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O folclore para os jovens ou é amado ou é piroso
Pedro Silva refere que é cada vez mais difícil atrair jovens para o folclore

O folclore para os jovens ou é amado ou é piroso

Grupo Tradicional Os Casaleiros, de Casais dos Britos, Azambuja, movimenta 40 pessoas. Com 25 anos feitos em Outubro, preserva os costumes, danças e cantares do Portugal do Estado Novo. Um passado perpetuado com rigor, mas que atrai cada vez menos jovens.

O folclore remete para o passado e pode ser considerado piroso. Pelo menos é assim que alguns olham para ele na actualidade e se servem da palavra ‘folclórica’ num sentido pejorativo, para designar algo pouco credível ou sem qualidade. Para quem o vive e dança é uma memória cultural rica, preservada ao longo de gerações através da música, dança, trajes, costumes e regras intocáveis.
A visão é deixada por Pedro Silva, do Grupo Tradicional Os Casaleiros, a secção de folclore do Centro Cultural e Recreativo de Casais dos Britos, freguesia de Azambuja, que tem mantido intacta a matriz identitária local. “No mundo do folclore não se pode mexer, se o fizermos estamos a estragar o seu propósito e a identidade da época e do povo que se está a representar”, afirma, admitindo no entanto que não inovar traz as suas consequências: “É passar na rua e ouvir dizer que os ranchos são foleiros. Perguntarem o que andamos ali a fazer, vestidos daquela forma”.
Não é fácil, portanto, atrair rostos jovens para esses grupos. “Com tantas distracções que têm hoje, ir para um rancho não passa sequer pela cabeça da maioria dos jovens”, lamenta. Mas quem o faz orgulha-se disso e não tem vergonha. “Temos jovens, poucos, que amam isto e que fazem de tudo para não falhar um ensaio ou um encontro, mesmo estando a estudar ou a trabalhar fora de Azambuja. Têm orgulho do seu passado e não o querem deixar morrer”, sublinha Pedro Silva que também serve como exemplo.
Natural de Azambuja, tem 35 anos, é o presidente da colectividade e já foi director da secção de folclore. Começou por tocar reco-reco e é actualmente bailador, tal como Hélia Maria, a sua companheira. O pequeno Pedro Afonso, filho de ambos, faz parte do quadro etnográfico. “Quando já se tem no rancho alguém da família torna-se mais fácil cativar outros membros. Temos cá avós e netos e até casais que se conheceram aqui”, nota.
O grupo Os Casaleiros é actualmente constituído por quarenta elementos das mais diversas idades. Há músicos, cantadores, bailadores e os que, com os seus trajes, fazem a figuração etnográfica. O elemento mais novo tem cinco anos e o mais velho 80. “Somos uma grande família que canta, dança, preserva a história e ensina valores como o respeito e a união”, diz.
E que não se estranhe que no final de um ensaio se distribuam fatias de bolo e se abra uma garrafa de licor. “Lembro-me disso acontecer desde que vim para o rancho. Quando vínhamos a pé, de bicicleta ou à boleia e ensaiávamos numa cave em cima de estrados. Este grupo era a nossa melhor forma de conviver e de nos integrarmos na sociedade”, recorda.

Tradição é levada a rigor
Com 25 anos celebrados a 16 de Outubro, o Grupo Tradicional Os Casaleiros preserva e respeita o espírito do folclore. Estreou-se com 50 elementos e um dos seus fundadores foi Sebastião Mateus Arenque, o poeta popular e etnógrafo azambujense que faleceu em Junho último, aos 97 anos.
Os trajes domingueiros e de trabalho, e as ferramentas agrícolas, representam usos e costumes de antigamente. As músicas e as danças são recriações sensatas do gosto do povo pelo fado, as valsas, os verde-gaios e o fandango casaleiro. E este último não pode faltar numa actuação. “É a dança que vinca os nossos costumes. Se morrerem os grupos de folclore no Ribatejo morre com eles o fandango”, diz.
O grupo de Casais dos Britos é um dos mais de dois mil grupos que integra a Federação do Folclore Português (FFP) e para isso foi preciso obter um parecer técnico em como cumpre a recriação etnográfica da época que representa. Pedro Silva concorda que assim seja e vinca que de outra forma não faz sentido um rancho andar de palco em palco a mostrar-se se estiver despido da sua história.
“Quando temos dúvidas se podemos usar determinada música ou vestuário basta-nos ir ao livro da nossa colectividade que fala ao pormenor do que no rancho se pode ou não usar e fazer”, diz Pedro Silva. O rancho viaja de norte a sul em média seis vezes por ano e realiza na sede da colectividade, a Festa da Amizade que, mais do que um festival de folclore, é um certame dedicado ao convívio.

O folclore para os jovens ou é amado ou é piroso

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