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O suicídio não é impulsivo e não acontece sem aviso
Profissionais de saúde e a mãe de uma vítima falaram abertamente sobre o suicídio, como prevenir e identificar factores de risco

O suicídio não é impulsivo e não acontece sem aviso

Profissionais de saúde debateram o tema na Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira. É a segunda causa de morte entre os jovens dos 15 aos 29 anos. Ingestão de pesticidas, enforcamento e uso de armas de fogo são os métodos mais usados. Na região, os factores de risco são também as quedas de prédios abandonados e o uso da linha de comboio.

O suicídio ainda é um tema tabu na sociedade e precisa de ser discutido sem medos nem preconceitos, sob pena de toda a comunidade ser conivente com as mortes de quem sofre. A ideia foi defendida na noite de terça-feira, 5 de Novembro, no auditório da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira, durante um debate dedicado ao tema “Suicídio: Riscos e Prevenção”.
Quatro profissionais de saúde e a mãe de um jovem que cometeu suicídio estiveram a falar sobre o tema perante um auditório esgotado onde além de moradores compareceram profissionais de saúde mas também polícias, técnicos de apoio social e familiares de outras vítimas.
Alguns dos sinais de risco a ter em conta são verbais, como a expressão “sinto-me um fardo” e sinais de humor caracterizados por longos estados depressivos, irritabilidade e perda de interesse pelas actividades diárias. Alterações do comportamento, como abuso de álcool ou drogas, isolamento da família e amigos ou auto-agressão são também factores de alerta.
“É fundamental estar atento aos sinais e pedir ajuda. Há casos em que com psicoterapia se consegue ultrapassar o problema. O suicídio não é impulsivo e não acontece sem aviso”, explica Filipa Silva, enfermeira especialista em saúde mental da unidade de psiquiatria do Hospital Vila Franca de Xira.
Ana Bento, enfermeira da Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC) de Vila Franca de Xira, pertencente ao Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo, defende que é preciso falar deste tema sem tabus, combater o silêncio que ainda existe e isso só se consegue “falando e explicando de que forma se pode actuar”. Ainda há um estigma social sobre o problema, em particular a depressão, e muitas famílias escondem-no por vergonha. As estatísticas mostram que em todo o mundo a cada 40 segundos há uma pessoa a cometer suicídio.

Matou-se com comprimidos
Um dos casos da noite foi levantado por Telma Duarte, mãe de um rapaz de 26 anos que se matou tomando todos os comprimidos que o médico lhe receitara. A família e o jovem pediram ajuda e consultaram vários profissionais de saúde que não evitaram o desfecho.
Ana Luísa Neves, psicóloga da UCC de Vila Franca de Xira, admite que nem sempre os profissionais de saúde estão preparados para responder aos utentes em risco. “Há situações em que tudo falha. Mas, felizmente, muitas vezes encontramos casos em que as coisas se resolvem de forma mais positiva”, defende a enfermeira Filipa Silva.
Uma das coisas mais importantes a fazer quando se lida com alguém que está depressivo ou a pensar suicidar-se é apenas ouvir e dar apoio, encorajar a pessoa a falar sobre os seus sentimentos e problemas e reforçar a necessidade de cuidar de si e pedir ajuda médica. Não se deve fazer juízos de valor nem impor a nossa visão sobre o problema. “Sobretudo não deixar a pessoa sozinha se estiver em risco iminente de cometer suicídio”, avisam os especialistas.

A dor de quem perdeu um filho

Rute Figuinha perdeu o filho, Pedro, a 24 de Maio de 2019, um dia antes de completar 19 anos. Pedro sofria de depressão e atirou-se de um prédio abandonado em Alenquer, próximo dos bombeiros daquela vila. Aos olhos da sociedade, Pedro tinha tudo: um bom lar, irmãos, bom percurso escolar, activo desportivamente e com namorada. Mas dentro de si nem tudo estava bem. “Ele premeditou o que ia fazer, escreveu tudo, só recentemente o Ministério Público nos devolveu os apontamentos”, explicou a mãe perante o auditório.
O objectivo do relato foi transmitir na primeira pessoa a necessidade de todos estarem alerta para o problema. “Tinha o sonho de ser um grande jogador do Sporting. Como não conseguiu deixou-se matar pela depressão. Dormia 22 horas do dia e as outras passava-as a andar. A depressão mata e dá cabo das famílias. E os jovens que não querem ser ajudados acabam por morrer”, lamentou a mãe.
Pedro ainda foi acompanhado por médicos mas sem efeito. “Existe um grande preconceito na sociedade e as pessoas conseguem ser muito cruéis. Os pais estão lá mas muitas vezes os filhos não querem ser ajudados”, lamentou.

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