Tenho pulga na cueca, coça, coça, mata, mata...
Preclaro Serafim das Neves
O atleta João Vieira, de Rio Maior, que ganhou a medalha de prata na prova dos 50 quilómetros marcha nos mundiais de atletismo disse, em entrevista a O MIRANTE, que o desporto de alta competição não faz nada bem à saúde. Já antes, a atleta e treinadora do Sporting Clube de Abrantes, Susana Estriga, que este ano, aos 44 anos, se sagrou campeã nacional de veteranos em salto em altura, tinha dito a mesma coisa.
Dir-me-ás que não devo estar preocupado mas estou. É que o conceito de desporto de alta competição é muito relativo. Para mim, por exemplo, descer e subir três andares para ir despejar os sacos com lixo para reciclagem, numa ilha ecológica que fica a mais de duzentos metros de distância, é como disputar uma prova de triatlo nuns jogos olímpicos. Fico com os bofes de fora. E ainda mais se à minha frente for aquela vizinha de bunda redondinha e andar de barco no mar alto, que mora no prédio ao lado.
O pessoal de Santarém vive uma situação interessante por causa dos sucessivos cortes de estradas. Ainda não reabriu por completo o troço da Nacional 114 e já vai fechar a ligação entre a estação de caminho-de-ferro e a Calçada de Santa Clara, que dá acesso ao antigo liceu. O problema, dizem os especialistas, são as encostas com tendência para deslizar. E os deslizes a nível de prazos na execução dos trabalhos também são famosos. Não sei porquê, mas aquela gente deve ter uma tendência especial para o esqui alpino.
No Entroncamento, os dois vereadores do PSD e o vereador do BE publicaram um comunicado conjunto sobre algo fundamental para os cidadãos. Vencendo as suas habituais divergências os três uniram-se para chamar “cagarras” aos políticos do PS por eles terem feito um comunicado a falar de uma chapada que o pai de um aluno deu a uma professora, apesar de eles, todos juntos, já terem publicado um comunicado sobre o mesmo caso.
Se não percebeste, lê outra vez, mas devagarinho, que amanhã ou depois pode ser que chegues lá. Se percebeste, ficaste a saber que não estava a mentir quando referi que o assunto que os uniu é de superlativa importância para o povo. Com estas coisas não brinco. Que se saiba foi a primeira vez que se viu tal coisa e olha que por ali os fenómenos brotam como cogumelos.
Pensando bem, pode estar ali a solução milagrosa para fazer as pessoas voltarem a interessar-se pela política. Comunicados a falar de comunicados que foram feitos apesar de outros comunicados era mesmo o que estava a faltar para agitar a malta. Não sei se os vereadores comunicativos se inspiraram no espectáculo que o humorista António Raminhos deu, uns dias antes, lá na terra mas suspeito que a coisa se vai tornar viral, como nos casos da gripe das galinhas e das redes sociais.
A minha avó materna, quando se referia a alguém muito rico que tinha tudo e mais alguma coisa, dizia, para colorir a dimensão da riqueza da pessoa, que só lhe faltava sarna para se coçar. Esta semana fiquei a saber que houve uma meia dúzia de casos de sarna em Abrantes. Foi num lar de idosos e no hospital e as vítimas não deviam estar a precisar daquilo para nada.
Antigamente nunca ficaríamos a saber disto. Nem disto nem de qualquer surto de piolhos numa escola. Mas isso era antigamente, no tempo da censura. Agora a informação circula livremente e a toda a hora. São as maravilhas das tecnologias e das redes sociais. Um dia destes até vamos ter media digitais dedicados exclusivamente a casos de vítimas de unhas encravadas.
Saudações noticiosas
Manuel Serra d’Aire