Santarém é um distrito deficitário na resposta às vítimas de ataque cardíaco
A propósito do Dia Mundial do Coração, um órgão vital, O MIRANTE falou com o cardiologista Jorge Guardado e faz-lhe um diagnóstico das doenças do coração.
O enfarte agudo do miocárdio, a par com o acidente vascular cerebral (AVC), é uma das principais causas de morte em Portugal. Acontece porque grande parte da população não está sensibilizada para os factores de risco, como os maus hábitos alimentares, o sedentarismo e o tabaco. Estes hábitos, combinados com a herança genética de cada pessoa, podem torná-la mais ou menos susceptível de vir a sofrer do coração, determinando a maior ou menor capacidade de cada um em resistir aos factores externos de agressividade. Mas acontece também, principalmente na região do Ribatejo, porque, segundo o cardiologista Jorge Guardado, Santarém é um distrito altamente deficitário na resposta aos pacientes de ataque cardíaco.
Hospitais da região sem Via Verde Coronária
Há um programa nacional de tratamento imediato do ataque cardíaco, a Via Verde Coronária, através do qual os doentes, depois de chamada a emergência médica e activada a via verde, são transportados para o sítio onde têm o melhor tratamento. Nem o Hospital Distrital de Santarém nem os hospitais do Centro Hospitalar do Médio Tejo possuem salas de hemodinâmica ou equipas especializadas em cateterismos. Estes hospitais ajudam a estabilizar o doente mas não fazem o tratamento definitivo. Os pacientes têm que ser posteriormente transferidos para Leiria ou para Lisboa, seguindo indicações do CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes).
Neste processo perde-se muito tempo e deixa de se poder actuar na “Golden Hour”, a hora de ouro que corresponde à primeira hora de manifestação da doença. Quando tratado nestes 60 minutos o paciente tem fortes hipóteses de recuperar na totalidade. O tratamento nas primeiras três horas após diagnóstico ainda pode ter bons resultados. Depois disso é muito difícil reverter algumas mazelas.
Para Jorge Guardado, enquanto não houver resposta adequada nos hospitais da região, o ideal é o transporte directo e imediato para o hospital com o serviço adequado, sem “perder tempo no hospital de proximidade”.
Reconhecer os sintomas de enfarte
Um enfarte surge normalmente associado a uma dor opressiva e forte no centro do tórax. Esta dor pode irradiar para o pescoço, para os braços ou mesmo para as costas. É normalmente acompanhado de mal-estar, de náuseas, de uma sensação de desfalecimento e de suores. Em algumas pessoas pode também manifestar-se com dor abdominal. Nos doentes mais idosos os sintomas não são tão exuberantes e muitas vezes são detectados tardiamente. Um desfalecimento súbito ou queda, sem recuperação imediata, pode também ser um sinal de ataque cardíaco.
Uma das grandes causas que motiva as pessoas a consultar o cardiologista é a dor toráxica. É uma das queixas mais frequentes. Contudo, a maioria das dores toráxicas observadas em consulta não são, nem derivam de problema cardíaco. Mas há que fazer exames para excluir a doença coronária. Podem ser resultado de nervosismo ou ansiedade, o que não invalida que haja algum problema associado.
Morrer de ataque cardíaco é a morte perfeita? “Depende do que é entendido como morte perfeita, morrer sem sofrer e de uma forma rápida pode ser a melhor morte, se formos ver por esse prisma e se o ataque cardíaco for acompanhado de morte súbita, pode ser a melhor forma de morrer. Do ponto de vista do que se pode fazer talvez não, porque o ataque cardíaco pode ser evitado, tomando algumas medidas, o que faz com que a pessoa não morra de ataque cardíaco e venha a morrer mais tarde por outro tipo de doença” diz o especialista.