Antigo actor de novelas dá os primeiros passos na medicina em Torres Novas
Depois de duas décadas de representação e de uma década e meia de estudos, José Carlos Pereira está a trabalhar no Centro Hospitalar do Médio Tejo. O internato de formação geral começou há pouco mais de uma semana e ainda é cedo para dizer se quer ficar por Torres Novas.
José Carlos Pereira deu início à primeira experiência profissional na área da medicina com o internato de formação geral no Hospital de Torres Novas. O actor, com uma carreira de 20 anos, quer agora dedicar-se à medicina e pediu, em conferência de imprensa realizada na sexta-feira, 11 de Janeiro, algum recato para o período formativo que chega depois de 15 anos de estudos.
A fotografia que publicou nas redes sociais no primeiro dia de trabalho no serviço de pediatria, a 7 de Janeiro, foi o rastilho que fez rebentar uma onda de comentários e também alguns mal entendidos. A direcção do Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT) achou por isso que devia prestar esclarecimentos. Carlos Gil, membro da administração e responsável pelos recursos humanos do CHMT, reafirmou que “o Dr. José Carlos começou o seu percurso de formação geral pela pediatria, tal como podia ter começado por outra área qualquer. Há que deixar bem explícito que isto não faz dele pediatra, é apenas interno porque não tem formação”.
José Carlos Pereira não pode praticar qualquer acto de medicina sem a supervisão da directora do serviço, Julieta Morais. Este ano de formação geral compreende ainda a passagem por vários outros serviços e a realização de formações. Para exercer pediatria, ou qualquer outra especialidade, Carlos Gil lembra que há que percorrer um percurso formativo nunca inferior a seis anos.
Apesar de se sentir bem acolhido no seio do Hospital de Torres Novas, e de ter boas referências do mesmo, José Carlos Pereira ainda não sabe se é aqui que quer ficar na futura formação específica. “Ainda não saiu a nota do exame de Harrison (que permite o acesso à especialidade) e a única certeza que tenho é que vou escolher uma área clínica e não cirúrgica”. E remata: “se será em Torres Novas, logo se vê”.
“Gostei muito daquela novela onde ele entrava”
Se nas redes sociais o assunto é quente, no Hospital de Torres Novas tudo está mais sereno. Marta Gomes e Sílvia Pinheiro trabalham nessa unidade de saúde, a primeira como técnica superior e a segunda como administrativa. Dizem que o alarido das redes sociais não se fez sentir ali. “Está tudo calmo” diz Marta, que já se cruzou com José Carlos Pereira nos corredores. “Disse-lhe bom dia e nem me lembro se ele respondeu de volta”. Sílvia comenta que ainda não teve oportunidade de o cumprimentar, mas quando isso acontecer dirá, como é hábito fazer a qualquer outro colega, um bom dia ou boa tarde.
No exterior das urgências a bombeira Palmira Ribeiro aguarda notícias do doente que trouxe na ambulância. Comenta a O MIRANTE que já ouviu qualquer coisa sobre o novo médico, mas não reparou em nenhum comportamento diferente dos utentes nos últimos dias. Mais distraído anda Luís Miguel. Faz a admissão dos doentes que chegam à urgência e tinha acabado de saber a novidade. “Foi aqui a colega Inês que me contou, viu nas redes sociais”, conta-nos procurando com o olhar a confirmação da colega.
Júlia Gaspar vai agitando a agulha de croché na sala de espera enquanto aguarda pela filha que ocorreu à urgência pediátrica com a netinha de cinco meses. “Quando soubemos, no início da semana, que estava aqui a trabalhar o Dr. José Carlos Pereira até comentámos que era engraçado ser atendida por ele, mas hoje vínhamos tão preocupadas com a constipação da Beatriz que nem nos lembrámos disso”, diz-nos Júlia sem tirar os olhos do croché. “Gostava de o ver, gostei muito daquela novela onde ele entrava, acho que era o Anjo Selvagem”, confessa a avó.
Preenchidas as 30 vagas no CHMT para formação geral
Todos os anos abrem vagas nos hospitais do país para colocar em formação geral os recém-licenciados em medicina. Os candidatos podem então optar, por ordem de preferência, por 46 instituições. As colocações são determinadas pela nota de média final de curso. Assim, quem tem melhor nota tem maior probabilidade de ser colocado nas primeiras opções. José Carlos Pereira teve uma média final de 13,9 valores e o CHMT foi a sua nona opção. José Carlos referiu em conferência de imprensa que o motivo da escolha foi “sair de Lisboa, não só para fugir à densidade populacional mas também porque sabia que conseguia arranjar alojamento facilmente”. Actualmente a viver em Torres Novas, congratula-se por estar num sítio que fica apenas a uma hora de distância da capital.
Carlos Andrade Costa, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Médio Tejo, informou que foram preenchidas as 30 vagas disponíveis no CHMT para colocação na formação geral. Para o responsável, o objectivo é “ir crescendo e aumentando o número de internos porque os formados numa unidade hospitalar tendem a ficar nessa unidade, o que é muito importante para o rejuvenescimento dos quadros de pessoal médico”.