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“Portugal é um país duro para os artistas”
Telmo Lopes vive em Alverca do Ribatejo, é compositor e formou-se no Instituto Gregoriano de Lisboa

“Portugal é um país duro para os artistas”

Telmo Lopes, compositor, já partilhou os palcos de concertos e televisão com nomes grandes da música, de Luís Represas a Compay Segundo e encenadores como La Féria. A Junta de Freguesia de Alhandra entregou-lhe este mês o galardão de mérito cultural.

Ser compositor e músico é ter uma profissão demasiado dura para não se gostar dela. Quem o diz é Telmo Lopes, 46 anos, compositor natural da Calhandriz, concelho de Vila Franca de Xira, que faz toda a sua vida em Alverca do Ribatejo e no estúdio que tem em sua casa, em Arcena. Tem um percurso vasto no mundo da música mas é uma pessoa discreta. Foi distinguido pela União de Freguesias de Alhandra, São João dos Montes e Calhandriz, em Dezembro último, com o galardão de Mérito Cultural.
Começou a tocar cedo com Anabela e Fernando Pereira. Esteve dez anos na banda de Luís Represas e nos anos 90 integrou várias orquestras de televisão, em particular nos programas de Herman José, onde partilhou palco com nomes como Paulo de Carvalho, Fernando Tordo, Carlos do Carmo, Mariza, Simone de Oliveira, Rão Kyao, Pedro Abrunhosa e Compay Segundo, em Havana, Cuba. Trabalhou 15 anos com Filipe La Féria e faz actualmente muitos trabalhos para a Plano 6.
“Portugal é um país duro para os artistas. Há artistas que já estiveram no topo e só porque tiveram palmas na altura hoje têm vergonha de pedir ajuda e dizer que estão com dificuldades. As palmas são giras mas quando saímos do palco somos comuns mortais”, defende.
Telmo Lopes confessa a O MIRANTE que lhe irritam as palmas nos concertos por não deixarem ouvir a música. “Mas percebo quando isso acontece num concerto rock ou numa multidão, como nos aconteceu em Ipanema (Brasil) a tocar para milhares de pessoas com o Luís Represas e a Daniela Mercury. Na Gulbenkian há o culto das palmas entre cada peça. Mas as palmas no início das músicas são barulho. Não percebo, as pessoas pagam bilhete para ir bater palmas”, refere com um sorriso.
Telmo vê-se sobretudo como compositor e músico e menos como maestro, apesar de ter competências para tal. O seu trabalho é exigente: tem de conhecer as particularidades e subtilezas de cada instrumento antes de poder compor para cada um deles. Quando era pequeno queria ser jogador de futebol. Adora essa modalidade mas diz que a forma como o país está a viver a paixão futebolística é insensata. “Também gosto mas não posso ser louco por futebol. O futebol consegue ter o melhor e o pior de nós”, nota.

Dormir atrás das colunas
O gosto pela música vem do pai, que Telmo acompanhava quando era pequeno, nos vários bailes em que ele participava. “Dormi muitas vezes atrás de colunas”, recorda. Adora música e assim que conseguiu entrou no Instituto Gregoriano de Lisboa, onde se formou. “A passagem pela televisão foi uma boa experiência mas não me deixou saudades. Não é ingratidão mas não sou pessoa de conseguir estar sempre no mesmo sítio. Estou sempre a procurar coisas novas”, refere.
Actualmente, confessa, não vê televisão. Tem mais de mil discos em casa. O mais desafiante do seu trabalho é conseguir compor. “É abrir a janela, ouvir um pássaro que faz uma melodia interessante e a partir daí criar. Às vezes meto o microfone à janela às seis da manhã a gravar o som dos pássaros. Gosto de me inspirar na natureza”, revela.
A vida de músico, garante, não é glamourosa. E não estranha a nova vaga de músicos que tocam sem saber ler pauta. “O culto de não ser músico quem não sabe ler pauta é do passado. Tenho alguns amigos que são génios da música que não sabem ler pauta e até tocam melhor do que eu”, conta. Acima de tudo, um músico tem de ser como um atleta de alta competição: se não treinar todos os dias não consegue manter-se em forma. Ouve de tudo, da música clássica ao trash metal, “desde que soe bem”, avisa.
Está muito ligado a iniciativas culturais que se realizam no concelho de Vila Franca de Xira como foi exemplo disso a Gala para a Inclusão que se realizou em Alverca ou o espectáculo de encerramento do Colete Encarnado. É também músico residente da banda do Jam às Sextas, na Fábrica das Palavras. O que o irrita é quem ainda pensa que os músicos devem trabalhar de borla. “Ao fim de muitos anos ainda tenho gente que me vem pedir para tocar à borla ou a troco de um jantar. Acho que deviam ter vergonha. Não vou à frutaria ou ao mercado pedir melões pedindo para depois ir a casa de alguém comer uma fatia do melão. Precisamos de viver como toda a gente”, conclui.

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