Impagável Manuel Serra d’Aire
Vivemos tempos esquisitos, inquisitórios, de oportunismo desavergonhado e temo que, de repente, apareça por aí uma qualquer balsaquiana a acusar-me de há 30 anos lhe ter apalpado o traseiro ou os marmelos num qualquer baile de finalistas ou festa popular, num impulso causado pelos níveis exagerados de testosterona juvenil, acicatados pela voluptuosa descoberta dos encantos das sinuosas curvas femininas.
Se isso acontecer não me causará grande surpresa, porque realmente esses momentos aconteceram, embora tenha a percepção de que foi com consentimento mútuo. Mas nunca se sabe, porque passados tantos anos um sim pode transformar-se num não através de um lapso de memória. Felizmente não sou um tipo famoso, candidato a qualquer cargo importante, senão provavelmente estaria sujeito a ver a minha juventude passada a pente fino e escabrosos episódios a surgirem à tona. Ainda há vantagens em ser um zé ninguém. Ou melhor, um Serafim das Neves.
Essas memórias repescadas que têm feito a vida negra a tanta gente até aí insuspeita, e já entrada na meia idade ou mesmo na terceira idade, dá que pensar. Como seria hoje tratado o episódio em que D. Afonso Henriques bateu na mãe? Provavelmente o rei seria entregue à CPCJ e institucionalizado, como hoje se diz...
Até o criador do Egas e do Becas decidiu agora revelar que os dois bonecos que fizeram furor nos anos 70 e 80 afinal eram um casal gay. O que certamente vai colher simpatias em certas franjas da população, que vão passar a olhar com outros olhos para as duas personagens da Rua Sésamo que tanta criança adorou.
Aliás, o criador dos bonecos poderia ter ido mais longe (porque o rótulo de gay hoje já não choca nem rende grande coisa, tal é a quantidade de gente a sair do armário) e inventar que os dois foram vítimas de abusos quando andaram num seminário católico e, mais tarde, tiveram de fazer alguns servicinhos ao seu criador e patrão para singrarem na vida e atingirem o estrelato. Acho que faltou ali um bocadinho de imaginação...
A imaginação que tiveram, por exemplo, os responsáveis pela candidatura de Tomar a um concurso gastronómico-televisivo quando apresentaram o cabrito assado no forno como prato típico dessa zona. Num concelho em que quase não há criadores e onde a esmagadora maioria dos restaurantes não tem cabrito na ementa, nem sequer nos dias festivos, foi realmente necessária imaginação para se chegar aí. Depois do feijão com todos, virá aí agora o cabrito com todos?
Na Chamusca, o presidente dos bombeiros voluntários locais queixa-se de que os presidentes da câmara e da assembleia municipal lhe prometeram, e ainda não cumpriram, que iam isentar de IMI dois blocos de apartamentos que são propriedade dessa associação humanitária. Sinceramente não sei o que é mais estranho nisto: se um homem feito ainda acreditar em tudo o que lhe prometem os políticos ou uma associação de bombeiros ter prédios de onde provavelmente tira rendimentos não querer pagar por isso, como pagam os outros proprietários.
Um até já do
Serafim das Neves