Ex-companheiro da ceramista da Chamusca diz que não a queria matar
Rui Vieira começou a ser julgado pelo homicídio de Ana Silva à porta da danceteria S. Martinho, na Golegã, depois de o arguido ter estado duas horas a ver a ex-companheira a dançar com o novo namorado, justificando que a situação deu-se porque andavam a gozar com ele.
Rui Vieira, acusado de matar a tiro de caçadeira a ex-companheira à porta da danceteria S. Martinho, na Golegã, disse na primeira sessão de julgamento, que não tinha intenção de matar Ana Silva, ceramista da Chamusca. Na terça-feira, 12 de Novembro, referiu perante o colectivo de juízes que tem muita pena pelo que aconteceu à vítima e que se pudesse voltava atrás, mas confessou que tudo aconteceu porque ela e o novo namorado “andavam a gozar” com ele. “Isto aconteceu mas não era para acontecer”, declarou o arguido.
Respondendo a perguntas da juíza presidente do colectivo, Rui Vieira, 62 anos, salientou que com a idade que tem pensava que tinha uma companheira para a vida, mas que ela foi acabando o relacionamento aos poucos. Relatou que uma amiga da vítima andava sempre a ligar-lhe para a levar para a “má vida” e que não estava à espera que o relacionamento acabasse de vez. Alegadamente, Rui andava cego de ciúmes e não aceitava que Ana, que tinha uma oficina de cerâmica na Chamusca, onde produzia louça regional e painéis de azulejos, tivesse outro relacionamento.
No domingo, 17 de Fevereiro deste ano, deslocou-se à danceteria e viu-a a dançar com o novo namorado. No tribunal confessou que se riam para ele e que entendeu isso como uma provocação. Pouco antes da meia-noite, quando Ana saiu do estabelecimento, Rui desferiu dois tiros de caçadeira que atingiram mortalmente a ex-namorada, que na altura residia em Torres Novas. O então novo namorado da vítima sofreu ferimentos numa mão. Depois do crime, e segundo confessou no julgamento, Rui foi refugiar-se em casa da irmã, tendo-a avisado que deveria aparecer a GNR para o deter, o que veio a acontecer cerca de uma hora e meia depois.
Na altura também estava na danceteria a sobrinha do agressor, tendo assistido à tragédia. Esta testemunha chegou a falar após o crime com O MIRANTE, tendo contado que o tio já se relacionava há oito anos com Ana Silva, 53 anos. E que a relação tinha momentos altos e baixos e que havia uma certa instabilidade e discussões devido a desconfianças.
No dia do crime, o operário fabril, numa empresa de curtumes em Alcanena, almoçou como habitualmente na casa da irmã, em Parceiros de São João, concelho de Torres Novas, e disse que ia ver a ex-companheira à danceteria. Os familiares tentaram demovê-lo, mas sem sucesso. Chegou ao estabelecimento por volta das 21h00 e durante cerca de duas horas observou a ex-companheira a dançar várias vezes com o namorado.
Rui Vieira residia sozinho em Riachos, concelho de Torres Novas, e tem quatro filhos maiores. A sua mãe morreu há cerca de três anos num acidente de ambulância quando estava a ser transportada para o Hospital de São José em Lisboa. Ana Silva, além de ceramista, trabalhava na unidade de carnes da Sonae, em Santarém, e deixou três filhos maiores.