Tinha pavor a ambulâncias e morreu dentro de uma num acidente
José Alves morreu numa colisão quando estava a ser transferido entre hospitais do Médio Tejo. O idoso de 91 anos tinha sido transportado de carro particular para o Hospital de Tomar após uma queda em casa, por recusar-se a entrar numa ambulância.
A vítima mortal do acidente com uma ambulância no nó da A13 na Atalaia, Vila Nova da Barquinha, tinha pavor de andar nestas viaturas e acabou por morrer dentro de uma quando era transferido do Hospital de Tomar para o de Abrantes. Cidalina Alves comove-se ao falar do assunto e em lágrimas diz que parece que o pai, José Alves, adivinhava um desfecho trágico numa ambulância quando tinha tanta relutância a entrar nelas. O acidente ocorreu no dia 23 de Julho e apesar de não causar ferimentos no motorista e socorrista que acompanhavam o doente, de 91 anos de idade, estes dois estão de baixa médica por terem ficado afectados psicologicamente.
Corre na freguesia do Beco, Ferreira do Zêzere, onde o idoso vivia com a filha, o rumor de que este iria sozinho na ambulância e que não estaria preso à maca. Diz-se também que a viatura médica circulava em excesso de velocidade, de tal forma que já teria entrado em despiste mesmo antes de embater no outro automóvel envolvido no acidente. José Crespo, proprietário das ambulâncias Crespo, contactado por
O MIRANTE, garante que havia um socorrista ao lado do doente, como é prática da empresa. Sobre o facto de o idoso ir solto na maca, o empresário não consegue ainda dar explicações porque diz não ter tido oportunidade de falar com o seu funcionário que está “muito abalado”.
“Um dia antes do acidente o meu pai estava na praia, em Tróia, andava tão bem… e agora isto”, lamenta Cidalina inconformada. “Quase não tinha uma ruga, era muito bem cuidado”, diz a filha enquanto exibe uma fotografia do pai. “O funeral foi na quinta-feira, dia 26, e não apareceu ninguém para me dar uma explicação ou um pedido de desculpas”, lamenta. José Alves, que ajudava a filha com a sua reforma, foi autopsiado, mas os familiares só deverão ter acesso ao relatório daqui a dois ou três meses. Para apresentarem uma queixa formal têm seis meses. “Vamos esperar pelo relatório para depois agir”, remata a filha da vítima.
José Alves deu entrada no Hospital de Tomar acompanhado pela neta, após sofrer uma queda na casa desta. O início da sucessão de azares deu-se nessa noite. A filha Cidalina, que toma conta do pai há 14 anos, desde a morte da mãe, teve que se ausentar para visitar uma irmã hospitalizada em Lisboa. Deixou o pai ao encargo da filha, só por esse dia, mas quando o idoso se levantou para ir à casa-de-banho, de madrugada, confundiu a disposição das divisões, abriu a porta errada e, em vez de entrar na casa de banho acabou por cair por uma escada. Foi transportado de carro para o hospital porque se recusou a ir de ambulância. Depois de observado, a equipa médica quis despistar a suspeita de traumatismo craniano e enviou-o para Abrantes onde iria fazer uma TAC (Tomografia Axial Computorizada).
A neta foi mandada para casa, com a segurança que mais tarde seria informada do estado de saúde do avô. Durante toda a manhã do dia 23 de Julho a neta tentou sem sucesso obter informações sobre o estado de saúde de José Alves. Entretanto começava a passar na rádio e na televisão a notícia de um acidente com uma ambulância do qual teria resultado uma vítima mortal de 91 anos. Eram demasiadas coincidências e, embora ainda houvesse esperança, a família começava a temer o pior. A confirmação chegou pela voz de uma assistente social do Hospital de Tomar, por volta das 13h00, cerca de seis horas após o acidente.