores, soube O MIRANTE, devem deslocar-se às instalações do clube nas próximas semanas para passar a pente fino toda a contabilidade do UDV, que deve também 700 mil euros às Finanças e quase 300 mil euros à Segurança Social. Os dois principais dirigentes envolvidos no caso, incluindo o antigo presidente do clube, já morreram. Três outros ex-dirigentes da altura, contactados pelo nosso jornal, alinharam num pacto de silêncio e recusaram falar sobre o assunto, notando apenas que o presidente de então “decidia sozinho” sobre a maioria das matérias.
A actual comissão administrativa, que está à frente do clube há 8 anos, garante que nada tem a ver com o caso porque quando avançou para a gestão temporária do UDV já as dívidas estavam por cobrar. Francisco Beirolas, líder da comissão, concorda que o caso da marina seja avaliado pela justiça. “Acho muito bem que sejam apuradas responsabilidades. Aliás, há muitos anos, ainda antes de nós chegarmos, que já se deveria ter investigado o que se passou. Não sei porque se esperou tanto tempo para avançar. Nós somos uma comissão transitória, não temos poderes para solicitar isso ou pagar a advogados para meter este caso na justiça, pelo que concordo que se faça esse trabalho”, diz a O MIRANTE.
O dirigente lembra que a comissão chegou-se à frente para evitar que o clube fechasse portas por falta de direcção, que estava demissionária na altura. Mas não esconde a opinião de que “quem colocou o cheque nas mãos do clube sem ter o cuidado de ver onde e como iria ser usado também tem a sua parte de responsabilidade em tudo isto, por não ter havido controlo”, critica.
Câmara paga duas vezes a mesma obra
Na última reunião pública da Câmara de Vila Franca de Xira o vereador do Bloco de Esquerda, Rui Perdigão, criticou a situação dizendo que se trata de um “caso de polícia” que obrigará a câmara a usar dinheiros públicos para pagar duas vezes a mesma obra.
Alberto Mesquita (PS), presidente do município, diz que vai ser reportado o caso à Judiciária para “saber, efectivamente, para onde foi o dinheiro”, assegurando que o pagamento da marina não pode ser feito “sem que antes possamos ir mais fundo na avaliação desta questão”. Em causa está o pagamento em falta à empresa construtora da marina de Vila Franca de Xira, que reclama 220 mil euros.
A obra deveria ter sido paga entre o UDV e a câmara, tendo o município entregue ao clube, em 2003, o cheque para pagar a sua parte da obra. O problema é que o dinheiro desapareceu e ninguém prestou contas sobre o assunto, obrigando a câmara, na prática, a vir agora pagar duas vezes a mesma obra. Mesquita justifica o novo pagamento da câmara com o “interesse público” da marina, que considera “imprescindível para a promoção turística da cidade”.
Clube à beira de fechar portas
A actual comissão administrativa tem apenas 2 dos 11 elementos iniciais e até esses estão de saída. Para dia 26 de Julho está marcada uma assembleia-geral decisiva, onde serão eleitos novos órgãos. Francisco Beirolas diz que chegou a hora de dar um destino ao clube, abandonar o cargo por estar “cansado” e garante que se não aparecerem listas concorrentes irá fechar as portas do UDV e entregar as chaves na câmara municipal. Na sua liderança, mesmo manietado ao nível das decisões por se tratar de uma comissão administrativa de gestão temporária, o clube não gerou dívidas correntes e até conseguiu amortizar alguma da pesada dívida anterior – que ronda um milhão de euros – e assegura que o UDV é viável, por movimentar mais de 300 crianças só nas modalidades de pavilhão. “Apesar de todas as assembleias ninguém aparece para liderar o clube e nós fomos mantendo isto de portas abertas mas agora chegou o fim, se ninguém aparecer, acabou”, avisa.