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O escutismo não sai de moda porque dá respostas diferentes
Joaquim Mendes é um dos chefes do Agrupamento 697 dos Escuteiros de Rossio ao Sul do Tejo e venceu recentemente o Prémio Carreira do Troféu Português do Voluntariado

O escutismo não sai de moda porque dá respostas diferentes

Joaquim Mendes é chefe do Agrupamento 697 dos Escuteiros de Rossio ao Sul do Tejo e venceu recentemente o Prémio Carreira do Troféu Português do Voluntariado com o projecto “Férias de Verão”. A ideia é colocar jovens escuteiros a acampar com crianças institucionalizadas para se perceber o choque de realidades.

“As crianças de hoje estão muito protegidas mas nos escuteiros têm oportunidade de aprender a subir às árvores, a acender fogueiras e, por vezes, até levam para casa uns arranhões e umas nódoas negras”. A opinião é de Joaquim Mendes, um dos chefes do Agrupamento 697 dos Escuteiros de Rossio ao Sul do Tejo, Abrantes, recentemente galardoado com o Prémio Carreira do Troféu Português do Voluntariado. Uma distinção por ter criado em 2004 o programa Férias de Verão. “É um grande orgulho ver este projecto reconhecido a nível nacional e saber que outros grupos pegaram nesta ideia e estão a fazer o mesmo”, afirma a O MIRANTE.
A iniciativa tem crescido ao longo dos anos e já se espalhou um pouco por todo o país. Quando criou o projecto, Joaquim Mendes pretendia que os jovens escuteiros não se limitassem ao voluntariado habitual. “Gostava que fosse mais do que o fazer só por fazer. Queria que fizessem algo que tivesse impacto na vida deles e na comunidade onde estão inseridos. Foi assim que surgiu esta ideia”, explica.
Actualmente existem dez projectos semelhantes noutros tantos grupos de escuteiros. São cerca de 200 voluntários por todo o país e 213 participantes. “Férias de Verão” são três dias a acampar onde os caminheiros (jovens dos escuteiros que têm entre 17 e 21 anos) se voluntariam para este projecto, em que são convidadas crianças que estão institucionalizadas a passarem esses três dias com o grupo de escuteiros.
“Estes três dias com as crianças que vivem em instituições e têm histórias de vida dramáticas são um choque de realidade para muitos caminheiros, porque muitas vezes queixam-se do que não têm. Ali tomam contacto com uma realidade em que as crianças lhes pedem apenas um abraço e lhes contam a sua história de vida. Têm contacto com uma realidade diferente”, conta Joaquim Mendes. Além disso, são três dias diferentes para as crianças institucionalizadas.
O “Férias de Verão” começou em 2004 e foi convidada apenas uma instituição de Abrantes. Actualmente vêm crianças, entre os seis e os 17 anos, de duas instituições de Abrantes, duas de Torres Novas, uma de Alpiarça e uma de Constância. Desde 2015 que passaram a desenvolver este projecto em Codes, uma aldeia quase desabitada do concelho do Sardoal, por isso passaram a chamar ao projecto “Férias de Verão Codes”. Se o projecto for aproveitado por grupos estrangeiros será um orgulho para Joaquim Mendes.

“Os pais exageram um bocado na protecção dos filhos”
O Agrupamento de Escuteiros 697 de Rossio ao Sul do Tejo conta com cerca de 90 elementos, um número considerado elevado tendo em conta que no concelho de Abrantes existem diversos agrupamentos de escuteiros. “O escutismo não está fora de moda porque damos uma oferta diferenciadora. Aqui a criança tem a oportunidade de experimentar coisas diferentes. Costumamos dizer que somos especialistas em assuntos gerais. Jogamos à bola, fazemos escalada, podemos andar de cavalo ou ir ao kartódromo. Ensinamos a fazer uma fogueira, a cozer um ovo numa batata ou a cozer pão, que eles adoram porque é algo feito por eles”, explica Joaquim Mendes.
Ser escuteiro dá uma bagagem para a vida e actualmente já se valoriza o facto de terem no currículo o facto de terem sido escuteiros. Joaquim Mendes afirma que os escuteiros são uma segunda família onde há sempre episódios engraçados. “Há crianças que vão para um acampamento e entretanto ligam para os pais porque se zangaram com um colega. É o hábito do telemóvel e de quando acontece alguma coisa recorrerem aos pais. Já tivemos pais que chegam ao acampamento para saber o que aconteceu, porque o filho telefonou, e entretanto já está tudo bem. O conflito já foi sanado. Os pais exageram um bocado na protecção dos filhos”, conta.
O chefe de agrupamento refere que durante os acampamentos os telefones são guardados e à hora de jantar distribuem-se para poderem falar com os pais. É uma forma de desligarem das novas tecnologias a que estão tão habituados.

Um funcionário público apaixonado pelo escutismo

Joaquim Mendes tem 50 anos, é funcionário público e escuteiro desde 1982, altura em que foi fundado o agrupamento de que faz parte. Tinha 13 anos, pertencia aos exploradores e recorda-se bem do seu primeiro acampamento. Na Quinta das Amendoeiras, numa zona de pinhal em Rossio ao Sul do Tejo. Fazia frio mas o prazer da aventura, a descoberta de um mundo novo, fazer coisas diferentes das que estava habituado, o sair de casa, são momentos que guarda com carinho.
O chefe de escuteiros, solteiro e sem filhos, entrou no mundo do voluntariado em 1999 quando foi monitor num campo de férias. No ano seguinte surgiu a oportunidade de ser voluntário num campo de férias para crianças queimadas. Desde então todos os anos participa nesta iniciativa. Nos tempos livres faz voluntariado a nível particular numa instituição de Abrantes. Vai lá todas as semanas e está com as crianças. Conversa com elas e ajuda no que for preciso. “Basta a presença para já estarmos a fazer a diferença na vida destes miúdos”, garante.
Na juventude fez atletismo e chegou a ser campeão distrital de infantis em basquetebol. Gosta de fazer montanhismo mas um problema nos joelhos não lhe permite abusar dessa prática. Joaquim Mendes garante que vai continuar nos escuteiros enquanto lhe for possível porque essa é uma das paixões da sua vida.

O escutismo não sai de moda porque dá respostas diferentes

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