Visionário Manuel Serra d’Aire
Depois de meses e meses de penúria, o Tejo leva agora um caudal de meter inveja ao de muitos invernos e com isso perturbou as obras no açude insuflável de Abrantes. Se não se tratasse de um rio, eu diria que estávamos a falar de um daqueles ‘marretas’ que está sempre do contra e a desfazer no trabalho dos outros. Durante o Inverno passado, quando era necessária água para varrer para o mar a trampa que as fábricas badalhocas deitavam para o rio, o Tejo corria (lentamente, mas corria) manso e fedorento. Agora que devia guardar as suas energias e ir de férias, e já agora deixar trabalhar quem precisa, eis que o bom do Tejo tem água à bruta como que a fazer-nos ver que é um rio para ser levado a sério.
Já diz o povo que de Espanha nem bons ventos nem bons casamentos. E essa sentença também deve ter proferido o incauto empresário de Almeirim que foi passear o cão para um areal no meio do Tejo na zona de Santarém e acabou por ficar isolado devido à subida das águas, causada pelas barragens espanholas. Já conhecia muitos sítios para levar o cão a passear, mas confesso que o leito de um rio, ainda que seco, não é daqueles que me ocorreria assim de repente. Embora sempre seja melhor do que andar com o animal a estrumar jardins e passeios.
Depois das recomendações da FIFA às televisões para reduzirem as imagens de mulheres bonitas nas bancadas dos jogos de futebol temo, tal como tu, o que pode estar para vir nos próximos tempos. A ditadura do politicamente correcto e os seus cães (e cadelas) de fila diz que se trata de uma medida para combater o sexismo, mas os termos em que foi noticiada faz dela um verdadeiro atentado discriminatório, desde logo contra as outras mulheres, nomeadamente as que, segundo os padrões de beleza da FIFA (que não conheço) não sejam consideradas bonitas. Ou seja, interpretando à letra as notícias, pode continuar a haver à fartazana grandes planos de ‘camafeus’ nas bancadas, de gajas boas é que não...
Espero que os censores padrecas, inspirados pelos sacristas da FIFA, não se comecem a entusiasmar e a implementar outras medidas castradoras, como decretar o tamanho dos biquínis nas praias ou até a sua proibição, obrigando as moçoilas a voltar aos velhos tempos dos fatos de banho de gola alta em nome da decência e da moral e dos bons costumes.
Já agora, que não proíbam também o voleibol de praia feminino, os concursos miss t-shirt molhada, os desfiles de moda da Victoria’s Secret ou as imagens de mamalhudas em calendários que tão pitorescas tornam as oficinais automóveis e outros estabelecimentos onde é cultivado um apurado sentido estético. Pelo sim pelo não, este Verão vou dedicar redobrada atenção à vizinhança na praia e lavar as vistas como nunca. Nunca se sabe o dia de amanhã...
Um adeus de Verão do
Serafim das Neves