“Os preços dos funerais em Santarém são dos mais baratos do país”
Carlos Lopes é proprietário da Agência Funerária Lopes e Benavente
Carlos Lopes tem 57 anos, vive em Santarém e tem nove cães. Considera-se um bom garfo e diz que o que lhe dá mais prazer é não fazer nada. Quando era pequeno queria ser polícia sinaleiro mas foi no mundo das funerárias que veio a vingar, criando a sua própria empresa em Santarém, a Agência Funerária Lopes e Benavente, Lda.
Tive uma infância de luxo comparada com a de hoje. Gostava de andar aos saltos no banco de trás do carro do meu pai e andar de bicicleta. Depois, quando caía, não contava a ninguém para não levar tareia da minha mãe. Cheguei ainda a roubar frutas verdes para comer e depois no dia seguinte acabava com uma diarreia. Brincadeiras que hoje já não se vê porque está tudo proibido.
Em casa que não se trabalha, não se come. Quando tinha 17 anos disse ao meu pai que não queria estudar mais e ele mandou-me ir trabalhar. Foi nessa altura que comecei a lavar carros funerários numa agência em Santarém que já fechou portas.
Gosto de levantamento de copos e lançamento de beatas. Como os tempos de descanso são muito poucos, é nessa altura que costumo estar com a minha família e com os meus amigos. E isso tanto pode ser a um sábado como a uma terça-feira.
Nos meus 56 anos tive festa mas não estive presente. Quem está nesta profissão tem de estar de corpo e alma ligado a ela. Nesse dia tive de estar num funeral e só consegui chegar a casa às duas da madrugada mas não houve problema porque a minha família e os meus amigos festejaram na mesma. Eles já estão mais do que habituados às minhas ausências.
Em casa não mexo uma palha. Não faço nem quero aprender. Há um ditado popular que diz que ‘cada um tem de ser doutor na sua arte’. Lá em minha casa, a doutora do lar é mesmo a minha mulher.
Sou amigo de uma boa pinga e de um bom prato. Gosto muito de um cozido à portuguesa, um bom prato de bacalhau com um bom vinho de preferência daqui da zona do Ribatejo.
Oiço tudo menos fado. Ao contrário do que parece, um agente funerário é uma pessoa alegre e o que gosto mais de ouvir são músicas mexidas como um samba. Na tristeza de um fado já nós andamos a vida toda.
Quando era pequeno queria ser polícia sinaleiro. Como era uma profissão em que estavam sempre no mesmo sítio, só a esticar os braços, era o que sonhava ser. Não queria fazer nada.
Santarém está morta. Neste momento esta cidade mais parece um dormitório e ninguém faz nada para mudar. Basta ver o centro histórico e o estado em que está.
Gosto de conhecer novas culturas e outras formas de fazer funerais. Já estive em vários países. A última viagem que fiz foi a Nova Iorque, nos Estados Unidos da América. É uma forma de ir à descoberta de novas realidades.
Um agente funerário deve ter coração e estar habituado a não ter horários. É por isso que muitos tentam singrar nesta actividade mas desistem logo. Tem que se gostar mesmo de trabalhar nesta profissão.
Os preços dos funerais em Santarém são dos mais baratos do país. O que acontece é que as pessoas querem muitas coisas. Depois, quando vão para pagar, assustam-se com o preço. Elas não se podem esquecer que tem que se pagar o coveiro, o padre, a florista e muitas outras coisas. Nós somos os que menos ganhamos. Santarém não é das zonas piores, em parte, devido à concorrência entre agências funerárias.