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O fim dos toiros de lide agravaria os problemas ambientais do país

O fim dos toiros de lide agravaria os problemas ambientais do país

Importância das grandes pastagens para a preservação de espécies de fauna e flora. Dois criadores de toiros falaram em Vila Franca de Xira sobre a importância da sua actividade. Se as vastas zonas de pastagens fossem ocupadas por outras actividades humanas isso seria prejudicial em termos ambientais.

Os chamados toiros de lide vivem em liberdade em extensões de terreno que lhes permitem estar no seu habitat natural, num regime semi-selvagem. Como essas grandes extensões de terreno não são cultivadas, isso permite que ali se desenvolvam as mais diversas espécies de fauna e flora, constituindo as ganadarias, verdadeiras reservas ecológicas e da biodiversidade.
Esta foi a principal mensagem transmitida durante o colóquio “O Toiro Bravo e a sua Importância para a Natureza”, integrado na XXIX Semana da Cultura Tauromáquica, em Vila Franca de Xira, para o qual a organização convidou dois ganadeiros.
António Ferreira, da Ganadaria José Albino Fernandes Ferreira, de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, Açores, e Aurélio Rocha, da Ganadaria Higino Soveral, em Montemor-o-Velho, falaram, dia 3 de Julho, da importância da criação de toiros em várias vertentes mas acentuaram a sua importância no contexto da fauna e flora existentes nas regiões onde as suas ganadarias estão sedeadas.
A ganadaria açoriana, tal como grande parte das ganadarias daquela região, está localizada no planalto central da ilha Terceira, zona com elevado interesse ambiental a nível nacional e europeu devido ao número de endemismos e espécies raras que ali habitam.
António Ferreira, representante da ganadaria, cita o Professor Eduardo Dias, da Universidade dos Açores, para realçar outros aspectos. “Os toiros bravos foram moldando a paisagem à sua volta e como a criação de gado não tem sido feita de uma forma intensiva, o pisoteio dos animais foi estimulando os nutrientes na terra, o que conduziu ao aumento da biodiversidade”.
A Ganadaria José Albino Fernandes Ferreira, com cerca de 480 cabeças de gado, tem um ‘encaste’ (raça que se desenvolveu à base de isolamento reprodutivo) próprio para as touradas à corda, tradicionais da ilha, e ‘encaste’ Domeq para as touradas de praça. A propriedade ocupa um espaço de 300 hectares no bloco central da ilha. Os animais são alimentados essencialmente à base de pastagem, que é rica devido às características do clima da ilha, comendo esporadicamente granulados, em especial no Inverno.
Aurélio Rocha, da Ganadaria Higino Soveral, explicou que a mesma tem 180 cabeças de gado, nomeadamente vacas, que estão numa zona da freguesia de Abrunheira e toiros da linhagem “Coimbra”, que pastam numa área localizada na freguesia de Arazede.
Segundo ele, os solos da região, que ora são argilosos, ora são arenosos, impedem que animais mais sensíveis do que o toiro bravo se consigam adaptar às pastagens que ali existem. Acrescenta que os solos que antes eram fertilizados pelos nutrientes depositados pelas cheias do Mondego, são hoje fertilizados naturalmente graças à presença dos toiros.
Os dois ganadeiros estão de acordo em considerar que as suas ganadarias são verdadeiras reservas ecológicas e da biodiversidade e que a presença dos toiros evita acções do homem com maior impacto sobre estas áreas com interesse ambiental, colaborando assim como agente de conservação da biodiversidade (conjunto de espécies vivas, nomeadamente plantas, animais e micro organismos, que é responsável por garantir o equilíbrio das espécies em todo o mundo.

Até quando haverá pessoas dispostas a viver isoladas nas grandes herdades?

Se a tauromaquia vier a extinguir-se, não vai ser por falta de espectadores ou por vontade política mas por falta de toiros. A opinião é do ganadeiro açoriano António Ferreira e é baseada na sua experiência.
“A pouco e pouco as pessoas vão deixando de querer estar isoladas nas grandes herdades a cuidar do gado bravo. Daqui a sessenta ou setenta anos podem já ter desaparecido os toiros porque eles precisam de grandes extensões para pastar livremente mas a presença do homem, mesmo mínima, tem que existir”, disse.
Aurélio Rocha, ganadeiro da zona de Montemor-o-Velho, prefere falar na alteração do figurino das touradas, devido à progressiva diminuição do número de espectadores e prevê a redução do número de toiros por corrida.
“É provável que a assistência média por corrida baixe dos actuais dois mil e cem espectadores para metade mas não está em causa a continuidade das touradas. O que poderá acontecer é baixar o número de toiros por espectáculo, de seis para quatro ou cinco. Quanto ao figurino irá manter-se. Corridas à portuguesa com cavaleiros e forcados ou corridas a pé, com bandarilheiros e toureiros nas localidades em que há mais essa ‘aficion’, como em algumas localidades do Ribatejo. Pessoalmente sou contra os espectáculos híbridos”, confessa.

O quinto toiro

Nas touradas à corda, na Ilha Terceira, são utilizados quatro toiros mas a população costuma dizer que normalmente, o quinto agarra mais que os outros. A explicação é simples. Como no dia da corrida há muitos convívios com petiscos bem regados com vinho, cerveja e outras bebidas, por vezes o excesso de álcool deita mais aficionados abaixo do que os toiros.

Um toiro com nome de vaca que é um ídolo nos Açores

Nasceu com os testículos “recuados” e isso enganou quem lhe deu o nome de Elisa. Agora, com dez anos de idade e 71 corridas à corda no currículo, o toiro da ganadaria José Albino Fernandes Ferreira, de Angra do Heroísmo, é já uma estrela e até há aficionados que têm a sua imagem tatuada. No seu palmarés artístico tem o título de Melhor Toiro da Época 2012.

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