Família desalojada pela construção da A10 nunca recebeu a prometida casa nova
Situação dura há 15 anos. Habitação ficou danificada pelas obras da construção da auto-estrada em Trancoso, Vila Franca de Xira, e casal de idosos foi obrigado a viver num contentor. O homem já morreu.
Quinze anos depois o problema do casal de idosos desalojado por causa da construção da Auto-Estrada 10 (A10) em Trancoso, concelho de Vila Franca de Xira, continua sem solução à vista. A casa que a Brisa, concessionária da auto-estrada, concordou construir para realojar Rosa e José Rodrigues, este último entretanto falecido, que foram forçados a viver num contentor, ainda não está concluída nem se sabe quando estará. Isto apesar da obra já estar, alegadamente, paga. Em causa estarão problemas financeiros da empresa contratada para fazer a obra, a Verano Construções, de Arruda dos Vinhos.
O neto do casal, Nuno Catorze, não esconde a O MIRANTE o desalento e tristeza pela situação. Segundo diz, após o choque mediático provocado pela notícia de
O MIRANTE em 2011, a Brisa acabou por acordar com a Câmara de Vila Franca de Xira financiar a construção de uma nova habitação pré-fabricada para o casal de idosos, orçada em cerca de 60 mil euros.
Uma solução mais rápida, confortável e económica para resolver o problema, tendo sido delegada nos familiares a tarefa de encontrar uma empresa de construções pré-fabricadas para fazer os trabalhos. “Acabámos por escolher a Verano Construções porque era a melhor opção e estava perto. Apresentou-se o projecto à Brisa, ficou tudo decidido e entretanto tratei de todas as burocracias na câmara para que a construção avançasse”, conta o neto.
Segundo Nuno Catorze, a Brisa pagou a primeira tranche da obra, orçada em perto de 30 mil euros, à empresa construtora. O piso de betão foi construído e após concluído a concessionária terá enviado novo cheque, também a rondar os 30 mil euros, para pagar a conclusão da obra. O problema é que a construção da casa parou aí, com Nuno Catorze a garantir que o construtor recebeu o dinheiro e nunca concluiu os trabalhos.
“As paredes já vinham feitas do estaleiro, era só montar, como se fossem peças de lego. O construtor recebeu em Fevereiro o resto do pagamento para concluir a casa mas nada avançou. Não vejo empregados, não vejo movimentos na empresa, estou preocupado. O dono da empresa disse-me que não pode [acabar a obra], que não tem capacidade financeira para a fazer e já nem me atende o telefone”, lamenta Nuno. Da parte da Brisa, conta, “dizem-nos que já fizeram o pagamento” e que portanto “a responsabilidade deles acaba aí”, lamenta.
Brisa e construtor em silêncio
O MIRANTE questionou a Brisa e a Verano Construções sobre este assunto mas não obteve resposta até ao fecho desta edição. “Recorrer aos tribunais não nos serve de nada, a minha avó continuará sem a casa. É uma grande tristeza tudo isto, ficaram a rir-se de nós. O que esperamos é que o construtor tenha consciência para acabar a obra de uma vez por todas. Já recebeu o dinheiro, portanto não tem desculpa para não o fazer”, conclui.
Rosa Rodrigues está velha demais para viver sozinha no contentor, que já não tinha as condições mínimas de habitabilidade. Está hoje temporariamente alojada em casa da filha.
Uma longa trapalhada
Em 2012, quando O MIRANTE noticiou o assunto, já o casal de idosos de Trancoso vivia há nove anos dentro de um contentor, depois da empresa que construiu a A10 lhes ter destruído a casa onde viviam. A dada altura até o ar condicionado que ajudava a manter a temperatura do contentor baixa foi retirado, deixando os dois idosos sem alternativas frescas onde passar o dia.
Na sequência da notícia sobre a situação, a Brisa veio assegurar que estava a estudar uma solução, substituindo-se ao empreiteiro – Acoril - que entretanto já entrara em insolvência. A destruição da casa ocorreu em 2003, quando se deu um abatimento na sequência de um desaterro, a poucos metros da habitação, para fazer um viaduto da A10 (Bucelas - Benavente).
Na altura em que instalou o casal no contentor, a empresa disse que era apenas por dois meses, mas o tempo foi passando, a auto-estrada ficou concluída e a construtora foi declarada insolvente. A companhia de seguros da Acoril chegou a propor uma indemnização até 30 mil euros, que foi recusada pelo casal.
O valor indicado pela seguradora Fidelidade Mundial era justificado com o facto de a habitação ter 50 anos, 54 metros quadrados e não possuir casa de banho e água canalizada. Chegou a decorrer um processo contra a construtora em que a família pedia cerca de 203 mil euros, mas com a insolvência o caso foi arquivado.