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Está na hora de deixar cair os preconceitos em torno da doença mental
Maria João Carnot é médica directora do Serviço de Psiquiatria do Hospital Vila Franca de Xira e diz que é preciso olhar sem preconceitos para a saúde mental

Está na hora de deixar cair os preconceitos em torno da doença mental

Profissionais dos centros de saúde e do hospital juntaram-se para debater o tema. Ainda existe um grande estigma em torno da doença mental que não é fácil de reverter. Dois terços da população afectada nunca pede ajuda. Faltam psicólogos nos centros de saúde do Estuário do Tejo: há um para cada 38.200 utentes.

Ainda há um grande estigma em torno da doença mental e no Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Estuário do Tejo os centros de saúde de Vila Franca de Xira, Benavente, Alhandra e Azambuja são os que têm maior percentagem de registo dessas patologias. No último ano foram feitas 4.775 consultas de psicologia, mais 485 que no ano anterior. E desse total, 785 foram primeiras consultas.
Os dados foram avançados na sexta edição das Jornadas de Saúde, dedicadas ao tema da saúde mental promovidas nos dias 5 e 6 de Abril em Samora Correia pelo ACES e pelo Hospital Vila Franca de Xira.
Os distúrbios ansiosos e as perturbações depressivas são as mais prevalentes nos adultos, enquanto que nos jovens são detectados mais casos de perturbações hipercinéticas (desatenção, hiperactividade ou impulsividade). Mas há também casos de demência, esquizofrenia e distúrbios bipolares, embora em menor número. As mulheres, os grupos de menor idade e as pessoas separadas e viúvas apresentam, segundo os médicos, uma maior frequência destas perturbações psiquiátricas.
“Temos actualmente um psicólogo para 38.200 utentes. As coisas podiam e deviam estar melhores. A lista média de espera por uma consulta de psicologia no nosso agrupamento está em cinco meses. E no Centro de Saúde de Alverca, onde estou, já vamos em nove meses. Isto compromete a qualidade da nossa resposta e a própria motivação dos profissionais. Muitas vezes até nos perguntamos o que andamos lá a fazer”, lamentou Rui Domingues, psicólogo.
Outro dado a emergir nas jornadas mostra que a mortalidade associada à doença mental é baixa e relacionada quase exclusivamente com o suicídio. São mortes potencialmente evitáveis e as estatísticas revelam que a cada 40 segundos morre uma pessoa no mundo por suicídio. Nos jovens entre os 15 e os 29 anos essa é a segunda causa de morte mais comum.

Estigma é difícil de quebrar
Alguns clínicos presentes na sessão confessaram, à margem, que a sexualidade é hoje vista com menos pruridos que a doença mental. Maria João Carnot, médica directora do Serviço de Psiquiatria do Hospital Vila Franca de Xira, reconhece que o estigma em torno da doença ainda é um problema e o principal desafio que os médicos têm de ultrapassar.
“É preciso dizer às pessoas que ter uma doença mental crónica é a mesma coisa que ter uma doença física crónica, não é isso que os torna diferentes dos outros. Não se é diferente das outras pessoas por ter uma doença mental. A pessoa tem de se tratar e levar uma vida o mais normal possível”, explica a
O MIRANTE.
A médica nota a importância das jornadas para que os profissionais do hospital e dos cuidados de saúde primários possam estabelecer pontes de ligação entre si para melhor servir a comunidade. “Todos temos na nossa vida situações de stress e desafios que nos causam desconforto, mas não é isso que nos torna doentes mentais com necessidade de tratamento psiquiátrico”, nota.
A sessão de abertura das jornadas contou com a presença de, entre outros, Pedro Bastos, da comissão executiva do hospital. “Este evento é um marco porque se trata de um tema muito relevante. Temos de reflectir todos os dias sobre a nossa saúde mental e cada vez mais estamos a tomar consciência da importância deste tema”, defendeu.
A directora executiva do ACES Estuário do Tejo, Maria do Céu Canhão, apelou a uma maior articulação de meios entre toda a comunidade no combate à doença, defendendo a necessidade de aliviar a carga de stress a que muitos dos psicólogos dos centros de saúde estão actualmente sujeitos.
O presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, Luís Pisco, ouviu os apelos e garantiu que a aposta na saúde mental será prioritária na região. “O hospital e o vosso ACES são um exemplo pela forma como trabalham em conjunto. Esta aposta na saúde e não na doença é o que nos deve nortear. A saúde mental é crucial e no futuro será muito importante”, destacou.

Consumo excessivo de ansiolíticos

Uma preocupação manifestada pelos clínicos passa pelo consumo excessivo de benzodiazepinas, uma classe de medicamentos ansiolíticos. Portugal é um dos países europeus com maior consumo destes psicofármacos, que têm um efeito meramente sintomático e que provocam dependência e tolerância, com várias reacções adversas que daí resultam. Nas sextas Jornadas de Saúde estiveram presentes profissionais de saúde dos concelhos de Alenquer, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Benavente e Vila Franca de Xira. Em Portugal estima-se que 1/5 da população sofra de problemas de saúde mental.

Está na hora de deixar cair os preconceitos em torno da doença mental

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